As comunidades tradicionais de fundo de pasto dos municípios de Pilão Arcado e Campo Alegre de Lourdes, na região norte da Bahia, passaram cerca de 21 dias controlando os incêndios que atingiram a região, causando prejuízos à flora, fauna e colocando em risco a própria população.
A estimativa do Corpo de Bombeiros, divulgada na semana passada, é que o fogo atingiu pelo menos 2.000 hectares de vegetação nas localidades. O fogo só foi completamente controlado no último domingo (29).
Em nota, o Fórum de Entidades Populares de Campo Alegre de Lourdes afirma que o primeiro foco do incêndio começou no dia 9 de agosto nas comunidades de Lagoa do Virgulino, Comandante e Baixão do Jacu e, depois, Caboclo dos Mangueiras, Baixão do Egídio, Bandeira de Cima e Anjo.
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Nos períodos de seca, acontecem pequenos focos de incêndio na caatinga, controlados pelas próprias comunidades, mas os que ocorreram nas últimas semanas diferem desses naturais. Edinei Soares, morador da comunidade Angico Dias, no município de Campo Alegre de Lourdes, conta que, assim que o fogo começou, as comunidades se reuniram para definir as ações e o Corpo de Bombeiros foi acionado, já que surgiram três focos ao mesmo tempo, e as comunidades por si só não conseguiriam controlar.
Anselmo Ferreira, integrante do Fórum de Entidades Populares de Campo Alegre de Lourdes e da Articulação Regional de Fundo de Pasto regional Juazeiro, afirma que "esse ano foi com uma frequência maior e com proporção muito maior também. Quando a gente acabava de controlar o incêndio em um local, já tinha foco de incêndio em outro. Era o dia todo desse jeito".
Questionado sobre as possíveis causas, Edinei observa: "Nós temos apenas suspeitas, devido ao fato da nossa região ter uma ambição muito grande por parte das mineradoras. Como a nossa área é nativa, é um pouco complicado. Com essa devastação, creio que nossas comunidades tradicionais de fundo de pasto ficam mais fragilizadas. É uma perda irreparável".
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Anselmo endossa essa hipótese: "A gente que atua em algumas comunidades, nesse processo de enfrentamento à mineração, grilagem e tudo mais, tem analisado que esses focos de incêndio têm acontecido principalmente nas áreas onde acontecem esses conflitos. Não é coincidência. Da forma como têm acontecido, não é acidente. São incêndios criminosos e precisamos investigar".
Como já mencionado, os danos para essas comunidades tradicionais são grandes. Ananilva Batista, que atua na comunidade Cacimba Velha, no município de Campo Alegre de Lourdes, compartilha que o fogo que vem atingindo a comunidade todos os anos, há cerca de dez anos, resulta em acúmulo de prejuízos.
"Ficamos abaladas por estarmos perdendo essa vitalidade da terra, que é de onde tiramos nosso sustento, e perdendo também as madeiras, que é matéria-prima para fazer as casas, perdendo os animais. Está sendo a maior tristeza para todo mundo", lamenta.
Ananilva explica que fundo de pasto é a parte aberta onde os animais ficam soltos para comer e onde tem as roças. "E, se queima essa vegetação de fundo de pasto, como os animais vão sobreviver? Como vamos poder plantar milho, feijão, melancia?", questiona.
Nos próximos dias, o Fórum de Entidades Populares irá reunir os integrantes para debater sobre esses incêndios e decidir novas ações. Contudo, reforça, em nota, que "na região afetada pelo fogo em Pilão Arcado e Campo Alegre de Lourdes, temos presenciado um aumento dos conflitos territoriais e resistências das comunidades para permanecer em seus territórios e preservar seus modos de vida. Por isso, as comunidades e as organizações locais exigem averiguação das causas desse incêndio".
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Fonte: BdF Bahia
Edição: Jamile Araújo