A vereadora Verônica Lima (PT), primeira mulher negra eleita para a Câmara Municipal de Niterói, sofreu agressão verbal dentro da Casa Legislativa na última quarta-feira (7), durante uma reunião. Em relato nas redes sociais, ela contou que o vereador Paulo Eduardo Gomes (Psol) perguntou se ela queria "ser homem" e disse que ia tratá-la "como homem" para constrangê-la por sua orientação sexual.
Verônica registrou queixa de violência na delegacia e informou que vai abrir representação no Conselho de Ética da Câmara de Vereadores por quebra de decoro parlamentar.
"Quando Paulo Eduardo questionou se 'eu queria ser homem' e disse que ia 'me tratar como homem', quis me constranger pela minha orientação sexual. Não quero ser homem! Sou uma parlamentar com diversas produções legislativas que dispõem sobre a violência contra as mulheres e o combate às opressões", registrou a vereadora.
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Nesta quinta-feira (8), a partir das 16h, haverá um ato em solidariedade à vereadora na Avenida Ernani do Amaral Peixoto, nº 625, no Centro de Niterói, em frente à Câmara. Movimentos populares e militantes feministas e LGBTQIA+ da cidade estão à frente da organização do ato, que contará com participação de Verônica Lima.
Nas redes sociais, o vereador disse que errou, argumentou que é "autor de diversas leis pioneiras em defesa dos direitos das mulheres e de pessoas LGBT" e que ser "homem branco, hétero e de 70 anos" são características que não devem credenciá-lo para nada. "Mais do que nunca é importante fazer autocrítica e reconhecer que por vezes acabo reproduzindo estruturas machistas e patriarcais".
Atos recorrentes
O diretório do Partido dos Trabalhadores lamentou que a postura tenha partido de um vereador do Psol, "um partido que compartilha a defesa dos direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+". A nota afirma, ainda, que os casos envolvendo Paulo Eduardo Gomes são recorrentes e conhecidos.
"Infelizmente, o desrespeito direcionado à vereadora do PT pelo parlamentar não começou agora e se intensificou cada vez mais. Os ataques e a perseguição de Paulo Eduardo Gomes são constantes na Câmara de Niterói".
Repercussão
A deputada federal Talíria Petrone (Psol), que exerceu o cargo de vereadora por Niterói, tendo sido a vereadora mais votada na cidade nas eleições de 2016, denunciou nas redes sociais a lesbofobia e o machismo na agressão do vereador do Psol contra Verônica. Ela marcou a conta de Paulo Eduardo em sua crítica.
"A lesbofobia e machismo contidos na fala do vereador @PEG_PSOL precisam ser enfrentadas e o partido está dando tratamento ao caso. Nos solidarizamos com a vereadora @VeronicaLimaVe e seguimos na luta por uma sociedade sem opressão. A luta é contínua também nas nossas fileiras", comentou Talíria.
A deputada estadual Mônica Francisco (Psol) afirmou que são frases como essa que geram estupros corretivos, espancamentos e lesbocídios. Ela criticou atos machistas no campo da esquerda e disse que a violência política de gênero tem que ser debatida.
"A violência política de gênero, a lesbofobia, o machismo e o racismo precisam ser amplamente debatidos e enfrentados no campo da esquerda, pois são essas opressões que expulsam as mulheres da política todos os dias. Como mulher negra eleita deputada estadual, me solidarizo com a companheira Verônica".
Uma nota assinada por parlamentares negras do Psol repudiou o ato do vereador e disse que o comportamento dele é "inadmissível e vai de encontro a tudo aquilo pelo qual o Psol luta e representa".
"Já estamos cientes de que o caso não só será acompanhado pela Comissão de Ética do PSOL como também será discutido pelo Diretório Nacional na reunião que acontecerá dentro dos próximos dias. Nada mais do que obrigação por parte das nossas instâncias diante de tamanha violência", afirma trecho da nota, que é assinada por mulheres do Psol em todo o Brasil.
Edição: Eduardo Miranda