Desde o dia 22 de agosto, indígenas de diversas etnias de todo o Brasil estão participando do Acampamento Luta Pela Vida, montado na Esplanada dos Ministérios. Ezequiel Nascimento de Castro, indígena Tremembé da Barra do Mundaú, em Itapipoca (CE), é professor indígena e membro da Comissão de Juventude Indígena do Ceará (Cojice) afirma que este ano, o evento ganha ainda mais importância, já que acontece em meio a uma série de projetos que podem ter impactos dramáticos para os povos e comunidades originários.
“Estamos nos articulando pra fazer o acampamento mesmo fora do período que geralmente fazemos, e é importante que a gente consiga fazer agora, sobretudo durante o governo Bolsonaro que vem se mostrando um governo totalmente contra os povos indígenas, como por exemplo com a aprovação do PL 490, sobre o marco temporal”, diz Ezequiel.
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Este ano, Ezequiel informa que os indígenas irão a Brasília não somente dizer que são contra todos esses retrocessos, mas reafirmar as suas lutas em cada território, em cada terra indígena, em cada município. “Dizer que estamos aqui e vamos continuar aqui resistindo, e dizendo nenhum direito a menos, nenhum centímetro de terra a menos e nenhuma gota de sangue a mais”.
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O comunicador indígena, Luan Castro Tremembé é um dos participantes do encontro. De acordo com ele, 14 etnias do Ceará estão presentes no Acampamento Luta Pela Vida, como está sendo chamado este ano. Aproximadamente 250 indígenas fazem parte da delegação cearense que está presente no acampamento este ano.
Excepcionalmente hoje (25), Luan explica que o clima no acampamento está tenso por conta da votação do Projeto de Lei 490 e o marco temporal, que acontece hoje no Supremo Tribunal Federal. “Tá todo mundo, digamos que, com medo, mas ao mesmo tempo que a gente tá com medo a gente tá confiante, sabe? Confiante nos encantados, que a gente sabe que são eles que vão guiar, que se for para ser vai ser e de qualquer maneira a gente vai estar resistindo, a gente não vai desistir”.
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Mas ao mesmo tempo que ocorre tudo isso, todo esse processo do medo, da apreensão, Luan explica o encontro com representação de todos os povos do Brasil, de diversas etnias tem sido muito fortalecedor. “Participar dos rituais de cada povo, conhecer a realidade de cada povo tem sido incrível, mas a gente também passa por inúmeras dificuldades aqui, desde no sentido da logística da vinda até aqui, para conseguir ônibus, para conseguir alimentação, até a nossa estadia aqui que é em acampamento”.
Sobre o encontro, Luan afirma que todas as expectativas para esse encontro já foram superadas. De acordo com ele, era esperado um público de 5 mil indígenas e esse número já chega a quase 8 mil. “Nosso objetivo aqui é lembrar as pessoas que Brasil é terra indígena. Pedir a demarcação de nossos territórios, e este ano, o acampamento vem muito forte com o grito contra o Projeto de Lei 490, que é um projeto de lei que altera a Constituição Brasileira e que representa um grande retrocesso para nossas lutas. E também contra o marco temporal. Então nosso objetivo é dar esse grito. De dizer o nosso ‘não’ para que esse projeto não seja aprovado hoje”.
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O Acampamento Luta Pela Vida acontece de 22 à 28 de agosto, em Brasília. A programação completa pode ser conferida no site Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
Fonte: BdF Ceará
Edição: Monyse Ravena