Coluna

O genocídio bolsonarista e as empresas que bancam a Copa América

Imagem de perfil do Colunistaesd

Ouça o áudio:

Seleção brasileira de futebol masculino estampa marcas bem conhecidas - Carl de Souza / AFP
As empresas que saíram da Copa América o fizeram porque entenderam ser ruim para os negócios

A vida é feita de escolhas. Acordamos todas as manhãs diante de escolhas. Pessoas com a mente mais ou menos saudável buscam o que genericamente se chama “felicidade”: a vida que vale a pena ser vivida. O dia que mereça ser vivido para sempre.

Vejamos as escolhas desses garotos milionários da seleção brasileira de futebol. “Somos contra a Copa América no Brasil, mas vamos jogar”, disseram em um comunicado estapafúrdio. Aplicaram em nós, brasileiros, o drible da vaca: jogadores para um lado, dignidade para o outro.

:: Copa América começa em Brasília, com estádios vazios, protestos e disputas judiciais ::

A Copa América é apoio empresarial e político à gestão genocida do governo Bolsonaro.

Abertura dos jogos: Brasil e Venezuela. Uma Venezuela, do ponto de vista esportivo, esquartejada. A delegação chegou ao Brasil com 13 contaminados pela covid-19. Só isso seria motivo para cancelar a partida e o torneio. Sem contar todas as outras escolhas que demonstraram a irresponsabilidade da Conmebol, dos patrocinadores, dos atletas e do governo brasileiro.

A Conmebol precisou montar uma operação de guerra para substituir os venezuelanos doentes. Também foram registrados casos de covid nos times da Bolívia e da Colômbia.

Nada disso importa. Os negócios não podem parar. Não importa a pandemia, as famílias destroçadas, as vidas perdidas, os órfãos, a fome. O negacionismo, no Brasil, é política de Estado, devidamente sustentada pelas empresas que patrocinam o bolsonarismo e os políticos que o adulam.

:: O "clima" da Copa América: delegação infectada, vacinação realocada e protestos ::

A vida é feita de escolhas. Inclusive no mundo dos negócios e do esporte. Se os patrocinadores que ostentam os melhores espaços publicitários na seleção, Itaú, Vivo e Nike, se comportasse como se comportaram no caso do inaceitável assédio sexual que derrubou o presidente da CBF, Rogério Caboclo, a Copa América não teria acontecido. Não teria acontecido, se as empresas tivessem se manifestado à favor da vida.

Por que condenaram o assédio e se calaram diante da pandemia? Simples: é mais fácil entregar os anéis do que perder os dedos. Bolsonaro e seu exército de meliantes adora quebrar dedos. São bons nisso. Fizeram história. Brilhante Ustra vive nas pulsões deste que chamam mito.

:: Às vésperas da Copa América, OMS pede “extremo cuidado” em realização de eventos ::

As empresas que saíram da Copa América o fizeram porque entenderam ser ruim para os negócios. Iriam associar a própria imagem a uma competição que não deveria estar acontecendo, pois se realiza quando nos aproximamos de 500 mil vidas perdidas, boa parte delas vitimadas pela política genocida do governo Bolsonaro.

Três empresas tiveram a dignidade de respeitar a dor das famílias enlutadas: Ambev, Diageo e Mastercard. Desistiram de apoiar a Copa América.

A seleção brasileira estampa marcas bem conhecidas. Elas estão em campo na Copa América. Cova América. Campo de morte, dor, tristeza, desanimo, desalento.

:: Opinião | Copa América: um torneio na hora errada, no lugar errado ::

Não importa o quão radical seja o capitalismo, os negócios também são feitos de escolhas. Até Hitler teve suas empresas de estimação. Até hoje, são lembradas pelo apoio logístico e financeiro ao nazismo.

Bolsonaro, seu exército de facínoras e suas empresas de estimação ficarão para sempre na memória do povo brasileiro.

 

*Marques Casara é jornalista especializado em investigação de cadeias produtivas. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Leia outras colunas.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo