SAÚDE PÚBLICA

Rio de Janeiro tem queda de 25% em cirurgias e tratamento de câncer na pandemia

Levantamento da Defensoria Pública e da UFRJ também mostrou falta de remédio para câncer de mama no estado

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Inca Rio de Janeiro
Segundo o documento, afastamento de profissionais de saúde durante a pandemia pode ter gerado redução na oferta de serviços oncológicos - Reprodução

Uma pesquisa da Defensoria Pública (DP-RJ) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) detectou redução de 25% em cirurgias relacionadas ao câncer desde o início da pandemia da covid-19. Os tratamentos de câncer, com exceção de radioterapia, quimioterapia e cirurgia, caíram 24,8%.

Já as consultas ambulatoriais para esses pacientes foram reduzidas em 21,9% no primeiro trimestre da pandemia, comparada com o trimestre anterior. 

Os dados estão no documento Assistência Oncológica do Estado do Rio de Janeiro durante a pandemia de Covid-19 realizada pela Coordenadoria de Saúde e Tutela Coletiva da DP-RJ e do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ.

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O estudo verificou ainda afastamento de profissionais de saúde durante o primeiro trimestre, redução de encaminhamentos às unidades de saúde, aumento de ausência de pacientes nas sessões de quimioterapia e necessidade de mudança de protocolo devido à falta de medicamentos.

Para levantamento dos dados, foi elaborado um questionário online que foi enviado às unidades que compõem a rede de alta complexidade em oncologia do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado do Rio.

Os dados solicitados no questionário são referentes ao trimestre anterior à pandemia (dezembro/2019, janeiro e fevereiro de 2020) e ao primeiro trimestre de pandemia (março, abril e maio de 2020).

Profissionais de saúde 

Observou-se um percentual de afastamento de 14,6% de médicos, 15,5% de enfermeiros, 22,7% de técnicos de enfermagem, 12,5% de auxiliares de enfermagem e 26,5% de outros profissionais no período.

No total de todas as categorias pesquisadas, foi visto um afastamento de 20,4% dos profissionais alocados em unidades especializadas em oncologia durante o período de março a maio de 2020.

Segundo a Defensoria e a UFRJ, esses afastamentos podem ter gerado redução na oferta de serviços oncológicos, necessidade de realocação de profissionais especialistas em oncologia para outras funções, diminuição das atividades administrativas de alimentação de banco de dados para registro de atividades e captação de recursos, entre outros.

Medicamentos

Foi mencionado ainda nas respostas o desabastecimento de Docetaxel, droga utilizada para o tratamento do câncer de mama, por quatro unidades de saúde (26,6% das unidades); além de analgésicos (6,7%) e anestésicos (6,7%), ambos mencionados por apenas uma unidade cada um.

Dentre as 15 unidades que responderam ao questionário, 80% afirmaram ter um Plano de Contingência criado para o enfrentamento do novo coronavírus na unidade, enquanto 20% dos representantes de unidades não souberam responder.

Foi solicitado o envio dos planos para a Defensoria, porém foram recebidos apenas oito (66,6%) das doze unidades que afirmaram possuir até o momento da elaboração do relatório.

Faltam vagas

O estudo também mostra as deficiências na oferta de tratamento adequado para pessoas com câncer antes da pandemia.

Vistorias feitas pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) entre os anos de 2016 e 2019 consolidadas no levantamento mostram que os leitos de cuidados paliativos não existem em 88% das unidades, sendo oferecidos de acordo com a demanda.

Com relação aos leitos oncológicos, 44% das unidades afirmaram não possuir nenhum leito específico para casos de oncologia, sendo ofertados de acordo com a demanda; e 13 estabelecimentos afirmaram possuir leitos específicos, apresentando uma mediana de 20 leitos por unidade de saúde, variando de 6 a 77 leitos.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Eduardo Miranda