SUPERFATURAMENTO

CPI da Covid inicia nova fase e começa a investigar escândalo da Covaxin

“Tudo sobre tratamento precoce, cloroquina, compras superfaturadas, vai ficar no chinelo", disse senadora

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Da esq. à dir.: Ministro de Estado da Saúde, Marcelo Queiroga; vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues; e o relator Renan Calheiros (MDB-AL) - Jefferson Rudy/Agência Senado

A CPI da Covid entra nesta sexta-feira (25) definitivamente em uma nova fase. Os senadores vão ouvir, a partir das 14h, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, Luis Ricardo Fernandes Miranda, que denunciaram irregularidades por integrantes do governo de Jair Bolsonaro na compra da vacina indiana Covaxin.

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Tudo aquilo que pensávamos sobre esses remédios (cloroquina e ivermectina) – sobre o que estaria por trás de se entregar tantos remédios ineficazes à população e até com suspeita de compras superfaturadas –, tudo isso está ficando no chinelo, com o que virá a partir de amanhã”, disse a senadora Simone Tebet (MDB-MS), na comissão, na tarde desta quinta-feira (24).

A negociação, que levou o governo a reservar R$ 1,6 bilhão para a compra de 20 milhões de doses do imunizante, tem termos que contradizem argumentos do próprio governo para rejeitar a aquisição do similar da Pfizer.

A transação apresenta fatos novos a cada dia. Também na quinta-feira (24), o site The Intercept Brasil relatou que o embaixador brasileiro na Índia, André Aranha Corrêa do Lago, alertou oficialmente o governo de que a vacina indiana passava por “processo alegadamente opaco de autorização para uso emergencial”.

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Mas o governo ignorou o alerta e continuou as tratativas, que envolviam o pagamento antecipado de 45 milhões de dólares a uma empresa de Singapura – a Madison Biotech, que a CPI concluiu ser uma “empresa de fachada”.

Toda a intermediação era feita pela empresa Precisa Medicamentos, com a qual o governo brasileiro assinou contrato em 25 de março.

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Pazuello também declarou que imunizantes da Pfizer não foram comprados em 2020 por falta de aprovação pela Anvisa à época / Sergio Lima / AFP

Em seu depoimento à CPI, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello justificou a rejeição à vacina da Pfizer dizendo que era cara, além de que a empresa tentava impor um “contrato leonino” ao governo brasileiro.

No entanto, a negociação com a fabricante da Covaxin previa o custo de US$ 15 (R$ 80,70) por dose, enquanto o da norte-americana era de US$ 10.

Pazuello também declarou que imunizantes da Pfizer não foram comprados em 2020 por falta de aprovação pela Anvisa à época.

Porém, o contrato com a Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, foi assinado sem aprovação da agência, que só autorizou a importação no início deste mês, mas com várias restrições.

‘E daí?’

Enquanto se desenrolava essa negociação, o Brasil perdeu 95,5 mil vidas para a covid. Mortes que poderiam ter sido evitadas se Bolsonaro e seus liderados não tivessem boicotado as vacinas CoronaVac e Pfizer, segundo cálculos do epidemiologista Pedro Hallal, mencionadas por ele à CPI da Covid nesta quinta-feira (24).

Em abril de 2020, confrontado com o crescimento da pandemia, pouco mais de um mês depois do primeiro caso detectado no país, o presidente da República respondeu: “E daí?”.

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Mortes poderiam ter sido evitadas se Bolsonaro e seus liderados não tivessem boicotado as vacinas CoronaVac e Pfizer, diz Pedro Hallal / UFPel

Ao encerrar a sessão que ouviu Hallal e a diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), no exercício da presidência, lamentou mais uma das atitudes diárias de Bolsonaro, que desafiam a razão e provocam repúdio.

No Rio Grande do Norte, em evento no qual provocou aglomerações, ele pediu a uma criança de dez anos para tirar a máscara que usava, informou Randolfe.

A presença do presidente brasileiro como governante de um dos maiores países do mundo é hoje incompreensível para cidadãos em todo o planeta.

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Em outra frente de trabalhos, a CPI da Covid recebeu na quinta as quebras de sigilos telefônico e telemático (de mensagens) de vários envolvidos na condução do combate à pandemia pelo governo, seus aliados e membros do “gabinete paralelo”. Entre eles, os dos ex-ministros Eduardo Pazuello e Ernesto Araújo (Relações Exteriores).  

A comissão recebeu também os sigilos telefônico e telemático quebrados do médico Paolo Zanotto, da “capitã cloroquina” Mayra Pinheiro, entre outros, além do sigilo bancário do empresário Carlos Wizard.

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Ameaças: a tática bolsonarista

Pedro Hallal foi questionado e confirmou à CPI que ele e a mulher sofrem reiteradas ameaças por ele expor seus posicionamentos científicos.

Segundo o acadêmico, todos os ataques de que o casal tem sido vítima estão sendo investigados pela Polícia Federal, Delegacia da Mulher e Polícia Civil.

Ele lembrou que o próprio Bolsonaro tuitou um ataque contra ele “diretamente”. Relatou que a mulher foi perseguida enquanto dirigia, há duas semanas. “Está tudo registrado, filmado devidamente”, disse o pesquisador e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Em sua intervenção, o senador Otto Alencar (PSD-BA) foi solidário a Hallal e falou dos ataques que ele próprio recebe.

“Tenho passado pelos mesmos problemas que Hallal tem passado. Recebi 15 mil e duzentas mensagens agressivas e até ameaças de morte. Nunca imaginei isso na minha vida, por estar participando de uma CPI que está apurando o que aconteceu. Mas ameaças por trás de um computador, um celular, normalmente são de pessoas covardes”, afirmou o parlamentar.