Rio Grande do Sul

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ONDE ESTÃO!!!???

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"Senhor prefeito de Porto Alegre, senhor governador do estado, a fome está na porta, junto com a miséria e o desemprego. Quando seus governos vão se mobilizar e se juntar à sociedade para enfrentá-los?" - Divulgação
Onde estão as políticas públicas da Prefeitura e do governo do estado para enfrentar a fome?

Em tempos de pandemia, chegando ao absurdo número de quase 600 mil mortes no Brasil, e em meio ao frio das últimas semanas do inverno gaúcho de 2021, é prudente, por todos os motivos do mundo, para quem puder, ficar em casa o maior tempo possível. Ainda mais um idoso como eu.

No meio das trocentas mensagens de whatsapp de cada dia, das dezenas de ‘lives’ semanais, sempre sobra algum tempo para ouvir rádio, ler notícias e ver televisão. E não há dia em que eu não veja, nos meios de comunicação comerciais, matérias e notícias de como as comunidades e a sociedade se mobilizam para enfrentar a fome, a miséria, o desemprego e o frio, especialmente da população em situação de rua, que cresce rapidamente em número, e nas periferias em geral, chamadas vilas em Porto Alegre.

A mobilização está por toda parte: Associações de Bairros, sindicatos, igrejas e pastorais, Centrais Sindicais, entidades da sociedade civil, ONGs, com distribuição de comida, quentinhas, cestas básicas e roupas. Quem garante toneladas e mais toneladas de alimentos são MST, MPA, as organizações de agricultores familiares, e assim por diante. Quem organiza dezenas de Comitês Populares contra a Fome são os movimentos sociais, as organizações comunitárias, as pessoas de boa vontade preocupadas com quem passa fome e frio. A solidariedade, felizmente, está por toda parte. Menos onde deveria estar em primeiro lugar.

As notícias são cada dia mais tristes. Leio: “Fome leva às ruas de Porto Alegre pessoas que têm onde morar, dizem entidades. A necessidade de recorrer a doações para ter o que comer vem se evidenciando na capital gaúcha” (www.sul21.com.br, 31.07.2021). 

“Fila pra conseguir doação de ossos é flagrante da luta de famílias brasileiras. 19 milhões de brasileiras e brasileiros acordam atualmente sem saber se vão conseguir alguma refeição para o dia. Há dois anos eram 10 milhões. Em Cuiabá, uma cena chama a atenção: a distribuição de pedaços de ossos com retalhos de carne tem formado filas. O açougue que distribui os ossos há dez anos diz que isso acontecia apenas uma vez por semana, e agora são três vezes. ‘Tem gente que pega e já come cru mesmo’, diz a dona do açougue. Enquanto isso, o arroz ficou 56% mais caro, o feijão preto aumentou 71%” (Programa Fantástico, 01.08.2021).

No meio de tanta dor e sofrimento, me pergunto todos os dias, ao ver as notícias e saber das ações de solidariedade da sociedade civil. Cadê o prefeito da Capital, Sebastião Melo, e o seu governo? Cadê o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o seu governo? Já nem me pergunto sobre o presidente da República, porque, neste caso, é preciso lutar pelo impeachment. Governo federal que, inclusive, acabou com o CONSEA, Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, como uma das primeiras medidas de seu governo e com todas as políticas e programas antes existentes, e obrigando a sociedade organizada a fazer uma Conferência Popular de SSAN, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, que está em andamento.

Em 2019, antes da pandemia, como conselheiro do CONSEA RS, e aproveitando uma solenidade no Palácio Piratini, apresentei-me ao senhor governador e atrevi-me a falar com o senhor governador, que eu não conhecia pessoalmente. E lhe pedi uma audiência para o CONSEA RS. Isso aconteceu bem antes da situação dramática atual de fome e das consequências da pandemia. O CONSEA RS está esperando a audiência com o governador até hoje!

Onde estão as políticas públicas da Prefeitura de Porto Alegre e do governo do estado para enfrentar a fome, a miséria e o desemprego? Onde estão a solidariedade, o compromisso ético dos governantes com quem passa fome? Só a sociedade se mobiliza, os governos estão preocupados em entregar o patrimônio público construído ao longo de décadas, CEEE, CORSAN, BANRISUL, DMAE, CARRIS, e acabando com a consulta à população sobre eventuais privatizações. E obrigando a sociedade civil organizada à realização de um Plebiscito popular, que está em preparação e vai acontecer no segundo semestre de 2021.

Na década de 1990, junto com a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, quando conheci Betinho, Herbert de Souza, pessoalmente, eu em nome da Prefeitura municipal de Porto Alegre, diretamente dos gabinetes do então prefeito e vice-prefeito de Porto Alegre, foram organizadas muitas ações contra a fome e a miséria, sociedade e governo juntos, Ação da Cidadania e governo municipal.

Nos anos 2000, convidado por Frei Betto para a equipe de educadores populares do TALHER, para mobilizar a sociedade no Programa Fome Zero, para, como dizia Frei Betto, ‘matar a fome de pão e saciar junto a sede de beleza’, sociedade e governo federal mobilizaram-se juntos. Em 2014, segundo a FAO/ONU, o Brasil saiu do Mapa da Fome pela primeira vez na história brasileira. Agora, 2021, o Brasil está voltando, ou já voltou, infelizmente, pela inação dos governos, ao Mapa da Fome.

Escreve Maister F. da Silva: ‘A solidariedade transformada em organização popular’ (www.brasildefators.com.br, 03.08.2021): “São mulheres que sustentam a experiência do Coletivo Multiplicidade em Porto Alegre organizadas em cozinhas comunitárias descentralizadas em todas as regiões da cidade. As mulheres, predominantemente, são as lideranças principais e o rosto público da resistência, da solidariedade e da esperança. As ações de solidariedade proliferam nas comunidades periféricas da nossa Porto Alegre e Brasil afora.”

Senhor prefeito de Porto Alegre, senhor governador do estado, a fome está na porta, junto com a miséria e o desemprego. Quando seus governos vão se mobilizar e se juntar à sociedade para enfrentá-los, construir, ou reconstruir, políticas e programas que enfrentem o maior drama que hoje vivem trabalhadoras e trabalhadoras, os mais pobres entre os pobres, e a sociedade porto-alegrense, gaúcha e brasileira!!!??? 

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko