O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) terá o primeiro encontro bilateral com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, na manhã desta segunda-feira (20), em Nova York, nos Estados Unidos. O capitão reformado chegou no domingo (19) ao país onde fará o discurso de abertura da 76ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (21).
::Isolado, Bolsonaro discursará na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU)::
Na última sexta-feira (17), o país britânico anunciou que cidadãos da América do Sul e da África, mesmo aqueles vacinados com imunizantes autorizados no Reino Unido, como Pfizer e Moderna, devem fazer quarentena e passar por testes para entrar no país.
Isso porque apenas pessoas vacinadas com imunizantes da Oxford, Janssen, Moderna ou Pfizer, em países com agências de saúde pública “relevantes”, podem entrar no país sem fazer a quarentena. Ocorre que nenhum dos países com agências “relevantes” são das duas regiões citadas.
O Palácio do Planalto divulgou a agenda do presidente, mas não os detalhes nem os temas que serão tratados entre os dois líderes. Certamente a restrição de visitantes brasileiros ao país será debatida.
Nas redes sociais, Maiara Folly, diretora de programas da Plataforma Cipó, que atua na área de clima, segurança, governança global e questões migratórias, explicou que “mesmo que a pessoa passe semanas em um país da ‘zona verde’, onde há poucos casos de covid, o simples fato de terem sido vacinadas na América do Sul ou África as enquadram na quarentena obrigatória. Ainda que as vacinas tenham sido produzidas na Europa”, disse a pesquisadora.
“Já que o presidente brasileiro não terá quase nenhuma outra reunião bilateral, podia aproveitar seu tempo p/perguntar por que as vacinas aplicadas no Brasil não são reconhecidas no Reino Unido”, disse Folly em seu perfil no Twitter.
O Reino Unido decidiu que qualquer pessoa vacinada na América do Sul e África, mesmo com a vacina de Oxford, Pfizer, Moderna etc são consideradas NÃO VACINADAS. Com isso, terão que fazer quarentena obrigatória e múltiplos testes ao entrar no país.
— Maiara Folly (@mafolly) September 18, 2021
É o racismo institucionalizado.
Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro ainda não se vacinou contra a covid-19. Depois de chegar a Nova York no final da tarde deste domingo (19), o capitão reformado jantou pizza em uma barraca do lado de fora de um restaurante, uma vez que a cidade estadunidense exige um comprovante de vacinação contra a doença para entrar nesses locais.
Meio Ambiente
O encontro entre os dois líderes foi solicitado pelo próprio Boris Johnson, que tem urgência em tratar de questões climáticas, uma vez que o país trabalha para divulgar a COP 26, a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, que será realizada em Glasgow, no Reino Unido, ainda em novembro deste ano.
Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, o Reino Unido busca uma atualização Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês) brasileira. A versão apresentada em 2020 pelo governo Bolsonaro, que apontou que o Brasil poderá atingir a neutralidade climática apenas em 2060, foi considerada insuficiente pelo país. Em abril, durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima, nos Estados Unidos, Bolsonaro afirmou que iria antecipar a meta para 2050.
Comércio e OCDE
Se do lado britânico, o principal interesse no encontro são as pautas climáticas, do lado do governo Bolsonaro, o assunto em questão é o apoio do Reino Unido à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e as possibilidades comerciais abertas pós-Brexit.
:: Brexit muda as relações pessoais e imigrantes relatam incertezas ::
Em outubro, ocorrerá uma reunião entre os membros da organização para discutir a entrada de novos integrantes. O governo Bolsonaro espera que o Reino Unido seja a favor da entrada brasileira. As expectativas são altas, já que o embaixador do Reino Unido no Brasil, Peter Wilson, já demonstrou apoio ao país durante o lançamento oficial do relatório da OCDE sobre a governança das estatais brasileiras.
A resistência ao Brasil, no entanto, é o calcanhar de Aquiles do governo Bolsonaro: a sua política ambiental. Em um relatório da OCDE de julho deste ano, divulgado pelo UOL, mostrou que o Brasil precisa passar por mudanças profundas caso queira de fato adentrar a organização. De 48 requisitos analisados, 60% foram considerados total ou parcialmente desalinhados com os instrumentos legais da OCDE.
"O Brasil não conseguiu corrigir problemas com a avaliação do impacto ambiental ou reforçar a integração de considerações ambientais nas políticas e planos públicos. Subsistem lacunas na implementação do princípio do poluidor-pagador, prevenção e controle integrados da poluição, e desempenho ambiental de instalações públicas", avaliou a organização no relatório.
Edição: Vivian Virissimo