Pelo que se vê, a reforma vai ser mais curta que coice de porco
Jair Bolsonaro alinhava uma reforma ministerial para dividir os lençóis com o Centrão. Como se sabe, o Centrão é aquela ordem missionária cujos integrantes fizeram voto de pobreza, abstendo-se de quaisquer benesses terrenas.
:: Com Ciro Nogueira, Centrão já comanda o coração do governo Bolsonaro ::
Mas, pelo que se vê, a reforma vai ser mais curta que coice de porco. Resume-se a arranjar outra sinecura para o general Ramos ou despachá-lo para as pantufas e ajeitar o lado do Ciro Nogueira.
É pouco para um estadista. Para que haja uma perfeita identidade dos ministros e ministérios com o espírito do governo, é preciso mudar tudo. Produzir um abalo sísmico na Esplanada, com a implantação e extinção de pastas, algo para marcar época. Ficaria assim:
Ministério da Mamata – Esta nova pasta passará a organizar racionalmente a distribuição de pixulecos para evitar conflito de achaques, harmonizando as taxas cobradas a título de comissão por milicos, milicianos, pastores e avulsos. Manterá a ordem e impedirá o desperdício do dinheiro público.
Ministério do Ataque - Como o Ministério da Defesa só defende o seu pirão primeiro, trocará de nome e passará a atacar. Atacará os estoques de leite condensado e chicletes. Atacará o lombo de bacalhau, os frutos do mar, os vinhos e o uísque 12 anos. Seu ministro, Brega Nato, atacará com notas de repúdio a baixa qualidade dos produtos servidos aos seus bravos, ameaçando com uma ruptura institucional.
Ministério das Relações Inferiores – Ernesto Araújo dará a volta por baixo e retornará ao seu posto por direito e por natureza. Todo fim de tarde todo o Itamaraty interromperá suas tarefas para ajoelhar-se e orar em direção à Casa Branca, rogando pelas graças do Grande Irmão do Norte.
Ministério do Ridículo – Não se sabe com quem ficará mas a tropa do Sul larga na frente. Véio da Havan puxa as apostas mas dois colossos gaúchos, o senador Luiz Carlos “Rancho Queimado” Heinze e o deputado Bobo Nunes estão lhe mordendo os calcanhares.
Ministério das Filhas Solteiras - Como a Marinha do Brasil não dispara um canhonaço desde a batalha do Riachuelo, em 1865, e os marujos já enjoaram de jogar porrinha, seu comandante ganhará outra atribuição. Será empossado ministro para amparar o futuro das mulheres, filhas, netas, bisnetas e trinetas dos coronéis, generais, brigadeiros, almirantes e outros heróis para que jamais deixem de receber suas milionárias porém modestas pensões.
Ministério da Porrada - Todas as polícias federais e estaduais serão absorvidas pelo Ministério da Porrada. Sua função será promover a justa e igualitária distribuição de porradas sem distinção de sexo, etnia, idade, cor, raça e religião. O ainda deputado Daniel “Massaranduba” Silveira é o possível ministro.
Ministério do Ódio – Já que o povo é ingrato, ignora a benção de ser liderado por um mito e fala mal do governo, surgirá o Ministério do Ódio, um sucedâneo, com direito a jeton, do Gabinete do Ódio. Terá por tarefa retrucar todo e qualquer deboche ou desaforo. Se houver tréplica, o caso passará imediatamente à jurisdição do Ministério da Porrada.
Ministério da Morte – Junção do Ministério da Saúde com o Escritório do Crime visando a ampliação do leque de atuação, contenção de custos e otimização de resultados.
Ministério da Fumaça – Nova graça do Ministério do Meio Ambiente, aqui unido à pasta do Turismo. As festas juninas passam a ocorrer todos os meses. Todo dia será Dia de São João com fogueiras ardendo no Pantanal, Amazônia e Mata Atlântica, muita quadrilha, pipoca, quentão e buscapés.
Ministério da Preguiça – Para pararem de dizer que nunca trabalhou na vida e que passou 28 anos na Câmara roncando nas sessões, Bolsonaro acumulará a pasta com a presidência.
Ministério dos Feijões Mágicos – Substituirá o Ministério da Ciência e Tecnologia e ganhará um ministro terrivelmente evangélico. O astronauta Pontes será chutado ao espaço para contemplar a Terra plana de cima.
Casa da Mãe Joana - Fusão da Casa Civil com a Casa Militar. Objetiva a redução de gastos públicos já que ninguém sabe o que fazem seus titulares a não ser puxarem o saco do chefe e levar conver$a$ in$piradora$ com Arthur Lira e o Centrão.
Engavetadoria Geral da República – Só muda de nome para esclarecer à população sobre sua finalidade maior mas ficará com quem já está lá e faz belo trabalho.
*Ayrton Centeno é jornalista, trabalhou, entre outros, em veículos como Estadão, Veja, Jornal da Tarde e Agência Estado. Documentarista da questão da terra, autor de livros, entre os quais "Os Vencedores" (Geração Editorial, 2014) e “O Pais da Suruba” (Libretos, 2017). Leia outras colunas.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo