Paraná

EMPRESA LUCRATIVA

Artigo | Privatização dos Correios - a galinha dos ovos de ouro e a canja dos neoliberais

Uma análise dos balanços dos Correios em duas décadas mostra que a estatal repassou R$ 9 bilhões ao governo

Curitiba (PR) |
Privatização dos Correios prejudica cada trabalhador e trabalhadora deste país - Giorgia Prates

Desde a tenra infância ouve-se aquela expressão que nos alerta para o “cuidado em não matar a galinha dos ovos de ouro”, e ao que parece os Chicago Boys de Bolsonaro ou não tiveram infância ou sofrem de surdez seletiva.

Uma análise rápida dos balanços dos Correios em duas décadas mostra que a gigante logística estatal repassou nas duas últimas décadas mais de R$ 9 bilhões ao seu único proprietário, o governo federal.

Esse montante equivale a 73% do seu lucro no período, aproximadamente R$ 12,4 bilhões em valores atualizados pelo IPCA.

Comparado às demais empresas públicas, os Correios são um verdadeiro oásis de rentabilidade quando considerado o retorno sobre o patrimônio líquido: (69,5%), bem a frente de gigantes como a CEF (37%), Banco do Brasil (18,1%), BNDES (16,9%), e Petrobras (13,6%).

Os números poderiam ser ainda maiores considerando o fato de que o governo federal deliberadamente deixa de utilizar a capacidade logística da empresa para contratar operadores privados, cujos contratos superfaturados encontram-se sob investigação como o da VTCLog, exposto na CPI do Senado.

Estima-se que a utilização dos Correios na logística federal teria um potencial de economia de R$ 30 bilhões/ano, isso somente considerando seu papel de agente de integração nacional, entretanto, o mercado de entregas vem se consolidando como um dos mais promissores devido à popularização do e-commerce, uma tendência que veio para ficar.

Totalmente independente do Tesouro, os Correios se mantém com os próprios recursos, sem a necessidade de aportes para manter - com lucro - suas operações nos 5.570 municípios brasileiros, algo que nenhum órgão público consegue.

A exceção a regra ocorreu no ano de 2018 quando recebeu R$ 254 milhões destinados ao aumento de seu capital, uma fração ínfima (2%) se comparado aos dividendos repassados à União no período, nada mal para qualquer investimento financeiro.

O projeto de lei que tramita no Senado após uma passagem cercada de atropelo chega ao absurdo de conceder ao comprador o monopólio das operações a um grupo privado, sem qualquer mecanismo factível de controle.

*Este artigo de opinião é de responsabilidade exclusiva de seu autor/a.

Talvez seja esse o motivo das chances precárias de que seja aprovado na casa, onde nas palavras do senador Otto Alencar (PSD-BA), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, “não é o melhor momento para uma privatização” dos Correios.

Neste cenário, a canja do cardápio dos Chicago boys do Planalto precisará de outro ingrediente.

Edição: Pedro Carrano