Rio de Janeiro

Coluna

26 de julho: o dia da Rebeldia Cubana

Imagem de perfil do Colunistaesd
Fidel Castro foi julgado e condenado pelo assalto ao Quartel Moncada; em sua defesa escreveu seu famoso discurso "A história me absolverá" - Jose Tamargo/AFP
É inevitável trazer à atualidade os motivos que levaram o povo a uma revolução como a cubana

Carmen Diniz*

Em  26 de julho de 1953 um grupo de 165 rebeldes cubanos atacou o quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, com a finalidade de adquirir armas e distribuí-las à população para combater o governo ditatorial de Fulgêncio Batista.

Batista tinha dado um golpe de estado em 1952 suspendendo a Constituição, os direitos políticos, agindo com repressão desmedida e torturas e aprofundando as diferenças sociais, além de se associar à máfia estadunidense e como decorrência às drogas, jogo e prostituição.

Além disso, os índices sociais apontavam para um baixo nível de escolaridade, analfabetismo, desemprego estrutural e intensa corrupção. Metade das crianças cubanas não ia à escola.

Apesar de não obterem vitória, segundo o Comandante Chefe Fidel Castro: “sem Moncada não haveria Revolução”, uma vez que mesmo com a  derrota militar, a vitória política foi notória, dando visibilidade ao movimento insurgente.

Preso com outros camaradas, em sua auto-defesa Fidel, na época um jovem advogado, escreveu o famoso discurso "A história me absolverá", que se tornou a base do governo revolucionário a partir de 1 de janeiro de 1959.

Em sua defesa Fidel, usando os ensinamentos de José Martí, ao mesmo tempo que se defende, condena a ditadura de Batista com seu governo corrupto, entreguista e anti-povo que a população já não aceita. 

Ao reler sua defesa fica muito claro o porquê da rebelião que ali se formava entre a população e as razões que levam um povo a se rebelar contra a injustiça e a opressão.

E é inevitável trazer à atualidade os motivos que levaram o povo a uma revolução como a cubana. Para trazer aos nossos dias os motivos, basta imaginar de forma empática os índices do Brasil atual.

Fidel cita o absurdo de quase metade da população urbana e rural não ter luz elétrica (aqui, ainda temos 11 milhões); de 400 mil famílias viverem amontoadas em barracões e cortiços (aqui, 16 milhões em favelas, 220 mil nas ruas); de 600 mil cubanos sem trabalho (aqui entre 15 milhões de desempregados mais os precarizados (somos 60 milhões à margem da sociedade); de 500 mil cubanos trabalharem quatro meses por ano, passando fome nos demais meses com sua família sem uma polegada de terra para semear (aqui, os bóias-frias ).

Também de 100 mil pequenos agricultores que vivem e morrem trabalhando em uma terra que não é sua (aqui, só de trabalhadores sem terra em acampamentos, 120 mil); de 30 mil professores do ensino fundamental a quem se trata e paga tão mal (aqui 1,4 milhões ); de 90 % das crianças no campo serem consumidas por parasitas e antes de completarem 30 anos, sem dentes.

No Brasil ainda poderíamos adicionar a esses números imorais e que fizeram o povo se rebelar, os vergonhosos 50 milhões de brasileiros em insegurança alimentar e na pobreza.

Os 20 milhões passando fome, a terceira população encarcerada no mundo (800 mil presos e com restrições) além de 6 mil assassinatos por ano praticados pelas forças de segurança em que 78% são jovens negros, pobres e favelados: um jovem negro a cada quatro minutos.  

Por tudo isso e muito mais não temos sequer argumentos para criticar/condenar nenhum outro país em relação aos direitos humanos – ao menos enquanto não reduzirmos nossos tristes números.

Trazendo o 26 de julho e suas razões no discurso de Fidel para a nossa realidade fica fácil entender o que levou aqueles e aquelas inconformados(as) a tomar tais decisões.

O 26 de julho, depois tornado Movimento (M-26) que levou a cabo as mudanças do país em 1 de janeiro de 1959 foi o prenúncio do triunfo da Revolução Cubana que alterou a configuração daquele país alterando também a “cara” da América Latina trazendo dignidade ao povo cubano e se tornando esse farol incandescente para toda a nossa região.

O 26 de julho, por toda essa importância deveria ser feriado não somente em Cuba, mas em toda nossa Pátria Grande por nos fornecer um mínimo de dignidade e por demonstrar que sim, é possível. Hoje só nos cabe uma palavra de ordem: Parabéns, Cuba!

*Coordenadora do Capítulo Brasil do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse