A utilização das arpilleras tem possiblidades que mulheres digam
Fios que atravessam tramas e constroem novos caminhos, cores e sentidos para sonhar e resistir.
Assim são os bordados feitos por mulheres que estão no front da luta contra a exploração da natureza, da violência de gênero e todo tipo de injustiça social.
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Organizado pelo coletivo de mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens, (MAB), a arte Arpilleras é um exemplo dessa prática. Criado em 2013, o coletivo de mulheres do movimento que praticam essa arte está em 19 estados e por suas oficinas já passaram cerca de mil mulheres.
“Esses têm sido os espaços que a gente tem encontrado para documentar através da costura dos abusos que a gente vem observando decorrentes das implicações das barragens nestas regiões. A utilização das arpilleras tem possiblidades que mulheres digam. As arpilleras dizem o que as vozes às vezes não conseguem dizer”, destaca Daiane Honh, da coordenação do coletivo.
A inspiração da metodologia veio da experiência no bordado das chilenas, que durante a ditadura militar no país, usavam estopas e panos velhos para registrar os abusos do governo e os nomes dos desaparecidos políticos.
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Mais inspirações chilenas
A experiência das chilenas também inspirou mulheres do coletivo Linhas do Horizonte, que desde 2016 saem às ruas para bordar mensagens em contra o autoritarismo e em apoio às organizações populares que lutam pelos direitos sociais.
Hoje a proposta do Linhas se espalhou por vários estados e mulheres de todo Brasil já homenagearam por meio de bordado as populações indígenas, vítimas de feminicídio e perseguidos políticos como a Dona Marisa e o ex-presidente Lula.
Sobre a importância do bordado como linguagem politica, Leda Leonel, fundadora do coletivo em Minas Gerais, lembra especialmente do painel feito em homenagem às vítimas do crime ambiental de Brumadinho.
“Os parentes quando achavam o nome, muitos acariciavam aquele nome. Outros nos agradecem, por quê? Porque a pessoa se sentiu acolhida, que através dos números que eles divulgam todos os dias, tem um pessoa”, afirma.
Tornando a política mais humana, sensível e coletiva, o bordado para resistência parece ter um grande caminho para seguir. Afinal ainda há muita luta e beleza para ser construída no mundo.
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Acervo virtual
No último dia 30 de outubro, o MAB lançou o acervo virtual de arpilleras, com uma seleção de peças têxteis sobre a luta das mulheres atingidas em defesa da vida. Composto por quase 300 arpilleras, o acervo é resultado de um longo trabalho e produção criativa das mulheres atingidas por barragens através da técnica têxtil popular chilena, que incorpora elementos tridimensionais e retalhos de tecido aplicados em juta.
Edição: Daniel Lamir