Meio ambiente

Caiaquistas atravessam 350 km do rio Paraná por uma lei de proteção dos pântanos argentinos

Projeto de lei está parado no Congresso; já foram desmatados 350 mil hectares das zonas úmidas no país.

Brasil de Fato | Buenos Aires, Argentina |
Grupo de remadores realiza o trajeto de 350km via rio Paraná e chegará na próxima quarta-feira (18) na praça do Congresso, em Buenos Aires. - Pablo Benvenuto

Um grupo de mais de 50 caiaquistas realiza uma travessia pelo rio Paraná, na Argentina, para reivindicar a lei de zonas úmidas – chamada "ley de humedales" –, que ocupa mais de 20% do território do país vizinho. A remada coletiva terá duração total de uma semana, com paradas anunciadas em algumas cidades, onde o grupo tem recebido apoio e ampliado o debate sobre a necessidade de uma legislação que proteja o pântano do delta do Paraná.

"As pessoas contam que a fumaça é constante, e que nas últimas semanas foi insuportável", relatou Macarena Romero Acuña, antropóloga e integrante da organização Multisectorial, em entrevista ao jornal Tiempo Argentino. "Há pessoas que moram nessas zonas úmidas, nem tudo aqui é extrativismo. E estamos vendo muitos casos assim, de gente que tem acompanhado preocupada, não necessariamente militando em organizações, mas que fazem parte da causa."

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A convocatória, realizada pela Multisectorial Humedales, da província de Rosário, com mais 380 organizações, foi impulsionada a partir dos incêndios das ilhas do delta do Paraná do ano passado, que bateram recordes. Estima-se que pelo menos 350 mil hectares já foram perdidos de maneira irreversível pelo fogo, provocado para criar pastagens para gado, instalações agrícolas ou desenvolvimento imobiliário.

O grupo remará por cerca de 350 km para chegar na próxima quarta-feira (18) na cidade de Buenos Aires, para concluir a manifestação por terra. Na ocasião, haverá uma concentração na Praça de Maio, onde se localiza a Casa Rosada, sede do governo, e a marcha irá em direção à Praça do Congresso, em frente ao Congresso Nacional.


"Entendemos que a saída para esta situação é coletiva", afirma organização que convoca às manifestações pela lei de zonas úmidas. / Pablo Benvenuto

O grupo que realiza a travessia conta com o apoio logístico por terra, que contribui com o fornecimento de alimentos e cuidado coletivo. Fazem paradas técnicas de almoço e descanso noturno nas diferentes orlas das cidades ribeirinhas. Nesta segunda-feira (16), o grupo passa pelo Parque Nacional Ciervo de los Pantanos, na cidade de Zárate, província de Buenos Aires.

Nas redes sociais, é possível acompanhar o trajeto e o debate a partir da hashtag #LeyDeHumedalesYa e pelo perfil do Instagram @multisectorialhumedales, onde compartilham fotos e fazem lives com os participantes da travessia.

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Um projeto prometido e postergado

O projeto de lei de proteção às zonas úmidas foi um conjunto de 15 textos já apresentados previamente ao Congresso. Para chegar ao tratamento no recinto e ir, finalmente, à votação, o PL precisa passar nas três comissões atribuídas para avaliação prévia na Câmara dos Deputados.

No dia 20 de novembro do ano passado, recebeu o aval da Comissão de Recursos Naturais e Conservação do Ambiente Humano, na Câmara dos Deputados. Desde então, aguarda seu tratamento nas comissões de Agricultura e Gado, Orçamento e Fazenda e a de Interesses Portuários, Marítimos, Fluviais e Pesqueiros.

"Exigimos que o projeto de lei seja tratado, de maneira urgente, em uma plenária das três comissões restantes", pontua a convocatória da Multisectorial. "Legisladores, esperamos que vocês estejam à altura para começar a priorizar nossa saúde e a dos nossos territórios sobre um modelo produtivo que só mostra capacidade para destruí-lo a todo custo."

Edição: Thales Schmidt