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Coragem é um sentimento coletivo: #19JForaBolsonaro

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Foi lindo de viver e de ver a força do povo unido pela vida, pela ciência, pelo trabalho, pela educação e pela derrubada do presidente genocida - Guilherme Gandolfi/Levante Popular da Juventude
O crescimento dos atos demonstra um potencial de fortalecimento da oposição frente a Bolsonaro

No último sábado (19), milhares de pessoas tomaram as ruas novamente pelo “Fora Bolsonaro” e reivindicando vacinação para todos, auxílio emergencial de R$ 600,00 enquanto durar a pandemia e investimento na educação pública.

Em comparação ao dia 29 de maio, quando ocorreu a primeira manifestação massiva pelo “Fora Bolsonaro”, os atos foram majoritariamente maiores, acontecendo no dobro do número de cidades. Eles ocorreram em 427 cidades, com a estimativa de 750 mil pessoas mobilizadas ao todo, e manifestações em 17 países.

Os atos também foram marcados por se diferenciar das manifestações bolsonaristas no que diz respeito aos cuidados sanitários. Podemos ver uma presença generalizada de pessoas com máscaras, distribuição de álcool em gel e, em muitos lugares, atos em fileiras assegurando o distanciamento social.

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A mídia tradicional, que no dia 29 de maio ficou em silêncio, dessa vez foi obrigada a cobrir as manifestações e também a demarcar a diferença da condução do ato. Nos diferenciando do negacionismo bolsonarista, as coberturas jornalísticas tiveram que afirmar que continuamente as referências nos carros de som reforçavam os cuidados sanitários.

No último artigo desta coluna, “Saiba porque a juventude voltará às ruas no dia 19 de junho pelo Fora Bolsonaro”, no qual apresentei um balanço do 29M e as motivações que levaram a população a ocupar as ruas massivamente em meio à pandemia.

Apresentei também a situação dramática do nosso país, tanto sobre a condução irresponsável da pandemia por parte do governo; quanto em relação às taxas altíssimas de desemprego, da fome, dos cortes na educação e da violência policial que, na periferia, tem matado o povo brasileiro dentro de sua própria casa.

Nada disso mudou e todos esses fatos geram revolta na população, que se colocou nas ruas para construir uma saída coletiva.

Considerando que neste 19 de junho o Brasil chegou a marca de meio milhão de mortes por coronavírus, é evidente e natural que a pandemia gere muito medo e insegurança nas pessoas.

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Mas a coragem é um sentimento coletivo, e foi a compreensão coletiva de não haver saída individual para atual crise que vivemos que levou as pessoas a pressionar nas ruas e fazer a política com P maiúsculo: ativa e com protagonismo popular.

Por isso, e quando também não há caminho de diálogo com o governo genocida de Jair Bolsonaro, que ocupar as ruas foi a única e última alternativa possível que encontramos para salvar a vida de toda população, especialmente de quem vive na periferia, morrendo pelo vírus, pela fome ou pela bala.

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Diferente do 29 de maio que teve presença quase exclusiva de jovens nas ruas, no 19 de junho houve um encontro de gerações que lutam, foi possível ver alguns idosos que já foram vacinados se somaram num único coro pelo “Fora Bolsonaro”.

Uma das cenas mais lindas da manifestação em SP foi encontrar pessoas com a camisa “geração 68 sempre na luta” e perceber como aquela geração que lutou contra a ditadura, que também arriscou sua vida pela nossa democracia, hoje novamente se coloca nas ruas junto com uma geração jovem que também está se arriscando e assumindo o desafio histórico do nosso tempo: de lutar por um país sem vírus, sem bala, sem fome e sem fascismo.

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No ato do Rio de Janeiro também tivemos a presença de Chico Buarque, no dia do seu aniversário de 77 anos ele emocionou muito as pessoas que participavam da marcha, também quem o viu nas redes sociais.

Um artista brasileiro tão importante quanto ele, demonstrando que nesse momento precisamos estar juntos na luta por um país justo, democrático e que proteja a vida de todo povo brasileiro, fez crescer nos corações o sentimento de que “amanhã vai ser outro dia”.

O crescimento dos atos demonstra um potencial de fortalecimento da oposição frente ao governo Bolsonaro, ampliando o desgaste que já vinha sendo constatado nas pesquisas.

Esse processo sem dúvidas é fundamental para avançarmos num impedimento das barbaridades desse governo, ampliando seu desgaste e acumulando forças para derrotá-lo. Por esse motivo, o dia 19 de junho é uma importante vitória política para as forças populares.

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Entendendo a delicadeza que é ocupar as ruas no meio de uma pandemia, uma alternativa para quem não podia participar nas manifestações foi mobilizar nas redes, cumprindo um importante papel de fazer ecoar a força dos atos e também de isolar o bolsonarismo nas redes, tanto no 29M quanto agora no 19J.

Tanto nas ruas quanto nas redes, a indignação popular se transformou em luta e acendeu uma chama de esperança nos corações e mentes inquietas que não abaixam a cabeça diante de tanta injustiça e barbárie.

Foi lindo de viver e de ver a força do povo unido pela vida, pela ciência, pelo trabalho, pela educação e pela derrubada do presidente genocida. Seguiremos em luta, e agora ainda mais fortes, com a mística alimentada e a certeza que só mudaremos os rumos do nosso país com povo organizado assumindo o comando da história.

 

*Jessy Dayane é militante e membro da coordenação nacional do Levante Popular da Juventude. Sergipana e ex-vice presidente da UNE, atualmente estuda Direito em São Paulo. Leia outros textos.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo