Como o governo federal reforça a reprodução do machismo e racismo estruturais em plena pandemia?
Por Luma Vitorio*
A data do 25 de julho, reconhecida por muitos países como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha é um marco para o calendário político antirracista do Julho das Pretas e também um momento de intensa reflexão sobre a vida das mulheres negras. É o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
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Em tempos de aprofundamento da crise e de um governo federal desumano, as desigualdades de gênero e raça estão ainda mais evidentes na vida das trabalhadoras. As mulheres negras são 27,8% de toda a população brasileira. Destas, uma imensa parte vive nas periferias, são trabalhadoras do setor informal e desempregadas.
Mesmo sendo uma maioria considerável, em termos de representação política ainda são minoria. Mulheres negras são menos de 5% das(os) prefeitas(os) e vereadoras(es) eleitas e eleitos nas Eleições de 2020.
É impossível olhar para esse cenário e se desvincular da história. Um dos absurdos que nos arrastam para um passado recente são os inúmeros casos de trabalhadoras escravizadas nos serviços domésticos que têm sido resgatadas nos últimos anos.
Um dos casos mais emblemáticos foi o de Madalena Gordiano, resgatada no dia 27 de novembro de 2020 pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Mantida desde os seus 8 anos de idade em situação de trabalho análogo à escravidão, viveu 38 anos de sua vida em condições humilhantes e de liberdade restrita.
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São casos como esses que nos apontam o caminho para nos debruçarmos na busca sobre onde temos errado enquanto sociedade.
Quais são as duras consequências do racismo e do passado escravocrata do nosso país na vida de cada mulher negra, nos dias de hoje? Como o atual governo federal reforça a reprodução do machismo e racismo estruturais em plena pandemia?
É importante afirmar a gravidade que a pandemia, negligenciada pelo presidente Jair Bolsonaro, trouxe para as vidas dessas mulheres. Alguns dados nos dão a dimensão do momento difícil que vivemos, especialmente para as mulheres negras.
São os índices de violência doméstica e feminicídio, em que 75% das mulheres vítimas de assassinatos são negras e, entre essas, 50% foram assassinadas por seus parceiros e ex-parceiros.
Fome: face cruel da pandemia
Outra face cruel da pandemia é a fome e a insegurança alimentar. Segundo a Rede Penssan, 10,7% dos lares chefiados por mulheres negras se encaixam no quadro da fome.
É vivenciando essa realidade que o Brasil passou pelo 25 de julho no ano de 2021. Uma realidade cercada de questões que são responsabilidades de toda a sociedade.
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A fome, a violência doméstica, o feminicídio, o trabalho informal, o desemprego e a sub-representação política são questões que se apresentam de maneira urgente pela necessidade de uma transformação social antirracista.
A resposta está nos rostos de tantas mulheres negras, rostos de resiliência e resistência diante das piores situações humanas. Para o Brasil genocida, mulheres negras apontam a solução: Fora Bolsonaro!
*Luma Vitorio compõe a Coordenação Nacional da Campanha Periferia Viva.
**O Periferia Viva nasce como resposta ao governo genocida com sua política de morte que nos deixou a própria sorte em uma pandemia. A ideia é conectar iniciativas, campanhas e demandas da sociedade que podem contribuir e fortalecer essa rede de solidariedade. Leia outros textos.
***Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo