Mais de 25 milhões de pessoas irão às urnas para decidir o novo presidente do Peru no domingo (6). O segundo turno coloca frente a frente a herança da ditadura de Alberto Fujimori, representada por sua filha Keiko, e um projeto popular, de esquerda, liderado pelo professor e sindicalista Pedro Castillo.
Enquanto Keiko Fujimori tenta se eleger pela terceira vez, Castillo era visto como um "candidato improvável" até ser o mais votado no primeiro turno.
Trata-se de uma eleição polarizada e atravessada por uma forte campanha de medo, conhecida aqui como “terruqueo”, em que militantes de esquerda são tratados como perigosos ou terroristas sem nenhuma evidência concreta.
Uma das razões por trás desse cenário inédito é a pandemia. A crise sanitária se somou a um contexto de instabilidade, evidenciando a incapacidade do Estado para oferecer soluções à população e reforçando a sensação de cansaço e indiferença em relação à classe política.
O Peru registrou um incremento de 10% na pobreza em 2020, o que significa mais de 3 milhões de pessoas a mais: o nível mais alto da última década.
A vitória de Pedro Castillo, do partido Peru Livre, no primeiro turno surpreendeu a todos. A campanha dele se sustenta na identificação nos setores historicamente marginalizados do Peru, por sua origem no interior do país e sua trajetória como dirigente entre os professores.
Entre as principais propostas, está a convocatória de um referendo para uma reforma constitucional. Seu principal slogan é "Não podemos ter pobres num país rico."
Por outro lado, Keiko Fujimori promete uma série de benefícios sociais em resposta à crise social do Peru. Na campanha de 2016, ela tentou mostrar sua face mais democrata e renovada para tomar distância da herança familiar, mas aquele ensaio se diluiu rapidamente e hoje a campanha apela descaradamente ao núcleo fujimorista.
Nos últimos dez dias houve ao menos três grandes manifestações de rua, uma delas para repudiar a candidatura de Pedro Castillo e apresentá-lo como uma ameaça à democracia. As outras duas foram convocadas com o slogan “Keiko não vai”, que denuncia Keiko Fujimori e os crimes cometidos sob governo de seu pai, Alberto Fujimori.
As pesquisas, ao longo das semanas, apresentaram projeções variadas, mas hoje apontam Castillo com vantagem mínima sobre sua adversária. As autoridades eleitorais anteciparam que conheceremos os primeiros resultados oficiais nas últimas horas do domingo.