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Mesmo com implacável bloqueio imposto pelos EUA, Cuba não ficou de fora da corrida da vacina

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Cuba desenvolveu as vacinas Soberana e Abdala, com eficácia comprovada e, sem dúvida alguma, motivo de orgulho para o povo cubano - Reprodução / Twitter
Já no Brasil, colecionamos motivos de vergonha, diante do negacionismo e de um 'auto embargo'

Paulo Pinheiro*

Quando, em junho de 2021, o número de pessoas mortas pela covid 19 no Brasil ultrapassou a impensável marca de meio milhão, em Cuba, o número de vítimas fatais pela doença não tinha ultrapassado três dígitos.

A razão, certamente, tem a ver com a importância dada à saúde pública na ilha, que associo aqui a um filme cubano dos cineastas Tomás Gutierrez Alea e Juan Carlos Tabio, chamado "Guantanamera", de 1996.

Guantamera veio depois do premiadíssimo "Morango e Chocolate", da mesma dupla, e aborda alguns dos reflexos do fim da União Soviética na economia cubana – no caso, uma crítica elegante e bem humorada da burocracia do regime na ocasião do traslado de um corpo de uma cidade para outra. A infinidade de carimbos e trâmites é descrita como típica do atraso e da ineficiência.

No entanto, quando, em determinado momento, um atendimento médico se faz necessário, a eficiência e a vanguarda da medicina cubana roubam a cena e tudo funciona perfeitamente. 

Creio que o desempenho de Cuba no enfrentamento da pandemia da covid 19 decorre justamente dessa cultura arraigada de valorização dos serviços essenciais: da saúde e da educação pública.

Mesmo diante do implacável bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos e aceito por grande parte da comunidade internacional, ainda assim, Cuba não ficou de fora da corrida pelo desenvolvimento de um imunizante contra a covid.

Foram desenvolvidas as vacinas Soberana e Abdala, esta, uma homenagem a um poema do herói cubano José Martí, com eficácia comprovada e, sem dúvida alguma, motivo de orgulho para o povo cubano. Com todas as dificuldades, com todo bloqueio, a única solução, em toda a América Latina, foi alcançada.

Já no Brasil, ao contrário, colecionamos motivos de vergonha, diante do negacionismo e de um “auto embargo” imposto pelo Governo Federal. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) não recebeu o devido apoio logístico e o Instituto Butantan foi deliberadamente boicotado por uma política rasteira e inconsequente. O Brasil da "era Bolsonaro" conquistou descrédito e se afasta crescentemente da comunidade internacional.

“Que sejamos um pária internacional” disse um ex-ministro. Como se não bastasse, toma-se conhecimento, a partir da CPI do Senado, da existência de negociatas para aquisição de determinadas vacinas com o componente da propina agregado à sua fórmula. Resultado de tantos erros: mais de 530 mil vidas perdidas até hoje. 

Os números do Brasil de hoje, absolutos e relativos, nos envergonham, mas tenho esperança de que superaremos essa crise com valores maiores.

Quem é Bolsonaro? Uma mancha na história que dói, mas passará.

Enquanto a nossa música, a nossa literatura, as nossas artes continuarão eternizadas. O Brasil é Cartola, Clementina, Tom Jobim, Gil, Caetano, Chico, Chiquinha Gonzaga, Luís Gonzaga e Gonzaguinha, Machado de Assis, Cecília Meirelles, Vinícius, Mario de Andrade, Tarsila, Di Cavalcanti, Portinari, Niemeyer, Paulo Freire, Nise da Silveira. E mais tantos e tantas!

E não faltariam bons nomes para a vacina brasileira. Quem sabe Pasárgada, dos sonhos de Manoel Bandeira? No Brasil, esse "pesadelo" vai passar. E Cuba, vai continuar "Soberana" e com um dos melhores sistemas de saúde pública do mundo.

*Paulo Pinheiro é médico e vereador do Psol na cidade do Rio de Janeiro.

Edição: Mariana Pitasse