Esvaziamento da pasta de Cultura, extinção do Ministério da Cultura, desmonte da Agência Nacional do Cinema (Ancine), acusações de censura, citações nazistas, alusão à ditadura militar, troca de gestores, moral religiosa para escolha de projetos a serem financiados são algumas marcas da gestão da Cultura do governo Bolsonaro, considerada pelos artistas ouvidos pelo Brasil de Fato Paraná a pior das últimas décadas.
Com uma medida provisória, em 2 de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro (sem partido) extinguiu o Ministério da Cultura (MinC). O conjunto de competências e órgãos articulados e dinamizados pelo MinC, em parte, foi distribuído para outros ministérios, outra parte acabou extinta.
A Secretaria Especial de Cultura está no Ministério do Turismo e entre suas funções está assessorar "o ministro do Turismo na formulação de políticas, programas, projetos e ações que promovam o turismo por meio da cultura", conforme site oficial do órgão.
Além do esvaziamento, a troca de gestores foi marcada por pronunciamentos absurdos. Roberto Alvim protagonizou talvez o episódio mais emblemático de uma pessoa à frente da secretaria.
Reproduziu parte de discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda na Alemanha nazista, ao lançar o Prêmio Nacional das Artes. Ele foi substituído pela atriz Regina Duarte em março de 2020. Ela não conseguiu encaminhar nenhuma ação e, em uma entrevista à CNN Brasil, minimizou as mortes por Covid-19 e tentou atenuar a ditadura e suas práticas de tortura.
Após sua saída, assume o posto o ator conhecido pelo programa global “Malhação”, Mário Frias, que foi denunciado por trabalhar armado e ameaçar funcionários do MinC.
Em sua gestão, um festival de jazz realizado na Bahia teve captação de recursos pela Lei Rouanet negada. No parecer, é justificada a recusa como “desvio de objeto e risco à malversação do recurso público.” No documento, afirma-se que “o objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma.”
O Brasil de Fato Paraná ouviu opiniões e análises de artistas paranaenses sobre o governo Bolsonaro e a cultura, para a edição especial impressa, que circula nas ruas de Curitiba nesta quinta (30). Veja algumas delas:
Projeto de desmonte
Aly Muritiba, premiado como o melhor filme no Festival de Gramado:
“A começar pela extinção do Ministério da Cultura, depois as sucessivas indicações de pessoas desqualificadas para a pasta, paralisação de uma série de políticas publicas de cultura, abandono da Cinemateca com consequências terríveis, como o incêndio que recentemente destruiu parte do acervo do cinema nacional. A única política implementada por este governo é a perseguição aos fazedores de Cultura. Estamos vivendo um verdadeiro desastre.”
Acabar com políticas públicas para Cultura
Nena Inoue, atriz paranaense premiada com o Prêmio Shell em 2019:
“Eu cito algumas frases do próprio presidente que já explicam esse projeto. Quando houve o incêndio da Cinemateca ele disse 'tá, e daí? Querem que eu faça o quê?' Outra frase 'se não puder ter filtro, nós extinguiremos a Ancine', se referindo à censura em filmes, entre outras falas que expressam os ataques à cultura”, cita.
“Se antes tínhamos à frente da Cultura nomes como Juca Ferreira, Gilberto Gil e Ana de Holanda, que ampliaram as políticas para as diversas expressões culturais, agora temos só o desejo de silenciamento da cultura brasileira. Mas os artistas reagem. Mesmo com milhões de trabalhadores da Cultura desempregados, fizemos muita pressão e conseguimos aprovar a Lei Aldir Blanc, proposta pela deputada Benedita, e que garantiu auxílio emergencial a estes”, disse.
Alvo de ataques
Adriano Esturilho, presidente do Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Paraná:
“Bolsonaro já deixava claro seu projeto de ataque aos artistas antes mesmo de chegar ao poder. Durante a campanha eleitoral, elegeu artistas e professores como alvos preferenciais de seus ataques. Isso se materializou em seu governo de uma forma ainda pior do que imaginávamos.”
Fonte: BdF Paraná
Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini