Falar do nosso querido Vito Giannotti (15/01/1943 - 24/07/2015), o Vitão, passados seis anos de sua partida segue sendo difícil. Acho que ainda demoraremos alguns anos para alcançar uma melhor dimensão da importância de Vito para a organização, para a formação e, principalmente, para a disputa ideológica da classe trabalhadora.
Poderia resgatar a trajetória dele em sua terra natal, a Itália, a vinda para o Brasil e a vida operária. Poderia fazer referência à organização sindical, à construção da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a trajetória como educador popular e formador na área da comunicação sindical e popular, antes e depois da constituição do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC).
Entretanto, vou me ater à última grande paixão da vida do Vitão: o jornal Brasil de Fato. Desde o Fórum Social Mundial, Vito teve participação fundamental na construção do jornal. Entusiasta da comunicação popular, sabia que faltava à esquerda um veículo de comunicação com o povão.
A etapa mais elaborada desse projeto que ele ajudou a gestar e, sem dúvida, do qual foi um dos parteiros foi a versão tabloide, de distribuição gratuita, que nasceu no Rio de Janeiro, no dia primeiro de maio de 2013.
Das editorias, às retrancas; do tamanho da fonte ao número de palavras por sentença; da diagramação às reuniões de pauta, a mão de Vito estava presente em tudo o que o Brasil de Fato RJ foi e é.
Mas era na distribuição do jornal, nas rua, seja na Central do Brasil ou na Praça Saens Pena que aquele velhinho se transformava em um garoto.
Vito levantava cedo e partia para distribuir jornal e dialogar com o povão, com a intensidade e o ânimo de um adolescente que saía de casa para encontrar um grande amor.
Ele sabia que a construção de um outro mundo passava por dialogar e organizar a classe trabalhadora. E não se faz isso sem se comunicar com essa classe. Daí a paixão de Vito por esse veículo de comunicação popular que o Brasil de Fato se tornou.
No último final de semana, encontrei com um amigo, recentemente viúvo de uma grande amiga. Dentre outras falas impactantes nos momentos em que estivemos juntos, ele disse algo que não parou de ecoar em minha cabeça: “todos os dias, quando olho no espelho, vejo a imagem de vários de meus companheiros que lutaram contra a ditadura, que tombaram em combate ou nos porões do regime militar. Ao olhar para eles eu sei que tenho que prosseguir, por mais difícil que seja. Por eles e com eles eu sigo em luta pela construção do socialismo”.
A existência do Brasil de Fato RJ é obra de muitas mãos. Muitas delas seguem conosco, vivas e atuantes. Outras nos foram levadas para sempre.
Quando me olho no espelho, vejo Antônio Neiva, Mário Augusto Jakobiskind, Joaquin Piñero. Quando me olho no espelho, vejo Vito, distribuindo Brasil de Fato na Central do Brasil, feliz, e dedicado, grato por falar com o povo, por disputar ideologicamente a formação do novo homem e da nova mulher.
Sigamos as pegadas de Vito Giannotti, travemos o bom combate, nos comuniquemos e organizemos a classe trabalhadora. Temos o dever que seguir adiante, por ele e com ele, porque o caminho Vito já abriu, a direção ele já apontou.
Vito Giannotti: presente, presente, presente!
*Rodrigo Marcelino é coordenador político do Brasil de Fato no Rio de Janeiro.
Edição: Mariana Pitasse