Quarto ministro da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) – escalado no time titular governista na CPI da Covid – passa a comandar a pasta oficialmente na terça-feira (27), no lugar do general Luiz Eduardo Ramos. A pasta já havia sido comandada por Onyx Lorenxoni e pelo também general Braga Netto.
A missão de Nogueira é articular de maneira politicamente competente a até hoje instável relação do presidente com a Câmara dos Deputados. Tão ou mais importante do que tentar pacificar a relação com o Legislativo, o novo ministro terá a tarefa de gerir a distribuição das verbas de emendas parlamentares de R$ 11 bilhões – que alimentam as bases eleitorais dos deputados.
O general Ramos irá para a Secretaria-Geral da Presidência, que hoje é chefiada por Onyx Lorenzoni, um dos mais ferozes aliados de Bolsonaro. Para acomodar Ônix, o presidente vai recriar o Ministério do Trabalho (ou do Emprego e Previdência), extinto para ser incorporado pela Economia do então “superministro” Paulo Guedes.
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A engenharia para construir a ponte ligando o Executivo e o Legislativo é elementar. Ciro Nogueira introduz o caráter politico profissional à Casa Civil e do outro lado estará o correligionário Arthur Lira (PP-AL), o poderoso presidente da Câmara dos Deputados que governa como um sultão os destinos das verbas destinadas aos parlamentares. O critério conhecido também é simples: quanto mais próximo de Lira for o deputado, maior é o pedaço do bolo de R$ 11 bilhões que lhe caberá. Este ano, o sistema é baseado no que ficou conhecido como “orçamento secreto”, pelo qual nem mesmo o governo sabe exatamente quem são os privilegiados escolhidos para aquinhoar suas bases com as verbas parlamentares.
“Fomos nos moldando”
O novo ministro da Casa Civil foi oficializado no posto nesta terça-feira (27). “Vimos que era necessário cada vez mais buscar o apoio do parlamento. Fomos nos moldando”, disse Bolsonaro hoje, para explicar, sua rendição à “velha política” que simulou combater na campanha.
No Twitter, as postagens de Ciro Nogueira e do general Ramos procuram demonstrar sintonia perfeita. Como é usual com o atual governo, Deus foi lembrado pelo novo ministro ao comunicar o sim. “Acabo de aceitar o honroso convite para assumir a chefia da Casa Civil (…). Peço a proteção de Deus para cumprir esse desafio da melhor forma que eu puder, com empenho e dedicação em busca do equilíbrio e dos avanços de que nosso país necessita”, escreveu.
Acabo de aceitar o honroso convite para assumir a chefia da Casa Civil, feito pelo presidente @jairbolsonaro. Peço a proteção de Deus para cumprir esse desafio da melhor forma que eu puder, com empenho e dedicação em busca do equilíbrio e dos avanços de que nosso país necessita.
— Ciro Nogueira (@ciro_nogueira) July 27, 2021
Já o general substituído procura demonstrar satisfação com a entrada do Centrão no coração do governo. “Seja bem-vindo @ciro_nogueira ao time @jairbolsonaro. Desejo muito sucesso na Casa Civil”, tuitou o general, que, no sábado (24), em demonstração de fidelidade, postou na mesma rede uma foto ao lado do capitão em seu habitual passeio a motor, desta vez em Brasília. “Um passeio de moto hoje ao lado do PR @jairbolsonaro, que, como um bom líder, sempre está ao lado do povo”, garantiu o militar demissionário.
“Corrupção institucionalizada”
Também para a oposição, a engenharia do Planalto e dos caciques do bloco informal e o embarque de Ciro Nogueira no “time” de Bolsonaro são fáceis de explicar. “É para cuidar junto com Artur Lira de R$ 16,5 bilhões (R$ 11 bi à Câmara e R$ 5,5 bi ao Senado) de emendas aleatórias para a base e não permitir o impeachment. O Centrão e a corrupção institucionalizada no coração da política brasileira”, diz à RBA o deputado federal Rogério Correia (PT-MG). “Lamentável e escandalosa politicagem. Orçamento do relator, secreto e paralelo”, acrescenta.
Politicamente, a fragilidade de Bolsonaro explica a conjuntura, na opinião do deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ). “A ida de Ciro Nogueira p/ a Casa Civil e a criação do Ministério do Trabalho apenas p/ dar mais cargos ao Centrão são as provas de que Bolsonaro não manda em mais nada”, diz nas redes sociais. Na opinião de Freixo, o chefe do governo “está fraco, isolado e humilhado, nas mãos do grupo político que ele passou a campanha atacando”.