Aprendi que existem vários tipos de estrofes no cordel: a quadra, a sextilha, a septilha e o galope
Me perdoem meus ouvintes
E os manuais de jornalismo
Mas esse programa eu começo
Inspirada no cordelismo
De crianças poetisas
Que dão show de profissionalismo.
São meninos e meninas
De língua solta e ligeira
Que declamam sua arte
Cheia de vida e brincadeira
Ajudando a manter viva
A cultura brasileira.
A edição de hoje (11) do Radinho BdF começa inspirada nas sextilhas da literatura de cordel, uma manifestação cultural brasileira considerada Patrimônio Imaterial do Brasil, desde 2018. Para conhecer mais sobre a história, as regras e os grandes mestres cordelistas, a produção ouviu crianças e adultos que se dedicam a escrever e recitar cordéis.
Os cordéis são publicados em livrinhos pequenos, que lembram folhas sulfites coloridas dobradas ao meio. Na capa sempre tem um desenho feito com xilogravura. Muitas vezes eles são vendidos em feiras e ficam expostos pendurados em um barbante ou cordão, daí o seu nome: cordel.
Meu primeiro nome é Ana
O segundo é Beatriz
Sou folha do Seridó
De gente forte e feliz
Sou menina sonhadora
Me considerado doutora
Na vida de aprendiz
É assim que a cordelista Ana Beatriz Dantas Cortês, de 11 anos, moradora de Carnaúba dos Dantas (RN) se apresenta. “Uma das características que eu mais gosto no cordel é o jeito dos poetas declamarem. Eu costumo ler muito, principalmente os cordéis de Antônio Francisco. Eu amo ler, é uma das coisas que eu mais gosto na vida. Minha relação com o cordel é muito especial”.
Os poemas da Ana Beatriz são publicados regularmente na conta dela no Instagram.
O estilo foi trazido de Portugal e adaptado às particularidades da cultura brasileira, em especial a da região Nordeste, onde a prática é mais forte e popular. Os versos nascem da oralidade e contam causos, relatos do cotidiano, lendas, biografias e ainda ajudam em campanhas informativas sobre saúde. No passado, foram usados até como um meio de publicar notícias.
Sou Anilda Figueiredo, o Nordeste é meu lugar
Minha cidade é o Crato, fica ao sul do Ceará
Desde criança eu vi minha avó contar histórias
Em livrinhos de cordel, que ficaram na memória
O Radinho BdF convidou a presidenta da Academia de Cordelistas do Crato, no Ceará, e integrante da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Anilda Figueiredo, para conversar com as crianças sobre esse tipo de produções.
“Literatura de cordel é uma narrativa popular em verso. Muitos dizem que o cordel surgiu há muitos anos, mas com as características que tem hoje podemos afirmar que foi em Portugal, com trovadores medievais, que declamaram poemas suas poesias ao som de instrumentos musicais”, contou.
Brincando com rimas
O cordel tem algumas regras: a rima, que repete os sons das últimas palavras dos versos; a métrica, que é a quantidade de sílabas em cada um dos versos; e a oração, que é uma frase com verbo.
“Eu aprendi que existem vários tipos de estrofes no cordel: a quadra, a sextilha, a septilha, o galope... O cordel é muito diferente das outras obras. As crônicas, por exemplo, não precisam de rima, métrica e oração. Já o cordel precisa ter um número certo de sílabas tônicas, precisa ter uma certa métrica e um número certo de rimas”, disse o cordelista João Neto, que tem 12 anos e mora em Equador (RN).
Para conhecer os cordéis que o João Neto escreve, é só acessar o perfil dele no Instagram e no Youtube.
“Eu conheci a literatura de cordel através dos eventos que eu participava. Sempre os poetas levavam suas obras e eu fui começando a ler e a aprender mais sobre o cordel”, disse a cordelista Clara Bezerra, que tem 14 anos e mora em Carnaúba dos Dantas (RN).
Clara já tem três cordéis publicados, o último deles “Chapeuzinho de Couro”, faz uma releitura do clássico “Chapeuzinho Vermelho”. Quem tiver interesse em conhecer e adquirir, é só acessar o perfil dela no Instagram.
Música, histórias e brincadeiras
Além de ouvir muitos versos de cordéis, recitados por crianças e adultos, os ouvintes do Radinho BdF podem se divertir com as músicas “Minha Princesa Cordel”, de Gilberto Gil e Roberta Sá, “Literatura de Cordel”, de Francisco Diniz e “Cangaceiro”, do Cordel Encantado.
As crianças conhecem ainda um cordel de terror, chamado “A Perna Cabeluda”, contado pela cordelista e contadora de histórias Mariane Bigio, que também publica suas histórias no Youtube.
Na hora da brincadeira, os ouvintes mirins aprendem a reproduzir técnicas da xilogravura, as tradicionais ilustrações das capas dos cordéis, com bandejas de isopor que iriam para o lixo. Quem ensina essa técnica simples e divertida é o artista educador Rodrigo Dias.
Sintonize
O programa Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, das 9h às 9h30, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista. A edição também é transmitida na Rádio Brasil de Fato, às 9h, que pode ser ouvida no site do BdF.
Em diferentes dias e horários, o programa também é transmitido na Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), e na Rádio Terra HD 95,3 FM.
Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o Radinho BdF de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da lista de distribuição, entre em contato pelo e-mail: [email protected].
Edição: Sarah Fernandes