Só nos resta resistir, ocupar as ruas, assim como as redes sociais, e poder dizer basta ao genocídio
Um país em apuros. Milhões de pessoas desempregadas; crescimento da pobreza e da miséria; alta nos preços dos alimentos, combustíveis e do gás de cozinha; desmonte das políticas públicas sociais, culturais e ambientais; aparelhamentos dos órgãos investigativos do Sistema de Justiça. Só a título de exemplo, pois a lista é extensa.
Mas dia 19 de junho de 2021, além de todas essas razões, uma em especial tem motivado dezenas de milhares de brasileiros, movimentos populares, sindicatos e pessoas em geral do campo progressista a ocuparem as ruas em plena uma pandemia: a aliança entre o governo federal e a covid-19.
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Sim, esse vírus maldito, que já tirou a vida de milhões de pessoas em todo mundo, tem como maior aliado no Brasil o próprio Presidente da República e seus aliados tacanhos - explícitos e implícitos. E estão enganados aqueles que atribuem tudo que estamos vivendo às condições mentais da maior autoridade da nação.
Ou simplesmente por conta da sua inexperiência administrativa, uma vez exerceu mandatos no Poder Legislativo por mais de duas décadas sem trabalhar efetivamente. Embora o chefe de Estado e de Governo seja um dos principais responsáveis pela tragédia que vivemos, este ser desprezível e repugnante não age sozinho.
Há um projeto político envolvido, setores da sociedade, forças políticas, partidárias ou não, que se mobilizam e dão sustentação moral, assim como material àqueles que hoje estão no Poder Executivo Federal.
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Um projeto político de ampliação das desigualdades sociais, de aprofundamento da concentração de renda, da destruição do meio ambiente natural, do fortalecimento da cultura do ódio à diversidade étnico-racial, do retrocesso dos direitos das mulheres, negros, indígenas, ciganos, quilombolas, pessoas com deficiência, idosos , LGBTQIA+. Um projeto político que despreza a vida, a dignidade e a autoestima do povo brasileiro.
Desde o início da pandemia estamos entregues à nossa própria sorte, com um governo que institucionalmente promove a desinformação, que relativiza a gravidade do momento, que boicota a adoção de medidas eficazes de enfrentamento ao Novo Coronavírus.
Não é por acaso que são incentivados os ditos “tratamentos precoces”, os tais “Kit-Covid’s” sem nenhuma credibilidade científica e eficácia para essa doença, pois a partir desta ideia é desincentivada a adoção de práticas de distanciamento social ou uso de máscaras. E o pior de tudo, para rejeitar e em seguida adiar terrivelmente a aquisição das vacinas desenvolvidas para imunizar e salvar a população deste vírus.
Ou seja, adotou-se uma política oficial da morte, de propagação deste vírus. E há dois nomes para isso: eugenia e genocídio.
Eugenia, pois a perspectiva adotada por este governo é a seguinte: morrerá quem tem que morrer e sobreviverá quem merece viver, isto é, supostamente aqueles e aquelas que são mais fortes. Acontece que apesar de pessoas de diferentes classes, raças e origens sofrerem com essa doença, são os mais pobres, quem não tem opção e precisa andar em ônibus lotados para poder sobreviver, que está mais morrendo neste país.
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Genocídio, tendo vista que por conta da política deste governo, milhares de vidas que poderiam ser salvas foram perdidas. Inicialmente pelo desprezo quanto à gravidade da pandemia, confundindo a população e boicotando o seu enfrentamento pelos demais entes federais. E neste ano de 2021 em diante pela falta de vacinas. E não por incompetência da gestão ou por falta de recursos. Mas porque há um apego à morte como forma de fazer política.
Não se enganem: o fundo do poço pode ser ainda mais profundo se não derrotarmos esse projeto protofascista também conhecido como “bolsonarismo”, que vai para além da figura do atual presidente. Portanto, só nos resta resistir, ocupar as ruas, assim como as redes sociais, e poder dizer basta a este genocídio.
*Texto produzido pela Secretaria Nacional do Instituto de Pesquisa Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS).
** Leia outros textos da coluna Direitos e Movimentos Sociais. Autores e autoras dessa coluna são pesquisadores-militantes do Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais, movimento popular que disputa os sentidos do Direito por uma sociabilidade radicalmente nova e humanizada.
***Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo