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"Brasileiros passam fome porque não têm renda, não por falta de produção", diz Stedile  

Para Stedile, o grupo de empresários contrários a Bolsonaro já é maioria, mas ainda buscam uma terceira via para 2022

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João Pedro Stedile é o convidado desta edição do BDF Entrevista - José Eduardo Bernardes
Um governo progressista, popular, não é só possível, ele é necessário

“O governo Bolsonaro é apenas o espelho da crise, ele é o espelho da burguesia”, afirma João Pedro Stedile, economista e ativista da reforma agrária, em uma crítica aos posicionamentos recentes de parte dos empresários brasileiros, que somente agora têm se posicionado contrários ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em meio à mais grave crise social e econômica do Brasil.

Stedile acredita que o grupo empresarial contrário ao presidente já é majoritário. Eles o apoiaram na eleição de 2018, mas se viram traídos pela má gestão econômica e social do mandatário e agora buscam uma saída para a crise. A alternativa presidencial, segundo o ativista, seria por algum nome que encampe os desejos liberais e de livre mercado.

“Antes de tentar tirar Bolsonaro eles precisam criar uma unidade sobre quem é a chapa da chamada terceira via. Assim que eles acertarem a chapa, sabem que a terceira via só tem viabilidade se eles afastarem o Bolsonaro”. 

“Aí, é possível que a burguesia então acione o seu poder econômico, o seu poder midiático na Globo, as suas influências no Congresso, para encontrar a saída jurídica do afastamento do governo Bolsonaro”, diz um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Convidado desta semana do BDF Entrevista, Stedile também fala sobre a precarização do trabalho no Brasil, as tentativas golpistas de Bolsonaro e como deverá se conformar um novo governo do ex-presidente Lula, principal candidato nas eleições de 2022.

“Um governo progressista, popular, não é só possível, ele é necessário, para evitar a tragédia social que se acumula dia após dia. Mas acho que o fundamental para viabilizar uma candidatura Lula não é que siglas, ou que figuras vão apoiá-lo e sim, fazer uma grande campanha nacional em que mobilize a população, mobilize a classe trabalhadora para discutir um novo projeto de país”.

O dia 7 de setembro, data que ocorrerão atos de apoio ao presidente Bolsonaro, com ares de autoritarismo e, há quem garanta, com objetivos golpistas, Stedile acredita que a população não deve cair em "paranoias".

"Assim como o presidente é maluco, os fanáticos que o apoiam também são malucos. Então a gente tem que ter os cuidados, os resguardos, para não cair em provocação e nós podemos ter manifestações de maluquices como propunha o Sérgio Reis, em seu final de sua carreira. Mas eu não acredito, e nós não devemos cair nessa paranoia de que vai haver tentativa de golpe por parte das PMs. Eu acho que foi muito simbólica a reunião dos vinte e cinco governadores porque no fundo são eles que mandam nas PMs. Eu acho que a maioria da corporação tem juízo, são profissionais responsáveis, ainda que aqui e acolá pratiquem racismo, violência nas periferias". 

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato: O Brasil vive uma crise sem precedentes, a fome voltou a atingir as famílias, a economia não consegue acertar os passos e as reformas propostas e os riscos que elas demonstravam, de fato, se concretizaram. Social e politicamente, acho que nunca tivemos um ambiente tão distante da democracia. Qual é o real estado da nossa democracia desde 2016? 

João Pedro Stedile: Eu acho que o país vive um grave momento, porque é a pior crise de toda a sua história e ela é uma crise estrutural da forma como o capitalismo domina a sociedade e a economia e isso aparece na produção, na economia, cada vez mais concentrada. Antes da crise nós tínhamos 45 bilionários, hoje nós temos 65 bilionários. 

Nós temos uma economia ultra concentrada entre esses ricaços e essa economia tem a contradição fundamental, que ela não produz mais os bens necessários para a população. Essa é a grande contradição do capitalismo brasileiro, dependente, e traz como consequências uma verdadeira tragédia social, que é o aprofundamento da desigualdade social. Essa é a chaga maior, a marca da nossa sociedade. 

O Brasil, junto com a África do Sul, são os dois países de maior desigualdade social e a crise jogou na sarjeta 67 milhões de trabalhadores, revelados pela PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE. São os 14 milhões de desempregados, os seis milhões que já não procuram emprego e 40 milhões que não têm trabalho permanente, vivem de bico, de trabalho precarizado e, portanto, não têm renda fixa, não têm direitos, estão fora da cidadania. 

O importante é entender nesse momento da crise brasileira que ela é estrutural. Isso significa que ela ultrapassa o período dessa conjuntura e desse governo. Significa que nós temos que pensar depois do “Fora Bolsonaro” em mudanças estruturais para podermos tirar o país da crise e recolocá-lo em novos trilhos, que consigam garantir bem-estar para toda a população. 

E uma parte desses desempregados já estavam no mercado informal, que cresceu de uma maneira gigantesca nos últimos anos, desde 2018. E a pandemia veio pra tirar essas pessoas da rua. Qual é o nível de precarização do trabalho no Brasil? 

A precarização do trabalho revelada por esses dados da PNAD é só a fotografia da crise estrutural. Não é por conta da pandemia de covid-19, nós já tínhamos esses sinais desde 2014. E também não adianta os economistas dizerem que essa é a tendência do capitalismo moderno. 

Não é isso, a sociedade brasileira no próximo período terá que fazer um grande programa de reindustrialização do país e reconcentrar investimentos produtivos na agricultura familiar pra produzir alimentos, porque esses são os dois pilares para você produzir os bens que a sociedade precisa. Nós precisamos de sapato, roupa, casa, comida, e tudo isso precisa ser produzido na indústria e na agricultura familiar. 

Então, esses tempos de precarização, de retirada de direitos desde o governo [Michel] Temer até agora são apenas sinais da crise e dessa ganância da burguesia brasileira que, diante da crise, jogou todo o peso nas costas da classe trabalhadora, ao ponto de como você citou, chegarmos ao absurdo de um país continental, com tanta potencialidade de produção de alimentos, termos ao redor de 20 milhões de brasileiros que estão passando fome. Não estão passando fome porque falta produção, estão passando fome, porque não têm renda, não têm recurso para comprar comida no supermercado ou na feira. 

E segundo os pesquisadores, nós temos outros 70 milhões na chamada insegurança alimentar, que significa alimentar-se da pior maneira possível, aquém das necessidades, ou com alimentos saudáveis, nutritivos, que lhe garantem inclusive saúde. Essa é a fotografia da crise. 

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O governo Bolsonaro hoje é sustentado pelo centrão. Foi tomado de assalto, na verdade, pelo fisiologismo. O Bolsonaro já não parece ter apoio do mercado e mesmo essa base social que vinha sustentando ele, está cada vez mais restrita àqueles 20%. Mesmo assim, ainda é complicado falar em um impeachment? 

Bom, primeiro eu acho que nós temos que compreender a natureza do governo Bolsonaro e, evidentemente, cada analista tem a sua forma de interpretar, e o povão também tem a sua forma de interpretar.

Nós, os movimentos populares da Frente Brasil Popular e do MST, temos dito que o governo Bolsonaro é apenas o espelho da crise, ele é o espelho da burguesia, o Bolsonaro só está lá porque a burguesia brasileira o colocou lá. 

Lembrem-se da campanha “Bolsodoria”, da campanha da Globo, da campanha de outros governadores. Na minha terra, o [Eduardo] Leite, que agora se acha todo independente, fez campanha para o Bolsonaro. O que isso revela? Que o Bolsonaro só está lá porque as forças da burguesia, seja o poder econômico, as suas manipulações, seja pela mídia, seja pelos partidos burgueses, todos apoiaram o Bolsonaro e colocaram esse insano lá. 

Agora, grande parcela deles estão arrependidos e o Bolsonaro, em si, por ser espelho da crise, ele não tem força social organizada própria, não tem sindicato, não tem universidade, não tem intelectuais, porque ele não tem também projeto de país, ele não tem projeto de nação. 

E quem não tem projeto de nação, não consegue aglutinar força aliada em torno do projeto. No fundo ele é uma aberração dirigida pela família que todos nós conhecemos, a sua prática das rachadinhas, sua vida, que sempre foi se locupletando de recursos públicos.

Mas mesmo assim, na derrota da PEC do voto impresso, o governo Bolsonaro teve certa maioria, não qualificada, a ponto de aprová-la. Isso enterra as chances de um impeachment por agora? 

A questão do “Fora Bolsonaro” e do impeachment é outro departamento. Para que houvesse afastamento do governo Bolsonaro, na figura do impeachment, ou de outras formas, nós analisamos que depende do comportamento das classes sociais na sociedade. Concretamente, da burguesia ou da classe trabalhadora.

Qual o cenário que estamos assistindo agora? A burguesia vem se manifestando diariamente contra o Bolsonaro, porém ela está dividida em relação ao que fazer está dividida, na minha opinião, em três correntes dentro dela: 

A primeira é o setor da burguesia, burro, na minha opinião, que aposta todas fichas ainda na manutenção do Bolsonaro, no acesso a recursos públicos e nessa política estúpida de privatização de estatal. Segundo os analistas, devem ter aí uns 20% da burguesia nessa corrente, mas aí está o Bradesco, o banco Pactual, do antigo Guedes, o BTG, o setor do capital financeiro mais especulativo, o velho da Havan e outros. 

E há um outro setor da burguesia, que na minha opinião, é majoritário, e é difícil quantificar, mas digamos que são os 60%, que já não aguentam o Bolsonaro. Eles são a maioria inclusive do poder econômico. Imagino que o presidente da FIESP, o filho do lendário Alencar da Silva, vice do Lula, não concorde com Bolsonaro. A turma do Itaú não concorda com Bolsonaro, a dona Maria Luiza [Trajano] não concorda com Bolsonaro. 

Porém, esse grupo que é majoritário, eles precisam resolver uma incógnita antes de tentar tirar Bolsonaro, que é criar uma unidade entre eles sobre quem é a chapa da chamada terceira via. Assim que eles acertarem a chapa, sabem que a terceira via só tem viabilidade se eles afastarem o Bolsonaro. E a terceira corrente da burguesia, na minha opinião, ainda minoritária, é o que tem se expressado junto com Delfim Neto. 

Claro, ele não é dono de empresas, mas ele é um intelectual orgânico da burguesia, é uma referência histórica para a burguesia. Ele tem repetido: “parem de falar bobagem sobre terceira via, nós precisamos já apoiar o Lula no primeiro turno, porque o Lula vai ganhar as eleições”.

Com isso, esse setor mais esperto da burguesia tenderia a se posicionar melhor numa aliança com o Lula, porque eles sabem que se o Lula ganhar as eleições vai ter que fazer um programa de reformas estruturais. 

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É possível que a burguesia chegue a um acordo logo sobre a terceira via e é possível que a burguesia então acione o seu poder econômico, o seu poder midiático na Globo, as suas influências no Congresso, para encontrar a saída jurídica do afastamento do governo Bolsonaro.

Outra hipótese que alguns estão levantando, é que se não houver tempo hábil para um impeachment, eles podem encontrar alguma forma de criminalizar o presidente Bolsonaro por conta do que a CPI do Senado está revelando e interditá-lo, ou seja, impedir que ele vá à reeleição. Aí seria um 2022 de um governo sem sentido e já anteciparia a campanha eleitoral. 

Da parte da classe trabalhadora, nós devemos continuar com a palavra de ordem que nos une, que é Fora Bolsonaro. Porém, a classe trabalhadora está sem poder exercitar sua força política, que se revela em manifestações de rua, se revela na luta concreta, seja por greves, por ocupações. E a classe trabalhadora por conta da covid, por conta do desemprego, por conta da fome, ela não tem participado ativamente das mobilizações.

Mas como dizia um grande pensador clássico, às vezes a classe trabalhadora aprende em vinte dias o que deixou de aprender em vinte anos. Então nós nunca podemos ser pessimistas e o nosso trabalho como militantes, como participantes de movimentos populares e partidos de esquerda é sempre seguir essa sanha de explicar para o povo, fazer trabalho de base, organizar o povo e tentar mobilizá-lo para a luta. 

Há um componente que tem ganhado força nos últimos dias, que é a questão do apoio de policiais militares, de milícias armadas ao governo Bolsonaro nas ruas, no dia 7 de setembro. É factível isso? É uma preocupação que devemos ter? Isso pode se materializar mesmo em uma tentativa de ruptura, ou um começo de uma ruptura institucional? 

Bom, assim como o presidente é maluco, os fanáticos que o apoiam também são malucos. Então a gente tem que ter os cuidados, os resguardos, para não cair em provocação e nós podemos ter manifestações de maluquices como propunha o Sérgio Reis, em seu final de sua carreira. Felizmente o STF o enquadrou.

Pode haver provocações aqui e acolá, mas eu não acredito, e nós não devemos cair nessa paranoia de que vai haver tentativa de golpe por parte das PMs. Eu acho que foi muito simbólica a reunião dos vinte e cinco governadores porque no fundo são eles que mandam nas PMs. Eu acho que a maioria da corporação tem juízo, são profissionais responsáveis, ainda que aqui e acolá pratiquem racismo, violência nas periferias. 

O grosso da corporação são profissionais responsáveis, sabem as suas responsabilidades constitucionais. Não acredito nem que haja adesão deles, nem que haja tentativas de golpe, assim como tenho repetido várias vezes que não dá pra botar os milico tudo no mesmo balaio. 

São evidentes as contradições, cada vez maiores, entre aqueles milicos que foram a Brasília, que estão lá mamando nas tetas do governo, alguns generais com salário de R$ 100 mil. O Brasil de Fato revelou nestas semanas que o [Eduardo] Pazuello está ganhando R$ 57 mil por mês e foi duas vezes à sua sala de trabalho nos últimos dois meses, ou seja, um acinte para o povo trabalhador. 

Mas uma coisa são aqueles militares oportunistas, já em final de carreira. Outra coisa são os militares que estão nos quarteis, que têm as suas responsabilidades. E eles têm dado sinais também da sua insatisfação com os rumos do governo. Até porque, o fato do Bolsonaro ficar propagandeando que é capitão, ainda que tenha sido expulso do Exército, eles sabe que todas as perversidades do atual governo estão respingando na farda e os militares que tem juízo querem se afastar desse ventilador espalhador de problemas. 

A maioria dos setores que estão nos quarteis tenho entendido que defendem a Constituição, que não vão entrar em aventuras golpistas, ainda que, ideologicamente, eles foram formados numa ideologia pró-americana, ideologia que não necessariamente é a favor de um projeto nacionalista ou um projeto popular. 

Eu fico, por exemplo, abismado com o silêncio deles, imagino que eles também estão preocupados com o desmonte das estatais. Como o Brasil pode ser soberano, se perder o controle da sua energia elétrica, se está perdendo o controle do petróleo, se vai perder o controle das comunicações e se vai perder o controle dos Correios

Você citou a questão da soberania nacional e eu imagino que os militares também devam estar preocupados com a questão ambiental. Recentemente vimos um estudo do Mapbiomas falando em uma perda de 15% da água no país. É possível reverter esses desmandos ambientais?

Me alegro em teres tocado no assunto porque a crise ambiental faz parte dessa crise estrutural. Ela é representada por crimes ambientais cometidos pelo capital. Em tempos de crise, os capitalistas vão para os bens da natureza e tentam se apropriar de forma privada, para então salvar o seu dinheiro e transformar o dinheiro em bens, em patrimônio, que dão uma taxa de lucro extraordinário 

É isso que explica essa verdadeira ganância com que os capitalistas foram sobre a Amazônia, foram sobre as terras públicas, estão indo sobre os minérios, estão indo sobre as terras indígenas, sobre as terras quilombolas. E isso explica essa sanha incontrolável da liberação total de agrotóxicos. O agrotóxico aplicado pelo agronegócio mata a biodiversidade e, portanto, também desequilibra o meio ambiente e afeta o clima em todo o Brasil. 

Nós estamos diante de uma crise ambiental gravíssima. Agora nada é irreversível na vida, a não ser a morte. Eu acredito que nós temos tempo ainda de, mudando o governo e tendo um governo popular, recuperarmos toda uma legislação ambiental, todos os cuidados, replantar árvores, adotar a agroecologia, não só para salvar a biodiversidade, mas salvar o meio ambiente e reconstruir um território que tenha menos consequências para toda a população.

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E quero chamar a atenção, que essas agressões que o capital faz contra o meio ambiente, estão causando contradições para os próprios capitalistas, porque esse modelo agressor do agronegócio, dos agrotóxicos que matam a biodiversidade e alteram o clima, acabam afetando outros setores do agronegócio. 

A última safra de laranja aqui em São Paulo, que é o maior produtor mundial de suco de laranja, caiu 40% por conta do que? Porque as chuvas que antes vinham da Amazônia e do Pantanal, não vieram pelas queimadas. Então o setor de laranja de São Paulo também foi afetado. 

Com a seca aqui no sudeste também o setor de cana foi afetado, o gado, a pecuária foi afetada, enfim, outros setores do agronegócio começam a se dar conta de que esse modelo predador do agronegócio, de uso intensivo de agrotóxico, é insustentável. 

Então, José, como diria Drummond: “E agora José”, não seja pessimista. O Brasil tem futuro, nós temos um povo generoso e trabalhador e eu sou otimista que novos tempos virão para colocarmos o Brasil de novo nos trilhos do progresso, da igualdade social e do bem-estar pra todo mundo. 

Para encerrar nossa conversa, há uma perspectiva de que o ex-presidente Lula chegue, no mínimo, a um segundo turno. Há pesquisas apontando para uma vitória já no primeiro turno. É possível analisar uma composição do que pode ser esse governo Lula, nessa correlação de forças? É possível termos um governo progressista em uma possível gestão Lula?

Um governo progressista, popular, não é só possível, ele é necessário, para evitar a tragédia social que se acumula dia após dia. Porém, para viabilizar um governo Lula nós temos vários aspectos: Um deles são as alianças partidárias, que tem a sua metodologia própria. Mas os partidos, cá entre nós, têm seu modos operandi, que não necessariamente representam as forças da sociedade organizada, seja na burguesia, seja na classe média, seja na classe trabalhadora. 

Eu acho que o fundamental para viabilizar uma candidatura Lula não é de siglas, ou que figuras vão apoiá-lo. Claro, quanto mais partidos e mais figuras públicas o apoiarem, melhor. Mas eu acho que nós, como movimento popular e como militantes, deveríamos nos preocupar, depois do fora Bolsonaro, que é a tarefa número zero, aproveitar o 2022 para fazer uma grande campanha nacional em que mobilize a população, mobilize a classe trabalhadora para discutir um novo projeto de país.

Discutir que reformas estruturais são necessárias. É impossível colocar o Brasil nos trilhos sem controlar o capital financeiro, que é o que fica com toda riqueza. Não é possível botar o Brasil nos trilhos sem controlar as empresas transnacionais. Não é possível botar o Brasil nos trilhos sem ter um imposto sobre as fortunas. 

Aqueles bilionários brasileiros, o Banco Central revelou que eles tem 400 bilhões de dólares depositados em paraísos fiscais e eles tem um trilhão e 800 bilhões depositados aqui no Brasil, em ações especulativas, nada disso é investimento produtivo. 

Então, o governo tem que redirecionar esse capital sobrante, produzido pelo povo brasileiro, para a indústria, para agricultura, para a produção de alimentos. E portanto, nós temos que ter reformas estruturais no país. 

E essas reformas estruturais não dependerão da boa vontade do Lula, nem das alianças partidárias, dependerão da capacidade do povo entender a sua necessidade de lutar por elas. E para que o povo entenda e lute por elas será preciso um longo trabalho ao longo de 2022 e 2023, para explicarmos e mobilizar o povo, fazer centenas, milhares de assembleias populares, para debater a necessidade de um novo projeto de país. 

Edição: Anelize Moreira