Coluna

Tite não tem nem segunda, nem terceira via

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Não seria totalmente surpreendente que Tite fosse para um inédito terceiro mandato consecutivo - Luiz Acosta / AFP
Em outubro, as eleições para presidente da República. E, em novembro, a Copa do Mundo

No próximo ano, os dois principais cargos do país estarão submetidos à aprovação popular. Em outubro, as eleições para presidente da República. E, em novembro, a Copa do Mundo definirá o destino do técnico da seleção brasileira. Para presidente, a maior parte da população quer trocar logo o ocupante da cadeira e até agora mais de dez candidatos já se colocaram na disputa. Mas, para a seleção brasileira, o cenário é uma incógnita.

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Publicamente, Renato Portaluppi nunca escondeu sua vontade de chegar até a seleção brasileira. Antes da Copa América, o então presidente da CBF Rogério Caboclo até teria sinalizado com a troca de Tite por Renato, para agradar seus aliados no governo. Mas de lá pra cá, nem Caboclo é mais presidente, assim como Jair Bolsonaro pode não ser mais no final de 2022. E, Renato também não convenceu a frente do Flamengo. Além disso, a crise que está rebaixando o Grêmio tem as suas digitais. Renato precisaria vencer a Libertadores e ter um desempenho inquestionável no próximo ano para ser escolhido.

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Vale lembrar ainda que num passado não muito distante, mais de uma vez, Renato foi superado tecnicamente pelos portugueses Abel Braga e Jorge Jesus. Considerando a popularidade de ambos e a passagem de Sampaoli pelo país, poderíamos ter um técnico estrangeiro? Muito difícil.


Renato Gaúcho foi contratado oficialmente pelo Flamengo no dia 10 de julho como o "salvador da pátria" / Alexandre Vidal

Em toda história, o argentino Filpo Nuñez foi o único estrangeiro a treinar o time brasileiro, em 1965. E, isso porque era treinador do Palmeiras, equipe convidada a representar o país no jogo amistoso de inauguração do Mineirão contra o Uruguai.

A seleção brasileira, mesmo com a apropriação política dos anos mais recentes, é provavelmente o mais popular símbolo nacional e ter um técnico estrangeiro à frente desta identidade é como se ela se quebrasse. Afinal se somos “o país do futebol”, não precisaríamos recorrer a um cidadão de outro país para nos ensinar a jogar.

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Mais avançada, a seleção feminina já superou este mito. Até porque com a maioria dos nossos selecionáveis disputando campeonatos na Europa, o idioma já não seria um empecilho como em outras épocas. Mas, na seleção masculina o preconceito fala mais alto do que o nosso incontestável atraso técnico.

Voltando para as receitas caseiras, a balança da CBF pende por medalhões. Dificilmente, apostaria em jovens e promissores técnicos como Roger e Mauricio Barbieri, que ainda não têm conquistas nacionais expressivas. E a velha escola só tem demonstrado que envelheceu mesmo. Ninguém imaginaria um terceiro retorno de Felipão, tampouco de Luxemburgo ou Mano Menezes. Nesse caso, Cuca poderia ser uma opção, ainda que o fracasso em momentos decisivos na Libertadores com o Santos, no ano passado, e o Atlético Mineiro, neste ano, sejam sinais de alerta. Um meio termo entre a nova e a velha escola seria Fabio Carille, que assim como na sua passagem pelo Corinthians, poderia ser uma continuidade do legado de Tite. Mas isso depende da sorte do Santos no campeonato brasileiro e de seu desempenho no próximo ano.

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E, claro, os interesses políticos do grupo que estiver a frente da CBF nos próximos anos também são determinantes.

Neste cenário e dependendo de como a seleção se sair na Copa, não seria totalmente surpreendente que Tite fosse para um inédito terceiro mandato consecutivo. Ganhando a Copa, seria uma unanimidade. Perdendo, precisará apresentar um bom futebol, para não contar apenas que seja a única opção na falta de uma segunda ou terceira via para o cargo.

 

*Miguel Stédile é Doutor em História pela UFRGS e editor do Ponto Newsletter

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo