Rio Grande do Sul

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‘Avante, brasileiras-os, de pé’

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Legalidade teve amplo apoio da população - Domínio público
Dia 7 de setembro o povo estará nas ruas marchando no Grito das-os Excluídas-os 2021

Em 1961, eu tinha exatos 10 anos. Morava na roça, na Linha, hoje Vila, Santa Emília, Venâncio Aires, interior do interior gaúcho, a uns 10 kms da cidade, onde íamos uma vez por ano, se tanto. (Lembro que, certa vez, fui com a prima Lourdes Reckziegel para o centro de Venâncio. Caminhávamos pelas ruas quando ela me chamou a atenção. Eu estava do lado de dentro da calçada, ela do lado de fora, o que, segundo ela, era errado. Eu, guri da roça, não sabia disso!)

Em 1961, eu estava no quarto ano primário da Escola São Luiz de Santa Emília. Era sala única, onde estudavam cerca de 100 alunos, com um só professor para todo mundo. E aprendíamos!

Em 1961, eu falava mais, e melhor, alemão que português. Aliás, ajudado pela tia Leonida, eu sabia ler no alemão gótico, especialmente a Bíblia. Nas orações, sagradas, antes das refeições, rezava-se o ‘Vater Unser’, Pai Nosso, em alemão. (Outro parênteses. Como coroinha, aprendi a responder em latim tudo que precisava nas missas. O que me ajudou, mais adiante, nas aulas de latim com Frei Clemente no Seminário em Taquari, latim que leio razoavelmente até hoje.)

Estes são alguns elementos do contexto da minha vida em 1961. Em 2021, 60 anos depois, por incrível que pareça, ainda sei cantar de cor o Hino da Legalidade, composto pelo grande ator gaúcho Paulo César Peréio, letra de Lara de Lemos (em alguns lugares aparece também o nome de Demósthenes Gonzales como um dos autores da letra), para a Campanha da Legalidade, convocada pelo então governador gaúcho Leonel Brizola, depois da renúncia inesperada de Jânio Quadros. (Flávio Aguiar, ‘Rede da Legalidade, 1961, quando o povo venceu’, Rede Brasil Atual, 24.08.2021. Quem quiser saber mais da Campanha, ver o belo filme ‘Legalidade’, de Zeca Brito).

Diz a letra: “Avante, brasileiras-os, de pé,/ unidos pela liberdade./ Marchemos todos juntos com a bandeira/ que prega a igualdade-lealdade./ Protesta contra o tirano,/ se recusa à traição,/ que um povo só é bem grande,/ se for livre sua Nação”.

Como aprendi e decorei a letra do Hino, em 1961, guri de 10 anos, falando mais alemão que português? Escutávamos a Rede da Legalidade, através da Rádio Guaíba, requisitada pelo governador Brizola e instalada nos porões do Palácio Piratini. Parece que ainda estou ouvindo os discursos de Brizola e o Hino da Legalidade hoje, naqueles grandes aparelhos de rádio da época, onde também escutei as Copas de futebol de 1958 e 1962. Sem esquecer que, naqueles tempos, para os descendentes de alemães do Interior, Brizola e quem era do PTB era considerado comunista. Foi o caso do único trabalhista assumido de Santa Emília, Alfredo Scheibler.

Paulo César Peréio e Lara de Lemos parecem ter feito e estar cantando o Hino para gaúchas e gaúchos, brasileiras e brasileiros em e para 2021, em tempos de neofascismo, e depois de mais um golpe.


Grito estará nas ruas com o lema ‘Vida em primeiro lugar! Por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda, já!’, e gritando Fora Bolsonaro / Divulgação

‘Avante, brasileiras-os, de pé.’ É o que vai acontecer dia 7 de setembro, com o povo marchando nas ruas no Grito das-os Excluídas-os, que tem como lema ‘Vida em primeiro lugar! Por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda, já!’, e gritando Fora Bolsonaro.

‘Unidos pela liberdade’: hoje, de novo, defendendo a democracia, a igualdade, os direitos de trabalhadoras-es, de indígenas, quilombolas, das oprimidas e dos oprimidos.

‘Marchemos todos juntos com a bandeira que prega a igualdade-lealdade’. É como acontecerá em todo mês de setembro, quando se celebra o centenário do educador popular Paulo Freire, marchando com ele, Paulo Freire, que propõe na Pedagogia da Indignação: denúncia, anúncio, profecia, sonho, utopia.

‘Protesta contra o tirano, se recusa à traição’, em 1961. E protesta hoje contra quem entrega as riquezas do Brasil, acaba com o meio ambiente e a Amazônia do Brasil, contra quem, em 2021, despreza e trai a soberania de um povo, de um país, de uma Nação.

‘Um povo só é bem grande, se for livre sua Nação’. Foi a luta de gaúchas e gaúchos em 1961. É a luta do povo brasileiro em 2021. Avante, brasileiras e brasileiros, de pé!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko