CORRUPÇÃO

Escândalo da compra da Covaxin e atos de rua testam aliança de Bolsonaro com Centrão

Para cientista político Vitor Marchetti, partidos conhecidos pelo fisiologismo não devem manter apoio ao governo

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Escândalo da compra superfaturada da vacina Covaxin deve causar “fissuras” na base do presidente Jair Bolsonaro - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

De acordo com o cientista político Vitor Marchetti, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), o escândalo da compra superfaturada da vacina Covaxin deve causar “fissuras” na base do presidente Jair Bolsonaro.

O derretimento desse apoio já é visível em pesquisas de opinião, o mesmo ocorrendo também nas redes sociais. Mas os desdobramentos dos próximos dias, com o avanço das investigações da CPI da Covid, e as manifestações de rua marcadas para o próximo sábado (3) devem testar a aliança de Bolsonaro com os partidos do chamado Centrão.

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São dois os cenários possíveis, segundo Marchetti. Num deles, o Centrão se mobilizaria para “estancar a sangria”. Nesse sentido, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), seria usado como o “bode expiatório” do esquema.


Líder do governo, Ricardo Barros seria usado como o “bode expiatório” do esquema, diz analista / José Cruz / Agência Brasil

De acordo com o deputado Luís Miranda, o próprio Bolsonaro teria apontado Barros como o principal interessado nas negócios da farmacêutica Precisa, intermediária na compra da Covaxin.

Por outro lado, Marchetti destaca que os partidos do Centrão são conhecidos pela “fisiologia”, mas também pelo “pragmatismo”. Poderia, portanto, abandonar Bolsonaro, em vez de ficar ao lado do governo “até as últimas consequências”.

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“A depender do tamanho da movimentação das ruas e dos documentos comprobatórios desse escândalo, vai ficar cada vez mais difícil para o Centrão segurar essa base e manter o apoio ao presidente”, disse o analista.

Contudo, ele lembra que esses partidos firmaram a aliança com o governo Bolsonaro durante a eleição de Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara no início do ano. Esse acordo garantiu acesso privilegiado dos parlamentares do Centrão aos recursos do Orçamento, inclusive com o chamado “orçamento secreto”. É um fator que pode atrasar o desembarque desse grupo.


Partidos de Centro firmaram a aliança com o governo Bolsonaro durante a eleição de Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara no início do ano / Sérgio Lima/AFP

Nas redes

Marchetti citou levantamentos realizados por colegas que apontam que a base bolsonarista vem se desorganizando nas redes sociais. No episódio da Covaxin, as manifestações em apoio ao presidente representaram menos de um quarto do total de interações virtuais. Número que deve estar “inflado”, a partir do uso de robôs e outros comportamentos “inautênticos”.

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O motivo dessa mudança, segundo ele, é que, com o envolvimento do governo em escândalo de corrupção, a base bolsonarista perdeu o seu principal “troféu”.

Apesar da tragédia sanitária com mais de meio milhão de mortos, influenciadores bolsonaristas destacavam não haver desvios no governo. “Junto com o verdadeiro genocídio que o governo federal produziu nesse país, agora temos também corrupção.”

Para Marchetti, as “negociatas” na compra da Covaxin – e da chinesa CanSino, também com o envolvimento de Barros – podem servir para explicar o “boicote” aos imunizantes CoronaVac e da Pfizer. Enquanto Bolsonaro proferia discursos ideológicos para atacar as vacinas, o governo operava para “lucrar” com a tragédia.