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Memória

Artigo | Joaquin Piñero: no seu aniversário de 52 anos, estaria orgulhoso do Brasil de Fato RJ

Joaquin foi um apaixonado pelo projeto, como também foram Antônio Neiva, Vito Giannotti e Mário Augusto Jakobiskind

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Joaquin se orgulhava profundamente do Brasil de Fato RJ, jornal que foi responsável por erguer em terras cariocas - Arquivo pessoal

Neste dia 11 de agosto Joaquin Piñero, ou Kima, faria 52 anos. Também nesta mesma data fazem cinco meses que se "encantou", como dizia Guimarães Rosa. 

Joaquin assumiu o escritório nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio de Janeiro, no início de 2013, com algumas tarefas importantes. Dentre elas, a construção de um veículo de comunicação popular, um jornal impresso, em formato tabloide, para ser distribuído gratuitamente nas ruas do Rio de Janeiro.

Sou obrigado a confessar que quando ouvi a ideia a primeira vez fiquei bastante reticente quanto à viabilidade. De lá para cá, foram centenas de edições lançadas semanalmente o estado, milhares de cópias distribuídas em estações de trem, metrô e barcas, terminais rodoviários, em portas de fábricas, na portaria de escritórios ou em outros lugares de concentração de trabalhadores.

Como leitor assíduo, Joaquín acompanhava as páginas impressas do Brasil de Fato com atenção.

Fazia questão de dar sua opinião sobre as capas e escrever sobre a situação da América Latina, na coluna que mantinha, chamada “America Caliente”. Se orgulhava profundamente do jornal do qual foi responsável por erguer em terras cariocas.

Tivemos ainda um programa diário de rádio que, embora não tenha se sustentado até o presente, marcou o esforço de chegarmos na casa da classe trabalhadora, além de encontrar, por meio da distribuição do tabloide, no caminho para o trabalho.

Por conta da pandemia, estamos sem publicar o Brasil de Fato impresso há muitos meses. Esperamos ter novidades sobre isso para daqui a pouco. Joaquin ficaria extremamente orgulhoso por ver a equipe que ele montou, tocando com afinco a tarefa. Vibraria com nossa estreia no Instagram e com as demais novidades que anunciaremos em outubro.

Mas o Brasil de Fato não foi a única tarefa que Joaquin ajudou a tocar em terras fluminenses.

Fundou a Frente Brasil Popular, se engajou firmemente na luta contra o golpe de 2016, ajudou a organizar a Comissão Popular da Verdade, contribuiu com os projetos de agroecologia do MST, em parceria com o município de Maricá, além de ter fundado e coordenado o Armazém do Campo do Rio de Janeiro.

Há quase três anos, o Armazém, espaço de comercialização do MST, na Lapa, vende produtos orgânicos e agroecológicos de assentamentos da reforma agrária, empresas parceiras e pequenos agricultores. A meta é fazer alimento saudável chegar à mesa da classe trabalhadora e demonstrar que a luta pela reforma agrária popular é também a luta pela soberania alimentar.

O Armazém, antes da pandemia, se constituiu como espaço de formação política, debates e manifestações culturais. Sempre repleto do jeito camponês de acolher, da mística Sem Terra de receber. Tudo para demarcar que a nova mulher e o novo homem queremos construir desde já. E Joaquin deixou ali também sua marca.


Como uma das homenagens após seu falecimento, Joaquín passou a nomear a Fazenda Valquimar Reis Fernandes (Joaquín Piñero) em Maricá (RJ) / Divulgação

Entretanto, a comunicação popular e o Brasil de Fato foram um caso à parte na vida de nosso camarada. Ele foi um apaixonado pelo projeto, como também foram Antônio Neiva, Vito Giannotti e Mário Augusto Jakobiskind. 

Um dia meu filho me perguntará o que fazia nos últimos anos da minha vida. Onde estava entre as chamadas jornadas de junho, o golpe de 2016, o patético e antipopular governo Temer e a tragédia que representa o governo Bolsonaro.

Terei muito orgulho de dizer que estava com as valorosas companheiras e com os valorosos companheiros do Campo Popular, estava com Neiva, Vito e Mário Augusto, estava com o Kima, na luta da comunicação popular, na luta pela disputa ideológica do povão. Direi que, sob a direção de Joaquin, ajudei a construir o sistema Brasil de Fato de comunicação no estado do Rio de Janeiro.

Seguiremos, Joaquin! A tarefa é árdua, mas nosso povo vale a luta. Nosso povo vale a luta!

*Rodrigo Marcelino é coordenador político do Brasil de Fato no Rio de Janeiro. 

Edição: Mariana Pitasse