Não concordamos com esse sistema hegemônico de produção envenenada
Aproximar a população da agroecologia. É esse o objetivo do projeto Sábado Agroecológico, da prefeitura de Maricá, no estado do Rio de Janeiro.
A primeira edição do evento aconteceu no dia 3 de julho e teve cerca de cem participantes, divididos em grupos para evitar aglomeração. Joana Duboc Bastos é engenheira agrônoma e deu uma palestra sobre conceitos básicos de agroecologia.
“Alguns já plantavam alguma coisa no quintal e queriam aprimorar. Outros nunca tinham plantado e queriam a partir dali se inspirar e botar a mão na massa. Tinha bastante gente que passou a morar em Maricá por conta da pandemia e está disposto a desenvolver mais esse contato com a natureza e com o uso do seu quintal”, conta.
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As irmãs Isabela e Letícia de Araujo Santiago foram ao evento para pegar algumas dicas. Isabela conta que a família tem um quintal grande, onde cultiva uma horta e árvores frutíferas. Mas tem tido problemas com alguns visitantes indesejados.
“Aqui no meu quintal, na minha hortinha, a gente tem problema com lagartinhas, que depois vão virar borboletas. Então a gente tem que encontrar um equilíbrio, senão elas comem tudo. Eles fizeram várias receitinhas no Sábado Agroecológico e mostraram formas de atrair essas lagartinhas para que elas não destruam, e também possam sobreviver”.
Letícia complementa: “eles explicaram pra gente que não são pragas. A gente acha que é praga porque come o que a gente acha que é nosso, mas na verdade são animais que estão ali vivendo, coexistindo com a gente, e que são indícios que a plantação não está indo tão bem”.
Maricá é um município que tem uma parte urbana e uma parte rural, além de aldeias indígenas e comunidades quilombolas. Julio Carolino, que é Secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca, comenta da importância da produção agrícola para a cidade.
“Maricá tem uma característica rural. É um município que já teve grandes produções rurais, pecuária, e pesqueira também. Já foi base da economia do município na época da cana-de açúcar. Os cítricos como um todo nós produzimos muito: laranja, tangerina. E hoje a prefeitura quer resgatar a produção rural através da agroecologia”.
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Os projetos agroecológicos da prefeitura incluem uma fazenda pública onde são produzidos alimentos orgânicos que vão para escolas, asilos e instituições de assistência social. Na parte urbana, existem as praças agroecológicas, que também produzem alimento. O Sábado Agroecológico acontece em uma dessas praças, a Araçatiba. Joana Duboc fala da importância do contato da população urbana com esse tipo de cultivo.
“Quando a gente não vê o sistema de produção acontecendo a gente não acredita. Quando você o pé de milho, ou como é o caso de agora que tem um monte de berinjela pra ser colhida. E berinjela em tamanhos que a gente acha que por ser alimento sem fertilizante químico, sem agrotóxico, não vai alcançar. A gente mostra que é possível produzir alface de qualidade, produzir vários alimentos quando há boas condições de solo e de nutrientes”.
Futuro agroecológico
E já existem outros projetos em andamento. O Secretário Julio Carolino conta que a prefeitura de Maricá firmou uma parceria com a Universidade Rural do Rio de Janeiro para criar um banco de sementes crioulas. Além disso, a gestão quer implantar um programa para diminuir a quantidade de lixo destinado aos aterros sanitários.
“A ideia é que a prefeitura vai distribuir baldes para que as pessoas possam recolher em suas residências restos de comida, casca de verdura, casca de fruta. E depois ele vai pegar aquele balde cheio e vai levar numa praça agroecológica e vai trocar por um produto daquela praça. Ou pelos produtos da fazenda pública. Em Marica, vamos trocar lixo por comida. A gente chama de lixo, mas é resíduo orgânico. E vale lembrar que este resíduo orgânico é a parte mais úmida, a parte mais pesada do lixo. Vamos conseguir tirar em torno de 40% do peso do lixo”.
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Para Joana Duboc, falar em agroecologia é falar em resistência e resgate.
“Acho que quando a gente decide trabalhar com agroecologia é isso: não concordamos com esse sistema hegemônico de produção envenenada, de produção de commodities, e vamos fazer a diferença: desde o pequeno espaço, seja uma varanda em um apartamento, seja um quintal numa cidade, até os espaços periurbanos. Às vezes a gente tem um terreno baldio que pode se transformar numa horta comunitária”.
O Sábado Agroecológico acontece todo primeiro sábado do mês. Para ficar por dentro da programação, acesse o site www.maricarj.gov.br.
Edição: Douglas Matos