Que as pessoas possam sair do cômodo fechado onde nos querem e respirar os ares de liberdade de Gama
A história parece saída dos filmes de super-heróis: no Brasil escravocrata, uma criança negra nasce livre na Bahia, mas é vendida pelo pai e passa a viver em São Paulo. Após oito anos, conquista sua liberdade, se envolve profundamente com o estudo de leis e passa a advogar em favor da alforria de outras pessoas escravizadas, assumindo papel fundamental na luta da população negra pela abolição da escravidão no Brasil.
Esse é o intelectual Luiz Gama, celebrado para como herói do povo brasileiro e personagem principal do filme “Doutor Gama”, apresentado hoje (20) no Programa Bem Viver.
“Essa é a nossa História. Como homem preto, quando falo sobre Luiz Gama é que como seu eu resgatasse a história de um parente, de um ancestral”, diz o diretor do longa Jeferson De. “Queremos que as pessoas conheçam Luiz Gama e sobretudo leiam Luiz Gama. O filme é um convite para que as pessoas conheçam a obra dele. Aí cumpriremos nossa missão: ajudar as pessoas a sair desse cômodo fechado onde nos querem e a respirar os ares de liberdade de Luiz Gama.”
A representatividade foi eixo central na produção, não apenas na escolha de um elenco formato majoritariamente por artistas negros, incluindo a atriz Zezé Motta, como também na seleção de profissionais negros do audiovisual, que fizeram a produção acontecer por trás das câmeras. “Foi um filme que aconteceu de maneira intensa e integral. Luiz Gama é um personagem central da nossa História, que precisa ser relembrado”, pontuou o diretor.
“Doutor Gama” foi selecionado para representar o Brasil no maior festival de cinema negro do mundo, o American Black Film Festival, que credencia produções para concorrerem ao Oscar.
Até o momento, o filme está disponível em diversos cinemas brasileiros e na plataforma digital Globoplay. Na entrevista, o Jeferson lamentou que, por enquanto, a produção não está disponível gratuitamente e garantiu que vai seguir negociando para que ela chegue a TV aberta.
Quilombolas na universidade
Um estudo divulgado recentemente pelo Grupo Multidisciplinar de Ações Afirmativas (Gemaa) revelou que apenas 0,52% dos estudantes de universidades públicas do país são quilombolas, somando 384 mil alunos.
Os responsáveis pela pesquisa avaliam que o número é baixo pela falta de ações afirmativas voltadas a essa população. Apesar da política de cotas já estar estabelecida no Brasil há quase 10 anos, ela dificilmente chega para os quilombolas e apenas 20% das universidades públicas têm vagas exclusivas para esse grupo étnico.
Como não há uma política federal sobre o tema, a decisão fica a cargo de cada estado. Apenas 11 possuem cotas para quilombolas.
Em memória de Mané da Conceição
Nesta semana, o Brasil perdeu um dos principais expoentes da luta por distribuição de terras e pela democracia: Manoel da Conceição, que faleceu na quarta-feira (17), aos 86 anos de idade. Perseguido, torturado e exilado, Mané da Conceição, como era mais conhecido, nasceu em 1935, no povoado Pedra Grande, no município de Coroatá, no Maranhão. A juventude foi toda ligada à terra. Antes mesmo da ditadura militar, ele já lutava ao lado de trabalhadores e trabalhadoras sem terra, contra grileiros e posseiros do maranhão.
Em 1963, participou da fundação de um sindicato dos trabalhadores rurais autônomos da região. Logo depois, em 1964, foi eleito presidente da organização, no mesmo ano que os militares deram o golpe e instaram a ditadura no Brasil.
Esse período foi muito duro para Mané da Conceição. Um dos episódios mais violentos foi uma invasão policial no sindicato, da qual saiu feriado dois tiros no pé direito. Conceição foi levado pelos agentes e preso. Só após muita mobilização popular foi garantido atendimento médico digno. Ele fez uma cirurgia ele passou a usar uma perna mecânica.
Foram três anos preso, até que ele conseguiu asilo político na Europa e permaneceu lá por quase quatro anos. Com a anistia em 1979, Manoel da Conceição retornou ao país e participou da articulação de inúmeras associações, entidades e movimentos sociais, como do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Partido dos Trabalhadores (PT).
Depois de tantos anos de luta, veio o reconhecimento: recebeu diversos prêmios entregues por organizações sociais e entidades oficias, como Câmara dos Deputados, o Senado Federal e o próprio governo federal. Mais recentemente, ganhou o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Maranhão. O corpo dele foi sepultado ontem, em Imperatriz (MA), onde vivia com a esposa e os filhos. Ele foi lembrado pelo ex-presidente lula, que visitou o Maranhão ontem.
Chocolate
O Programa Bem Viver vai pro sul da Bahia para conhecer uma das maiores delícias produzidas por lá: o Chocolate Terra Justa.
Desenvolvido dentro de assentamentos do MST, essa iguaria respeita todas as leis da natureza, com produção 100% agroflorestal. São 3 mil hectares de plantação de cacau, cultivados por 1200 famílias, que tiram toda sua renda dessa produção.
Comida de verdade
A cozinheira profissional Sayonara Salum ensina uma receita fácil, simples, rápida e ótima para diferentes ocasiões: hambúrguer de grão-de-bico. Os ingredientes são simples e já estão na maioria das geladeiras.
Quem não em processador de alimentos não precisa se intimidar: Sayonara ensina uma alternativa de preparo ideal para quem não tem o equipamento. É possível ainda congelar os hambúrgueres para saborear naqueles dias de mais correria.
Sintonize
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Edição: Sarah Fernandes