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"Racismo sutil": confira algumas expressões que devem ser banidas do vocabulário

Série de palavras e expressões estão no nosso vocabulário cotidiano e nos fazem reproduzir discursos preconceituosos

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Quantas vezes reproduzimos, mesmo sem querer, expressões e termos racistas ou que reforçam estereótipos? - Silvio Avila/AFP

Estudos dizem que chegamos a pronunciar 20 mil palavras por dia. Mas você já parou para pensar no significado das palavras do nosso vocabulário? E em quantas vezes reproduzimos, mesmo sem querer, expressões e termos racistas ou que reforçam estereótipos? 

A seguir, neste texto, é apontada uma série de palavras e expressões que estão no nosso vocabulário cotidiano e que nos fazem reproduzir discursos preconceituosos.

O material, elaborado pelos GTs Humanidades e Para Elas, do Programa Sesc e Senac de diversidade - Para Todos, do Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac, faz um convite à reflexão. Confira.

“A coisa tá preta”

O termo associa a palavra “preto” com uma situação desconfortável, desagradável, difícil ou perigosa. Melhor dizer: “a coisa tá difícil”.

“A dar com pau”

Tem origem nos navios que traziam os povos escravizados, quando algumas pessoas preferiam morrer de fome a serem escravizadas. Assim elas eram alimentadas à força com um tipo de colher de pau grande, daí vem a expressão “a dar com pau”. No lugar, diga: “bastante” ou “muito”.

“Até tenho amigos que são negros”

Frase de defesa quando se aponta alguma atitude ou fala racista. Não utilizar. Repense seu comportamento. Vivemos em uma sociedade racista, infelizmente, ainda é comum reproduzirmos falas racistas sem nos darmos conta. Não use esta expressão!

“Cabelo ruim”, “cabelo bombril”, “cabelo duro”

Termos racistas usados como bullying que depreciam a imagem e o cabelo de pessoas negras. Falar mal das características dos cabelos Afro também é racismo. Melhor falar: “cabelo crespo”, “cacheado” ou “afro”.

“Cor de pele”

A expressão ficou conhecida para descrever a cor rosa-claro, fazendo referência à pele de pessoas brancas. Porém, como já é sabido, não existe apenas uma cor de pele, vivemos uma sociedade mista e plural. Melhor falar: “rosa-claro” ou “bege”

“Cor do pecado”

Utilizada erroneamente como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. Em uma sociedade pautada na religião, pecar não é positivo, ser pecador é errado, e ter a pele associada ao pecado significa que ela é ruim. Outra expressão que faz a mesma associação de que negro como negativo. Não use esta expressão!

“Coisa/ serviço/ trabalho de preto”

Usado para descrever um serviço mal feito. O termo é carregado de preconceito, uma vez que descreve as pessoas negras como incapazes e preguiçosas. Jamais use estas expressões! Substitua por: “trabalho errado”.

“Criado mudo” 

Você sabia que o nome dado a este móvel faz referência aos criados (geralmente escravizados) que deviam segurar objetos para seus senhores? Como estes criados não podiam falar, eram considerados mudos, daí o termo criado-mudo. Melhor dizer: “mesa de cabeceira”.

“Denegrir” 

Tem como real significado “tornar negro”, “escurecer”. É usado para difamar ou acusar injustiça por outra pessoa, sempre usado de forma pejorativa, ou seja, utilizar esta palavra pejorativa é extremamente racista. Melhor usar: “difamar”

“Doméstica”

Domésticas eram as mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas. Diga: “empregada” ou “funcionári”.

“Escravo”

Este termo trata os africanos como passivos e desprovidos de subjetividade. Os africanos que vieram para o Brasil eram pessoas, reis, rainhas, camponeses, homens e mulheres escravizados contra a sua vontade. Substitua por: “pessoas escravizadas” e “escravidão” por “escravização”.

“Fazer nas coxas”

Acredita-se que a expressão vem da técnica utilizada pelos escravizados para fazer telhas. Por serem artesanais e seguirem os formatos dos corpos, as peças não se encaixavam bem umas nas outras, sendo consideradas mal feitas. Melhor falar: “mal feito”.

“Humor negro”

Usam para descrever um tipo de humor ácido e com piadas de mal gosto com temas mórbidos, sérios ou tabus com tom politicamente incorreto. Você pode usar: “humor ácido”

“Indiada”

Utilizado para descrever um passeio, atividade ou viagem que não deu muito certo, algo trabalhoso, difícil ou até mesmo chato. O termo é pejorativo, pois “indiada” se refere a um grupo ou conjunto de índios. Fale: “atividade ruim” ou “viagem chata”.

“Inveja branca” 

Associa o “negro” ao negativo, a algo que faz mal e o “branco” ao que é positivo, uma inveja boa, um sentimento do bem. Use apenas: “inveja”.

“Judiaria”

Do verbo “judiar”, significa tratar como os judeus foram tratados. É usado como sinônimo de fazer sofrer, atormentar, maltratar ou ainda com tom de pena. A palavra possui uma carga negativa e preconceituosa muito grande. Substitua por: “sofrimento” ou “maltrato”.

“Lista negra”

Usada para descrever pessoas que, por alguma razão negativa, estão excluídas de certos grupos, ou ainda que uma pessoa está sendo perseguida. Mais uma vez a palavra “negra” é usada como algo negativo. Diga: “lista proibida” ou “restrita”.

“Mercado negro”

Muito usado para se refererir a um sistema de compras e vendas clandestino, ilegal. Substitua por: “mercado clandestino”.

“Moreno (a)”

Pessoas acreditam que chamar alguém de negro ou preto é ofensivo. Falar “morena” ou “mulata” , embranquecendo a pessoa, “amenizaria” o “incômodo”. Você deve se referir a pessoa pelo nome ou questioná-la como ela prefere ser descrita.

"Mulato (a)"

A palavra significa literalmente: mula, a cruza de um asno macho com uma égua. O termo surge na época da escravização, quando muitas mulheres escravizadas eram violentadas por “seus senhores” e tinham filhos que eram chamados de mulatos. Substitua por: “pardo(a)” ou “mestiço(a)”.

“Não sou tuas negas”

Trata a mulher negra como ”qualquer uma” ou “de todo mundo” , relembra o tratamento às mulheres escravizadas que eram, seguidamente, assediadas e estupradas. 

A frase deixa explícita que com "as negras pode tudo" , e com as demais não se pode fazer o mesmo, e no “tudo” está incluso desfazer, mal tratar. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo. não use esta expressão.

“Nega maluca”

Há uma lenda que diz que o termo foi criado quando uma mulher escravizada estava fazendo um bolo e acidentalmente deixou cair cacau em pó na receita e, ao invés de descartar a massa, seguiu criando o bolo de chocolate. O termo reforça estereótipos. Diga apenas: “bolo de chocolate”.

“Negrinho” e “branquinho” (doces) 

Usado para chamar o típico doce de chocolate (que é marrom). O mesmo serve para a palavra branquinho, que é o doce de leite condensado. Substitua por: “brigadeiro”  e “beijinho”.

“Nhaca”

Desde a época colonial o termo é usado para falar de algo com cheiro forte, desagradável. O que pouca gente sabe é que Inhaca é uma ilha de Moçambique e é daí que vem o uso do termo, mais uma vez para reforçar estereótipos e preconceitos. Diga apenas: “cheiro ruim”.

“Tem o pé na cozinha”

Usada de forma preconceituosa para falar de pessoas de origem negra, uma vez que na época da escravização, este era o espaço destinado às mulheres negras. Não use este termo.

“Samba do crioulo doido”

É o título de uma canção de samba, composta por Sérgio Porto (pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta), que ironizava a obrigatoriedade de as escolas de samba retratarem em seus enredos apenas temas de fatos históricos. 

Porém a expressão debochada reforça um estereótipo e descriminação aos negros. Diga: “confusão”, “trapalhada” ou “bagunça”.

Edição: Mariana Pitasse