Alternativa

Artigo | Cidadania continental, resposta ao Neofascismo

Dentre as diversas opressões exercidas sobre o continente, movimentos suscitam plataforma de uma cidadania universal

Brasil de Fato | São Paulo |
Manifestantes marcham na capital de Bolívia, La Paz, carregando bandeiras wiphala, símbolo dos povos originários
Manifestantes marcham na capital de Bolívia, La Paz, carregando bandeiras wiphala, símbolo dos povos originários - Jorge Bernal / AFP

Entre as propostas mais desafiadoras que vivemos na América Latina e Caribe, está a retomada do sonho de profetas da libertação como Simon Bolívar na Venezuela, José Martí em Cuba e tantos outros e outras que nos propõem fazer da América Latina e Caribe uma pátria grande ou Nuestra América. Entre os grupos e iniciativas da sociedade civil internacional, os núcleos já formados em diversos países do coletivo que se denomina “Ágora dos/das Habitantes da Terra” têm suscitado como plataforma básica de ação a consciência de uma cidadania universal.  

Como concretização desse programa urgente, o grupo da Ágora Brasil se sente convocado pelo apelo latino-americano, relançado nesses dias por um grupo de ministros de países latino-americanos no México para reforçar os organismos de integração da pátria grande.  

Este mês de julho de 2021 foi marcado por novas agressões que o bloqueio do Império dos Estados Unidos e a guerra midiática que ele patrocina perpetraram contra o povo e o governo de Cuba e da Venezuela. As respostas de grande parte da sociedade civil e dos movimentos sociais organizados nos dois países foram de solidariedade e de resistência e unidade. Mesmo em meio a realidade difícil, a maior parte das pessoas tem consciência de que as situações realmente lastimáveis são provocadas pelo Império que quer dominar o continente e o mundo.  

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Na direção contrária a isso, temos de recorrer a uma ampliação e democratização do conceito de cidadania. Onde há discriminação econômica, nunca se realizará verdadeira democracia social e política. Apesar de que, em quase todo o mundo, homens e mulheres, das mais diferentes raças e cores, conquistaram, ao menos juridicamente, a igualdade perante a lei e o reconhecimento de sua dignidade e direitos humanos, na atual forma como o mundo está organizado, a vida de alguém branco e com documentos de identidade da Europa Ocidental ou dos Estados Unidos, vale mais do que a vida de cem africanos ou latino-americanos.  

Além disso, em quase toda a América Latina, os povos originários ainda são socialmente marginalizados. É urgente libertar muitos trabalhadores e trabalhadoras, urbanas/os e rurais, ainda mantidos em regimes equivalentes à escravidão. Em quase todos os países, ser negro significa também ser pobre. Além disso, a mulher, por ser mulher, ainda sofre discriminações.  

Transformar essa realidade só é possível através de lutas em várias instâncias, desde as políticas de base até o apoio à autonomia dos países e o direito de cada povo escolher o governo que quiser.  

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O desafio ecológico e a sustentabilidade do planeta exigem mudanças civilizatórias e isso está sendo assumido e discutido pelos grupos de base, movimentos sociais e setores conscientes da sociedade civil.  

Muitas pessoas e grupos ligam estes processos sociais transformadores à busca de uma espiritualidade que contempla no universo e em cada ser humano a presença divina do Espírito que é Amor e fonte de amor. Para quem busca viver a mensagem profética vinda da tradição judaica e cristã, fortalecer núcleos locais ou regionais da Ágora dos/das Habitantes da Terra é um modo atual e laical de atualizar o primeiro movimento do profeta Jesus e contaminar o mundo de pequenos núcleos de amorosidade e justiça transformadoras, testemunhas do projeto divino de paz, justiça e libertação para a humanidade e todos os seres vivos. 

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal 

Edição: Arturo Hartmann