A pernambucana Edvânia Maria da Silva, de 24 anos, cuida de quatro filhos no bairro de Dois Unidos, na zona norte do Recife. Cozinheira de salgados e doces, ela não consegue sair de casa para vendê-los, porque não tem com quem deixar a filha mais nova, de dois anos. Só vendendo as produções de casa, não consegue complementar a renda mensal de R$ 375, advinda do Bolsa Família e do auxílio emergencial.
Há quase um ano, ela tenta matriculá-la na creche municipal Tia Emília, no Alto do Capitão - uma das três do bairro e a que fica mais próxima da sua casa -, mas não há vagas. “Já liguei para o número para botá-la na reserva e até agora nada”, conta.
A situação de Edvânia não é única. O líder comunitário Antônio Batista de Moura relata que este ano recebeu 78 reclamações de falta de vagas em creches e escolas dos moradores do bairro Dois Unidos.
“As vagas não existem. Quando chega a época que é propícia para as pessoas irem [fazer a matrícula], as mães dormem em frente às creches para ver se conseguem uma vaga, mas infelizmente não têm êxito”, expõe Moura.
A realidade é comum no Brasil: a ausência de escola ou creche na localidade, falta de vaga ou não aceitação de matrícula por causa da idade da criança foi o segundo motivo mais apontado pelos pais como razão de os filhos não frequentarem esses estabelecimentos, segundo os dados da PNAD Educação 2019, do IBGE. A taxa nacional foi de 27,5% para crianças na faixa de até um ano e de 39,9% para dois a três anos. No Nordeste, o índice para crianças de dois a três anos chega a 49,3%.
Hoje, o Recife oferece 6,5 mil vagas nas 86 creches da rede municipal. Com o Programa Infância na Creche, anunciado no último dia 24 de agosto, a prefeitura planeja abrir mais 7 mil vagas em 50 novas unidades até 2024. Através da iniciativa, o município vai investir R$ 150 milhões na construção de novas unidades; ampliação e requalificação das já existentes; parcerias com instituições sem fins lucrativos; e estudos para parceria público privada (PPP), para viabilizar a construção de outras creches.
O prefeito João Campos prometeu a abertura de 26 creches e 1,8 mil vagas para o próximo ano ao anunciar que a gestão já está executando obras.
“Já são 6 novas creches em obras na nossa cidade, além de projetos para mais 10 sendo executados e outros 10 sendo licitados para começar a obra de maneira imediata”, falou. A reportagem procurou a Prefeitura do Recife para maiores esclarecimentos, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.
Creches são essenciais para o desenvolvimento infantil
Além de possibilitarem que os pais ou cuidadores consigam procurar emprego ou trabalhar, as creches também são importantes por auxiliarem no desenvolvimento infantil, de acordo com a pedagoga Thaís Santiago.
“Nelas, são trabalhadas habilidades e competências que vão facilitar a adaptação da criança nos próximos anos escolares e na vida escolar, por ela desde o início ter sido colocada nessa situação de aprendizagem e interação”, pontua a profissional.
Thaís explica que, na educação infantil, se trabalha com os campos de experiências, como “eu, o outro e o nós”, em que se estimula a interação com o outro e o conhecimento de si mesmo; “corpo, gestos e movimentos”, que exercita a coordenação motora fina e grossa; a “escuta, fala e pensamento”, que se debruça sobre a oralidade e a interpretação; além de “espaço e tempo” e “traços, sons, cores e formas”.
O benefício pode ser ainda maior para as crianças que vivem em situação de vulnerabilidade, para quem a creche se torna um espaço de cuidado, higiene e alimentação, comenta Thaís.
“O que é apresentado para essa criança [na creche], em casa ela não teria essa possibilidade de vivenciar. Com as atividades que são realizadas, ela pode se desenvolver um indivíduo capaz de mudar sua realidade”, conclui.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga