Música brasileira

Morre, aos 93 anos, o crítico e pesquisador de música brasileira José Ramos Tinhorão

Na profissão desde o início dos anos 1950, colaborou com várias redações e tornou-se um pesquisador incansável da música

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Nascido José Ramos, ele virou Tinhorão a partir de uma brincadeira de redação. Tornou-se sinônimo de pesquisa em música popular - Rovena Rosa / Agência Brasil

Na profissão desde o início dos anos 1950, o jornalista José Ramos Tinhorão criou fama como implacável crítico musical. Ficou famoso o início de um artigo de 1963 para a revista Senhor, em que citava a jovem Bossa Nova e exibia seu estilo mordaz:

“Filha de aventuras de apartamento com a música americana, que inegavelmente é sua mãe, a Bossa Nova padece do mesmo mal de tantas crianças de Copacabana, o bairro onde nasceu: não sabe quem é o pai”.

Nascido em Santos, no litoral paulista, em 1928, Tinhorão foi com a família para o Rio de Janeiro em 1938. Ali se formou em Direito e em Jornalismo, ao mesmo tempo, e começou a trabalhar como free-lancer, até obter o registro profissional.

Primeiro no Diário Carioca, depois no Jornal do Brasil, colaborou com várias redações e tornou-se um pesquisador incansável da música feita no Brasil. Morreu nesta terça-feira (3), aos 93 anos, segundo informou a Editora 34, que publicava seus (vários) livros. As causas não foram divulgadas.

Os 90 anos, em 2018, incluíram bate-papo e roda de samba, com a presença dos jornalistas Elizabeth Lorenzotti, biógrafa de Tinhorão, e Assis Ângelo, pesquisador de cultura popular.

Tinhorão, por sinal, era apelido – um dia, foi chamado assim na redação e o nome pegou. José Ramos ficou indignado quando viu seu nome assinado como J. Ramos Tinhorão logo na primeira matéria, mas acabou sendo convencido, ou quase, das vantagens que a “exclusividade” nominal lhe traria.

Brasileiro de valor

“Advogado e jornalista, Tinhorão sempre soube separar o joio do trigo”, escreveu o amigo Assis Ângelo em seu blog.

“Nunca defendeu causa alguma em nenhum tribunal, mas como jornalista marcou profundamente a vida brasileira, especialmente a cultural. Detalhe: nunca deixou de dizer o que quis, seja no rádio, na tevê ou nos seus escritos em jornais e revistas”, acrescentou.

Ele considera Tinhorão, com aproximadamente 30 títulos públicos, a principal referência do país em termos de música popular, “um brasileiro de valor”.

Mesmo aqueles que não concordavam sabem que se trata de um profundo conhecedor do assunto. “Extraordinário historiador da cultura popular, especialmente da música tradicional brasileira. Discordava um bocado dele, mas aprendi à beça com suas pesquisas”, comentou em rede social Sérgio Augusto, colega nos tempos de Correio da Manhã, sob comando de Janio de Freitas, ainda nos anos 1960.

“Impossível, para qualquer um interessado em nossa música, não ter sido impactado por seus livros e textos”, comentou o jornalista e roteirista André Barcinski.