CONSULTA POPULAR

Ganha o "Sim" no plebiscito pelo julgamento de cinco ex-presidentes no México

Votação teve só 7% de participação eleitoral e pode abrir investigação pelo caso Ayotzinapa e outros crimes de Estado

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Mexicanos aprovaram em plebiscito, no último domingo, que ex-presidentes sejam investigados por crimes de Estado - INE México

O México foi às urnas para votar um plebiscito popular, no último domingo (1), e decidir se cinco ex-presidentes deveriam ser julgados por crimes contra o Estado. Segundo a contagem rápida, entre 89% - 96% votaram pelo "Sim", enquanto 1,38% a 1,58% votaram "não" e entre 2% e 9% anularam o voto. 

No entanto, a participação eleitoral foi de apenas 7%, equivalente a 6,5 milhões de pessoas. Para que a consulta fosse levada ao Congresso Nacional, o índice de participação deveria ter atingido, pelo menos, 40% do eleitorado. A campanha busca investigar as cinco últimas gestões presidenciais do país: de Enrique Peña Nieto (2012-2018), Felipe Calderón (2006-2012), Vicente Fox (2000-2006), Ernesto Zedillo (1994 - 2000) e Carlos Salinas (1988-1994). Um dos casos que poderia pesar contra Peña Nieto é a desaparição forçada dos 43 estudantes de Ayotzninapa, em 2014. 

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Jornalistas independentes e movimentos que realizaram a campanha "Juízo sim, Impunidade não" denunciaram irregularidades em várias regiões. De acordo com relatos em redes sociais, o poder eleitoral encerrou as mesas de votação em algumas zonas logo após o meio dia, mudou o local de votação de alguns eleitores no próprio domingo, assim como enviou tardiamente a convocatória para fiscais de mesa, em atos que seriam uma tentativa de "boicotar a consulta". 

Apesar das acusações, o conselheiro-presidente do Instituto Nacional Eleitoral (INE), Lorenzo Córdova, celebrou a primeira consulta popular da história do país. "Foi exitosa por três motivos: é a primeira consulta de caráter nacional com a mesma estrutura das demais eleições; é a consulta popular com maior número de votantes da nossa história; e terceiro, porque se desenvolveu com civilidade e paz em todo o território nacional", declarou em coletiva de imprensa. 

Os mexicanos deveriam responder à pergunta "está de acordo com que se realizem ações pertinentes, segundo a constituição, para abrir um processo de esclarecimento das decisões políticas tomadas durante anos  anteriores por atores políticos, para garantir a justiça e os direitos das possíveis vítimas?".

A proposta inicial incluía os nomes dos cinco ex-presidentes mexicanos, mas, ao passar pela Suprema Corte, foi alterada. A economista mexicana Ana Esther Ceceña acusa que a mudança buscava confundir os eleitores, "chegando a uma redação que quase não se entende o propósito da consulta", afirmou em entrevista à Telesur. 

O presidente Andrés Manuel López Obrador declarou que apoiava o plebiscito, mas não iria votar, porque "seu forte não é a vingança". Já o líder do seu partido, Morena, declarou: "um grande dia para a nossa democracia. Ganhou o 'sim' e começa uma nova etapa contra a impunidade no nosso país, com as vítimas no centro. O clamor por justiça superou enormemente o não. Que sua voz nunca seja esquecida", afirmou Mario Delgado. 

O comitê popular que propôs o plebiscito realizou uma coletiva de imprensa ao final da jornada eleitoral anunciando a criação de tribunais cidadãos pela verdade e justiça e que o plano de ação da próxima etapa da campanha será apresentado em uma nova atividade pública no dia 8 de agosto. 

Edição: Vinícius Segalla