Economia

Para controlar inflação, Argentina prorroga restrições de exportação de carne

Cota de venda para o mercado externo freiou o aumento dos preços do varejo

Brasil de Fato | Buenos Aires, Argentina |
Produtores rurais afirmam que medida é um "erro garrafal do governo" - Ronaldo Schemidt/AFP

O governo argentino decidiu prorrogar as restrições de exportações de carne até o dia 31 de outubro, através dos ministérios de Desenvolvimento Produtivo e da Agricultura. A medida amplia a validade do decreto 408/2021, de junho deste ano, que limita em 50% o embarque de carne bovina em relação à média de exportação do ano passado.

Continua após publicidade

Publicada nesta terça-feira (31), a resolução afirma que "o impacto das medidas que limitaram temporariamente a venda ao exterior começou a mostrar resultados positivos", o que se reflete em uma estabilização dos preços da carne bovina após dois meses de vigência do decreto.

O texto destaca que a inflação ocorre pelo "aumento dos preços da carne no mercado internacional, que implica uma pressão sobre os preços no mercado interno por sua condição de bem comercializável."

"Ainda assim, nos últimos anos, houve um salto notável da exportação que não foi acompanhado na mesma magnitude pela produção", continua o texto, "dando como resultado uma escassez no mercado local, a qual terminou pressionando os preços de varejo da carne bovina e afetando o consumo interno."

:: Especial | Fome no Brasil ::

Os indicadores apontam uma queda dos preços no último mês após uma sequência de aumentos para os consumidores argentinos neste ano: crescimentos de 7,3% em março, 3,5% em abril, 5,9% em maio e 7,9% em junho. Segundo o Centro de Economia Política Argentina (CEPA), os preços dos cortes mais econômicos diminuíram 2% em julho em relação a junho, enquanto os valores intermediários e mais caros caíram 1%.

Ruralistas falam em "mal-estar"

O setor industrial de carne bovina concentrado na chamada Mesa de Enlace se manifestou horas após a publicação da resolução no Boletim Oficial, firmando sua postura contrária às restrições. "Não vamos manter uma postura tão negociadora ou passiva", afirmou o presidente da organização Confederações Rurais Argentinas, Jorge Chemes, em uma coletiva de imprensa. "Passamos a uma etapa mais ativa onde não temos estabelecidas as ações mas, sem dúvida, vamos mostrar o mal-estar que existe no campo", afirmou, indicando a possibilidade de paralisação da comercialização e protestos diante do que considera um "erro garrafal do governo".

Na semana passada, a chamada Mesa das Carnes já havia solicitado ao governo nacional "repensar e acabar com as restrições às exportações."

O governo reforçou a decisão de implementar um Plano Pecuário para aumentar a produção. O ministro da Agricultura, Luis Basterra, afirmou que estão avaliando possibilidades de flexibilizar as restrições de exportação de carne bovina.

:: O tango é negro: conheça Horacio Salgán, nome fundamental e pouco conhecido do gênero ::

"Estamos em pleno processo de resolução de irregularidades muito fortes que ocorreram no sistema pecuário, um componente especulativo e delitivo, operações financeiras que fizeram com que a carne servisse de instrumento para a especulação, o que gerou um sobreaquecimento da praça", destacou o ministro.

Fontes oficiais asseguram que as exportações seguem ultrapassando a média histórica, segundo informa a Agência Télam. Em julho, foram exportadas US$ 194 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) em carne bovina no país, ainda que a cifra esteja 16% abaixo do mesmo período no ano passado.

*Com informações de Télam e Página 12

Edição: Thales Schmidt