Com o início da vacinação e a chegada do verão na Europa, as infecções pelo novo coronavírus na Alemanha mantiveram-se baixas. Mas só até o início do outono. Esta semana, em um único dia, quinta-feira (11/11), foram registrados 50.196 novos contágios pelo vírus nas 24 horas anteriores, o maior número desde o início da pandemia.
Nesta sexta-feira o recorde foi da chamada incidência, ou o número de infectados entre 100 mil habitantes nos sete dias anteriores, que chegou a 263,7.
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Esta é, portanto, a primeira vez que o país enfrenta uma onda de covid-19 mesmo com ampla parte da população (67%) já vacinada e com as doses de reforço já sendo aplicadas. A DW lista cinco razões por que isso pode estar acontecendo.
O efeito dos não vacinados
Ainda que o número de pessoas totalmente vacinadas (67%) contra a covid-19 na Alemanha seja elevado, especialistas têm afirmado desde o início da pandemia que esse percentual não é suficiente para manter o vírus sob controle.
"Nossa taxa de vacinação segue abaixo dos 75% do total da população alemã. Isso, combinado com menos restrições de contato, está levando o vírus a se espalhar quase que exclusivamente entre os não vacinados", diz a médica Christine Falk, presidente da Sociedade Alemã de Imunologia.
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De acordo com dados do Instituto Robert Koch, agência de prevenção e controle de doenças no país, o índice de hospitalizações entre os infectados de 18 a 59 anos não vacinados contra a covid-19 é cerca de quatro vezes maior do que entre os vacinados. Para os acima dos 60 anos, a taxa é seis vezes maior.
O efeito das vacinas
As vacinas diminuem significativamente o risco de casos graves e de mortes por covid-19, mas não protegem totalmente contra as infecções pelo novo coronavírus. O avanço no número de casos aumenta o risco de pegar o novo coronavírs também para quem já está vacinado.
"Os altos índices de contágio ampliam a pressão sobre as pessoas vacinadas, embora a proporção de 'infecções revolucionárias' (casos graves em pessoas vacinadas) seja ínfima", afirma Falk.
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Segundo a especialista, os vacinados que podem ter maiores riscos são os mais velhos, que têm sistemas imunológicos mais fracos, especialmente se já tomaram a segunda dose há algum tempo. A Alemanha está administrando a dose de reforço naqueles que foram totalmente imunizado há mais de seis meses.
Afrouxamento de medidas
Em comparação com o início de 2021, a Alemanha tem medidas de distanciamento social bem mais relaxadas durante a atual quarta onda.
Há um ano, exatamente em novembro de 2020, o governo impôs um lockdown que durou sete meses. Somente a partir de junho de 2021 os serviços chamados não essenciais, como nas áreas cultural e de bares e restaurantes, reabriram.
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Durante esse período, até um toque de recolher noturno foi imposto, e houve restrições quanto ao número de pessoas que podiam se encontrar.
Em combinação com o avanço da campanha de vacinação, essas medidas levaram a uma queda das infecções na primavera alemã.
Hoje a população da Alemanha encara regras menos rígidas. A máscara segue obrigatória em lugares fechados, como no transporte público e em estabelecimentos comerciais, e negócios como restaurantes e cinemas só deixam entrar quem está totalmente vacinado, recuperado ou foi testado nas últimas 48 horas. Mas não há lockdown.
Variante delta é mais infecciosa
A variante delta, uma mutação mais contagiosa do coronavírus, é a predominante na Alemanha hoje.
Ela é mais de duas vezes mais contagiosa do que variantes anteriores, conforme os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, agência de saúde do governo dos Estados Unidos. Além disso, a delta pode causar sintomas mais graves mesmo em pessoas vacinadas.
O efeito sazonal
Outro fator que alimenta a quarta onda na Alemanha é a aproximação do inverno: "O vírus da variante delta adora o frio. Passamos mais tempo em espaços fechados, o que facilita a propagação dele", afirma Falk.
Infecções em alta não só na Alemanha
Outros países europeus, como Áustria, Holanda e Bélgica também têm visto o número de casos crescerem nas últimas semanas. Na Holanda, por exemplo, pouco mais de 1.700 casos haviam sido registrados em 1º de outubro. Nesta quinta-feira (11/11), foram mais de 16 mil.
Por isso, Falk insiste que as pessoas ajam de maneira inteligente durante esta quarta onda. Vestir máscaras e fazer testes assim que algum sintoma aparecer são duas das principais dicas. A maior delas, no entanto, é encorajar as pessoas não vacinadas a se vacinarem.
"Se não aumentarmos a taxa de vacinação o mais rápido possível, vai ser difícil controlar a situação. As vacinas são a melhor coisa que poderia ter acontecido, mas ainda há muitas pessoas se recusando a tomar uma vacina", diz Falk.