As rádios Nacional do Rio de Janeiro e Rádio MEC entraram na minha vida cedo. Na minha casa, onde a televisão só chegou quando eu tinha oito anos, ouvia-se rádio.
A Nacional era a preferida, com programas de auditório, de humor, de esporte, o Repórter Esso, radionovelas e seriados, como “Jerônimo, o Herói do Sertão”, que eu adorava. E meus pais, fãs de música clássica, eram ouvintes da “Rádio Ministério da Educação”.
Não podia imaginar que, anos depois, trabalharia naquela emissora.
Na Nacional, convivi com personagens históricos: Daisy Lucidi, Aurélio de Andrade, Domício Costa e tantos outros, o que aumentou o meu apreço pelo patrimônio nacional.
Com a criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em 2008, incorporando a Radiobrás e a Fundação Roquette Pinto, conheci a equipe da MEC. Foi um prazer conviver com Lauro Gomes, Nelson Tolipan, além da brilhante nova geração.
Tanto a MEC como a Nacional não surgiram como rádios públicas, mas foi como tal que se consolidaram.
No mesmo ano em que Roquette Pinto doava sua rádio ao Ministério da Educação, a Nacional era inaugurada como emissora privada. Em crise desde a construção de sua sede, o suntuoso Edifício A Noite, o grupo foi estatizado. A partir daí, como emissora pública, a Nacional criou o padrão brasileiro de rádio popular com qualidade técnica e artística.
A rádio chegou a ter três orquestras, maestros como Radamés Gnattalli, e um elenco que incluía Emilinha Borba, Marlene e Cauby Peixoto.
Hoje é referência na divulgação da música popular, na cobertura esportiva, além de manter cobertura jornalística para todo o estado.
Nos anos 1960, quando a comunicação brasileira vivia a transição entre a era do rádio e o domínio da TV, a Rádio Nacional sofreu um grande baque, de natureza política. Durante o golpe de 1964, a emissora foi invadida por militares e teve 36 profissionais demitidos.
Divisor de águas na história da Rádio Nacional, essa ruptura só foi reparada com a anistia, em 1979, quando alguns sobreviventes do expurgo retornaram à emissora. Antes disso, em 1976, com a criação da Radiobrás, a emissora passou a integrar uma rede de comunicação pública capitaneada pela Rádio Nacional de Brasília. Rede que se ampliou, com a criação em 2005 da EBC, que incorporou a TV Brasil e as rádios MEC (AM e FM).
Um ano antes, a emissora teve seu famoso auditório restaurado e reinaugurado com a presença de estrelas de sua época de ouro, como os cantores Emilinha Borba, Marlene e Cauby Peixoto. Em 2012, a Nacional deixou o Edifício A Noite, seu endereço durante 76 anos, transferindo-se para as instalações da TV Brasil, na Avenida Gomes Freire, na Lapa.
Até os anos 1960, a Rádio MEC também tinha orquestra sinfônica – a atual Orquestra Sinfônica Nacional, vinculada à UFF – orquestra de câmara, quarteto de cordas, quinteto de sopros, coral, quinteto vocal e conjunto de música antiga.
Francisco Mignone, Radamés Gnattali, Guerra Peixe e Alceu Bocchino criavam obras para MEC. Depois, a rádio difundiu Edino Krieger e Marlos Nobre.
Nos últimos anos, sem deixar de ser “a rádio de música clássica do Brasil”, passou a veicular jazz, blues, trilha de cinema, além de investir na informação cultural. É um prazer ouvi-la.
Com trajetórias paralelas, a Nacional e a MEC são a expressão da rádio pública no Brasil. Não há sentido em privatizá-las. Muito menos acabar com elas.
Todos os países, seja qual for o regime, prezam por suas rádios públicas. Com as novas tecnologias, elas têm papel destacado na promoção da arte e da cultura.
*Paulo Virgilio Preard é jornalista com mais de 40 anos de experiência e destaque no setor cultural. Trabalhou na EBC, nas Rádios Bandeirantes e Roquette-Pinto e no SBT.
Edição: Mariana Pitasse