O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que governadores e o presidente Jair Bolsonaro “estão cientes” dos riscos que envolvem a realização da Copa América.
Mesmo com a pandemia de covid-19 fora de controle e com baixa porcentagem de brasileiros vacinados, Bolsonaro vem tratando o campeonato como questão de honra política. O tema foi amplamente debatido com o ministro em oitiva nesta terça-feira (8) na CPI da Covid.
E enquanto Queiroga tentava se esquivar de responsabilizar o presidente por acolher uma decisão já rejeitada em outros países, o Supremo Tribunal Federal (STF) entrou em campo.
A pedido da ministra Cármen Lúcia, o STF marcou sessão extraordinária para, na quinta-feira (10), decidir se acata pedido de suspensão da Copa América no Brasil.
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A sessão leva em conta a urgência de decidir a respeito da realização ou não da competição no país, em processos movidos pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), assinado pelo deputado federal Júlio César Delgado, e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM).
Cármen Lúcia é a relatora das duas ações e fez a solicitação da pauta, tendo seu pedido acolhido pelo presidente da Corte, Luiz Fux.
Cármen Lúcia apontou necessidade de “excepcional urgência” de o STF apreciar a hipótese da suspensão, já que a Copa América tem início no domingo, 13 de junho.
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Os ministros vão votar no plenário virtual. Segundo uma das ações do PSB, a “permissão” ou “facilitação” do governo para realização do evento representa “temeridade” e “descaso” por parte das autoridades em meio à fase mais aguda da pandemia.
Na outra ação, a CNTM argumenta que a vinda de delegações estrangeiras para o Brasil aumenta o risco de propagação da covid-19 no país. O torneio, se ocorrer, vai até 10 de julho e alojaria no país, por 28 dias, delegações e profissionais de imprensa de 10 países.
Futebol sim, vacina não
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), foi um dos senadores que mais pressionou Queiroga sobre o tema. Randolfe argumentou que o ministério teria a obrigação legal de preservar a saúde pública e, assim, atuar para frear a realização do evento.
“A questão da Copa América não é só a Copa América. Mas o presidente se envolveu. Ele não respondeu 53 e-mails da Pfizer (sobre propostas para aquisição de vacinas). Mas respondeu e-mail da Conmebol em meia hora. As sedes são Goiânia, Cuiabá e Brasília. Dados desta terça-feira dão em conta que Brasília tem positividade de 80% nos testes”, disse.
Os riscos de uma terceira onda de contágios e mortes por covid-19 também foram levantados. Isso, em um momento em que o país segue com média elevada de mortes, ainda reflexos da segunda onda.
“Dados dão conta que pelo menos 18 pessoas, apenas em Brasília, estão sem leito de UTI disponível, aguardando para serem tratados. Eu queria ter vacina. Se tivéssemos vacinas, eu seria o maior entusiasta do campeonato. O problema é que não temos vacina. Houve negação para termos vacinas”, completou o senador.
Não é por ai
Por sua vez, Queiroga buscou se esquivar da responsabilidade. Sempre quando questionado sobre a Copa América, durante todo o dia na CPI, o ministro foi evasivo.
“A decisão de ter ou não Copa não foi do Ministério da Saúde. Analisei apenas os protocolos. Estamos entre os cinco países do mundo que mais vacinou”, disse. Neste ponto, foi prontamente rebatido por Randolfe, já que a informação sobre o índice de vacinação não é preciso.
O Brasil possui um número absoluto alto de vacinas aplicadas, 105 mil. Entretanto, em comparação com sua necessidade, o país vacinou menos de 15% da população com duas doses, o que o coloca atrás de cerca de 60 outras nações em ritmo de imunização. Entre eles, nações como Guiana, Marrocos, Romênia, Uruguai e Chile.
Ainda na esteira da Copa América, Queiroga argumentou que os jogos sem público não representariam um evento de massa. Contudo, Randolfe foi ligeiro na contra-argumentação.
“Só jornalistas são 3 mil. O Brasil vai impedir argentinos, chilenos de vir para cá? Peruanos? Colombianos? O senhor garante que não haverá consequência sanitária?”, questionou.
Queiroga, então, limitou-se a dizer que “nenhum cidadão da América Latina está proibido de vir ao Brasil”.
Postura bolsonarista
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) voltou a falar sobre a postura bolsonarista de desdém com a pandemia. Ele reconheceu que Queiroga representa uma mudança no ministério, já que defende vacinas e o uso de máscaras.
Entretanto, Bolsonaro e seus aliados seguem promovendo aglomerações e divulgando mentiras sobre a pandemia.
“O governo continua a reproduzir a mesma prática protelatória e de descaso com a pandemia. Continua a protelação. Tivemos nos 77 dias em que Queiroga esteve à frente do ministério 167.502 mortes. A transmissão está disseminada e perdeu-se o controle. O desestímulo ao isolamento social, o exemplo na aglomeração. Tudo isso tem levado as pessoas a se infectarem. Não vamos ter alternativas para evitar uma terceira onda”, disse.
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Carvalho lembrou outras ações de Bolsonaro no sentido de atrapalhar o combate à pandemia; todas durante a presença de Queiroga na Saúde.
“Bolsonaro acionou o STF contra o lockdown enquanto estados estavam próximos ao colapso, ou colapsados. 90% dos gastos de Bolsonaro com viagens, foram gastos com aglomerações. Estatísticas do Facebook apontam Bolsonaro como maior divulgador da cloroquina do mundo. Isso serviu para dizer à população que vacina não era importante, que poderiam se aglomerar.”
Gabinete paralelo
O senador petista voltou a citar o gabinete paralelo de Bolsonaro para assuntos da covid-19.
“O que vemos no Brasil é um gabinete paralelo anti-vacinas com vários atores que passaram grande parte do tempo se articulando e definindo estratégias pró expansão da pandemia. Isso é grave e cruel. Precisa ser apurado. Quem comandou tudo isso foi o próprio presidente. Ele é que é o ministro da Saúde até hoje. Toda autorização e desautorização parte dele”, afirmou.
Sua intervenção se deu antes de o STF pautar o julgamento da suspensão da Copa América.
Rogério Carvalho apelou à responsabilidade de Queiroga, ao provocar que o ministro não seja “um Pazuello de máscara”. Carvalho o alertou sobre malefícios da cumplicidade com um governo com as características do bolsonarismo.
“Bolsonaro, influenciado por um gabinete antivacina, é o responsável pelas mortes e será responsável pela terceira onda. Diante de um presidente que age contrário a todas as recomendações e se transforma em causa da expansão da pandemia, ser ministro de um governo desse pode se transformar em cumplicidade.”