Indígenas que promovem o Levante pela Terra, mobilização de mais de 35 povos contrários a retirada de direitos, subiram o tom contra o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e pedem que Marcelo Xavier deixe o cargo.
A demanda está em uma carta pública intitulada "Fora, Marcelo Xavier, da Funai" divulgada nesta quarta-feira (16), após centenas de lideranças serem recebidas com cassetetes, bombas de efeito moral e spray de pimenta pela tropa de choque da Polícia Militar (PM) enquanto protestavam pacificamente em frente ao prédio da Funai.
Funai criminaliza indígenas, dizem lideranças
"Trata-se da pior gestão da história da Fundação, que deixou de cumprir a função de proteger e promover os direitos dos povos indígenas para negociar nossas vidas e instrumentalizá-las em prol de interesses escusos e particulares do agronegócio, do garimpo ilegal", diz o documento.
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As lideranças acusam Xavier de defender "os inimigos dos povos indígenas" e editar atos administrativos contrários aos interesses dessa população.
"Um delegado que transformou a Funai na 'Fundação da intimidação do Índio', órgão que, hoje, mais se parece com uma delegacia política que persegue e criminaliza lideranças", destaca o manifesto.
Neste ano, a Funai pediu a abertura de inquéritos contra Sônia Guajajara, coordenadora da Associação dos Povos Indígenas Brasileiros (Apib), e Almir Suruí, liderança do povo Paiter Suruí, após críticas ao governo federal. As investigações terminaram arquivadas pela Polícia Federal (PF).
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A reportagem procurou a Funai para comentar as acusações, mas não obteve resposta.
Servidores da Funai se posicionam
A Associação que representa os servidores da Funai divulgou uma carta contrária à repressão da manifestação pacífica desta quarta-feira (16).
"A INA - Indigenistas Associados, associação de servidores da Funai, repudia o ataque promovido pela Funai contra indígenas em manifestação pacífica na frente da sua sede e reafirma sua posição ao lado dos povos indígenas", escreveu a entidade.
Reivindicações do Levante pela Terra
Segundo os integrantes do Levante pela Terra, a ação já reúne mais de mil indígenas, todos previamente vacinados contra a Covid-19. Novas delegações ainda devem chegar a Brasília, como forma de fortalecer a mobilização.
Conheça as reivindicações:
Retirada definitiva da pauta de votação da CCJC e arquivamento do PL (Projeto de Lei) 490/2007, que ameaça anular as demarcações de terras indígenas;
Arquivamento do PL 2633/2020, conhecido como o PL da Grilagem, pois caso seja aprovado, o projeto vai anistiar grileiros e legalizar o roubo de terras, agravando ainda mais as violências contra os povos indígenas;
Arquivamento do PL 984/2019, que pretende cortar o Parque Nacional do Iguaçu e outras Unidades de Conservação com estradas;
Arquivamento do PDL 177/2021 que autoriza o Presidente da República a abandonar a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), único tratado internacional ratificado pelo Brasil que aborda de forma específica e abrangente os direitos de povos indígenas;
Arquivamento do PL 191/2020 que autoriza a exploração das terras indígenas por grandes projetos de infraestrutura e mineração industrial;
Arquivamento do PL 3729/2004 que destrói o licenciamento ambiental e traz grandes retrocessos para a proteção do meio ambiente e para a garantia de direitos das populações atingidas pela degradação ambiental de projetos de infraestrutura, como hidrelétricas.
Edição: Leandro Melito