Organizações civis de educação alimentar e defensoras de direitos do consumidor fizeram nesta terça-feira (17) uma ação em frente à entrada da estação de metrô de Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, para protestar contra a decisão da concessionária Metrô Rio de renomear a estação para "Botafogo / Coca-Cola".
Durante a ação da ACT Promoção da Saúde, que assina um manifesto com outras organizações, ativistas abordaram usuários do metrô e pessoas no entorno do acesso à estação para realizar uma conscientização sobre os riscos associados ao consumo de refrigerantes, como obesidade, diabetes e hipertensão.
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A diretora-geral da ACT, Paula Johns, falou com o Brasil de Fato sobre a percepção das pessoas que passavam no local durante a ação. Ela também rechaçou a estratégia publicitária de "naming rights", ou seja, o direito de uso de nomes por uma marca de um transporte que é uma concessão pública.
"Muita gente apoiou nossa ação por achar esquisita essa invasão do espaço público e do metrô, que é uma concessão pública, com o nome de uma marca. É um processo que aconteceu sem nenhuma transparência, a associação de moradores do bairro também não sabia. Queremos promover um debate que nunca houve para problematizar isso, o que o entorno acha dessa mudança?", questionou Paula Johns.
Outro agravante apontado pelas organizações que protestam contra a atitude da concessionária Metrô Rio é o fato de a estação de Botafogo ser estação terminal, em que usuários passam mais tempo e, consequentemente, ouvem repetidas vezes nos alto-falantes o nome "Coca-Cola".
"É uma lavagem cerebral. São muitos abusos cometidos por uma marca 'toda-poderosa'. É uma marca 'top of mind' [que está no topo das marcas lembradas pelos consumidores] também nos problemas que ela causa à saúde e ao meio ambiente", completou a diretora da ACT.
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Histórico
A mudança do nome da estação para "Botafogo / Coca-Cola" foi anunciada em janeiro deste ano. Segundo as organizações, a Agência Reguladora de Serviços Públicos de Transportes no Estado do Rio, a Agetransp-RJ, só tomou conhecimento da parceria entre o Metrô Rio e a Coca-Cola seis dias depois do fato.
Na época, a Agetransp-RJ e a Secretaria estadual de Transportes informaram que não existe nenhum impedimento legal no contrato para a empresa que explora o serviço de transporte como concessionária. É direito do Metrô Rio, segundo a secretaria e a agência, buscar fontes de renda alternativas em contratos publicitários.
Manifesto
No documento público, as organizações criticaram a "mudança arbitrária, sem diálogo prévio, transparência, ou qualquer benefício para a população e para o transporte público" e manifestaram "profunda indignação com a venda do nome de um espaço público para promover a marca de uma empresa responsável pela manufatura de produtos reconhecidamente nocivos à saúde".
O manifesto critica a captura do nome da estação como "publicidade disfarçada e abusiva de um produto cujo consumo é incompatível com a alimentação adequada e saudável, como demonstram inúmeras evidências científicas" e aponta que cerca de 10% dos casos de obesidade infantil no Brasil podem ser atribuídos ao consumo de bebidas açucaradas".
"É preciso que a Agetransp e o Ministério Público atuem para impedir que os valores do mercado se apropriem do espaço público, no caso, do nome de uma estação de metrô. Precisamos estabelecer os limites morais do mercado. Há coisas que não devem estar à venda", afirma outro trecho do documento.
Contra o uso da marca no nome da estação, assinam o manifesto: a ACT Promoção da Saúde, a Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, o IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, FIAN Brasil, Instituto Desiderata, Grupo de Estudos, Pesquisas e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde (GEPPAAS/UFMG), Movimento Infância Livre de Consumismo (MILC), Observatório de Obesidade (UERJ), Núcleo de Estudos em Saúde e Nutrição na Escola (NESANE/ UFRJ), Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre o Ambiente Alimentar (NEPAAL), Grupo de Pesquisa em Epidemiologia, Nutrição e Saúde Pública (Pensap/ Fiocruz) e a Associação de Moradores e Amigos de Botafogo (AMAB).
Edição: Mariana Pitasse