A edição desta sexta-feira (23) do The New York Times traz uma carta aberta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pedindo o fim do embargo econômico estadunidense contra Cuba, que já dura mais de seis décadas.
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O documento é assinado por mais de 440 figuras de expressividade de diversos países, entre ex-presidentes, cientistas, artistas e intelectuais. Entre eles estão os ex-presidentes Lula e Rafael Correa, Chico Buarque, Jane Fonda, Susan Sarandon, Danny Glover e Mark Ruffalo. Clique aqui para conferir a lista completa.
No documento, pedem que Joe Biden acabe com as 243 “medidas coercitivas” criadas pelo ex-presidente Donald Trump e “volte à abertura de Obama, ou melhor ainda, comece o processo de fim do embargo e normalização total das relações entre os Estados Unidos e Cuba”.
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Publicada no jornal estadunidense como um anúncio pago, a carta relembra que no dia 12 de julho o presidente Biden afirmou que os Estados Unidos apoiam o povo cubano. “Se for esse o caso, pedimos que você assine imediatamente uma ordem executiva e anule” as sanções impostas por Trump.
“Parece-nos inconcebível, especialmente durante uma pandemia, bloquear intencionalmente as remessas e o uso de instituições financeiras globais por parte de Cuba, visto que o acesso a dólares é necessário para a importação de alimentos e medicamentos”, traz a carta em outro trecho.
A carta é uma iniciativa conjunta entre três instituições estadunidenses: People's Forum, Answer Coalition e CodePink, que doaram a quantia necessária para pagar o anúncio no jornal.
Leia a carta na íntegra:
É hora de trilhar um novo caminho nas relações entre os Estados Unidos e Cuba. Nós, abaixo assinados, fazemos este urgente apelo público a vocês para que rejeitem as políticas cruéis implementadas pela Casa Branca de Trump, que criaram tanto sofrimento entre o povo cubano.
Cuba, um país de onze milhões de habitantes, vive uma crise difícil devido à crescente escassez de alimentos e medicamentos. Protestos recentes chamaram a atenção do mundo para isso. Embora a pandemia Covid-19 tenha se mostrado um desafio para todos os países, o foi ainda mais para uma pequena ilha sob o peso de um embargo econômico.
Parece-nos inconcebível, especialmente durante uma pandemia, bloquear intencionalmente as remessas e o uso de instituições financeiras globais por parte de Cuba, visto que o acesso a dólares é necessário para a importação de alimentos e medicamentos.
Quando a pandemia atingiu a ilha, seu povo e seu governo perderam bilhões em receitas do turismo internacional que normalmente iriam para o sistema público de saúde, distribuição de alimentos e ajuda financeira.
Durante a pandemia, o governo Donald Trump endureceu o embargo, colocou de lado a abertura de Obama e lançou 243 "medidas coercitivas" que intencionalmente estrangularam a vida na ilha e criaram mais sofrimento.
A proibição de remessas e o fim dos voos comerciais diretos entre os Estados Unidos e Cuba impedem o bem-estar da maioria das famílias cubanas.
“Apoiamos o povo cubano”, escreveu o senhor em 12 de julho. Se for esse o caso, pedimos que você assine imediatamente uma ordem executiva e anule as 243 "ações coercitivas" de Trump.
Não há razão para manter a política da Guerra Fria, que exigia que os Estados Unidos tratassem Cuba como um inimigo existencial e não como um vizinho. Em vez de seguir o caminho traçado por Trump em seus esforços para desfazer a abertura do presidente Obama a Cuba, pedimos que siga em frente. Retomar a abertura e iniciar o processo de encerramento do embargo. Acabar com a grave escassez de alimentos e medicamentos deve ser a prioridade.
Em 23 de junho, a maioria dos estados membros das Nações Unidas votou para pedir aos Estados Unidos o fim do embargo. Nos últimos 30 anos, esta tem sido a posição constante da maioria dos Estados-Membros. Além disso, sete relatores especiais da ONU escreveram uma carta ao governo dos Estados Unidos em abril de 2020 sobre sanções a Cuba. “Na emergência da pandemia”, escreveram eles, “a relutância do governo dos Estados Unidos em suspender as sanções pode levar a um risco maior de sofrimento em Cuba”.
Pedimos que acabem com as "medidas coercitivas" de Trump e voltem à abertura de Obama ou, melhor ainda, comecem o processo de fim do embargo e normalização total das relações entre os Estados Unidos e Cuba.
Manifestações no país
Cuba viveu as maiores manifestações contrárias ao governo, desde o "maleconazo" de 1994, na primeira semana de julho. Os protestos foram convocados por redes sociais, com a hashtag #SOSCuba, começaram na cidade de San Antonio de Los Baños, estado de Artemisa, e foram registradas em 20 municípios da ilha, além de outras cidades nos Estados Unidos.
::Entenda os fatores que desencadearam as maiores manifestações opositoras em Cuba desde 1994::
Os atos começaram condenando os apagões de eletricidade e a nova onda de contágios da covid-19 e terminaram em gritos de "liberdade, "pátria e vida".
Logo depois das convocatórias, o presidente cubano visitou o município de San Antonio de los Baños, 36km a oeste de Havana, para dialogar com a população. Ainda no domingo (11), Miguel Díaz Canel convocou os comunistas cubanos a defender a revolução. "As ruas são dos revolucionários", afirmou em transmissão televisiva em cadeia nacional.
Edição: Vivian Virissimo