A Polícia Federal do Amazonas (PF) deflagrou na última quarta-feira (2) a 4ª fase da Operação Sangria, que investiga desvio de verbas públicas e corrupção na gestão da pandemia pelo governo do Amazonas. Foram seis mandados de prisão e 19 de busca e apreensão contra políticos e empresários em Manaus e Porto Alegre (RS).
O caso aumenta ainda mais a pressão política contra o Governador Wilson Lima (PSC-AM). Após a deflagração da operação, o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, Omar Aziz (PSD-AM), antecipou o depoimento de Lima de 29 de junho para a semana que vem, dia 10.
Operação Sangria 4
A principal suspeita investigada pela PF é a de conluio do governo estadual para favorecer empresários locais na prestação de serviços para o auxílio na pandemia em Manaus. A operação abrange quatro contratos firmados pelo estado ao longo do último ano, totalizando valores de R$ 22,8 milhões.
São estes: locação de um hospital de campanha para tratamento de pacientes com Covid-19, lavanderia hospitalar externa, diagnóstico por imagem e prestação de conservação e limpeza. Segundo o delegado da PF Henrique Albergaria, em todos os casos há indícios de fraude no processo de licitação, serviços e produtos contratados a preços superfaturados e pagamentos por trabalhos não realizados.
O processo de dispensa de licitação foi montado a fim de parecer um procedimento legal, afirma o policial. De acordo com a PF, o caso mais aparente de conluio é a dispensa de licitação para a contratação temporária de um hospital de campanha pelo Hospital Nilton Lins, que funcionou entre os meses de abril e junho de 2020, durante a primeira onda de Covid-19 no município.
“Antes mesmo da contratação, ele [o hospital] já havia sido previamente escolhido pelo governo do estado”, afirmou Albergaria, “De forma que o processo de dispensa de licitação foi montado a fim de conferir ares de legalidade e legitimidade ao ato”.
Já no caso dos demais três contratos, há indícios - segundo a PF - de que os prestadores de serviço foram escolhidos a portas fechadas antes mesmo do edital de licitação ser escrito. “O projeto básico, que é uma peça da fase interna da licitação [antes desta ser publicada], foi assinado depois da própria assinatura dos contratos”, cujos valores coincidentemente batiam os preços oferecidos pelas empresas, afirma a superintendente da Controladoria Geral do Estado (CGU) Mona Liza Ruffeil.
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Dentre os presos na última quarta, há figuras conhecidas e importantes da política e economia local, como o secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo. O secretário irá depor na CPI da Covid no próximo dia 15.
Em arquivo de áudio transmitido a secretários do governo pouco antes de ser preso, Campêlo disse: “Deixo o alerta quanto a politização da pandemia, com intenção de mandar a conta aos governos estaduais e especialmente aos secretários. Há de se fazer algo” — Marcellus Campêlo, secretário de saúde do Amazonas.
Outras figuras importantes que tiveram prisão decretada são os empresários Nilton Lins Júnior, Sérgio Chalub, Rafael Garcia da Silveira, Frank Andrey Gomes de Abreu e Carlos Henrique Alecrim John.
Lins Júnior também pode ser acusado de tentativa de homicídio, após realizar dois disparos contra os agentes da PF durante o cumprimento dos mandados. Na residência, os policiais apreenderam duas armas de fogo.
Por meio de nota, seus advogados afirmaram que ele pensou se tratar de assalto à sua residência. A PF afirma que todos os policiais estavam trajando uniformes e dirigindo carros da Polícia Federal.
O empresário é pai das irmãs Gabrielle e Isabelle Lins, que são investigadas por furar a fila de vacinação em janeiro.
Foram realizadas também operações de busca e apreensão em 19 endereços, incluindo a casa do Governador Wilson Lima. Até o fechamento desta reportagem, a PF ainda não havia divulgado a lista de objetos apreendidos. Mas já é possível confirmar que foram levados para a Superintendência da Polícia Federal computadores, celulares, armas de fogo e ao menos 13 carros.
Consequências
O principal afetado pela operação é o governador do Amazonas, Wilson Lima. Eleito sob o slogan de campanha “A bronca é comigo!”, o ex-apresentador de TV e político de primeira viagem encontra-se acuado.
Em Brasília, há interesse por parte do Governo Federal de incutir ao governo do estado toda a culpa pelo colapso da saúde em Manaus ocorrido em janeiro. É esperado também que Lima seja “fritado” em seu depoimento à CPI da Covid tanto pela base governista quanto pelos senadores e caciques políticos do Amazonas, Omar Aziz e Eduardo Braga (MDB-AM).
A situação não melhora muito no Amazonas. Parte da população acredita que Wilson Lima — homem de voz grossa e impositiva — fez menos do que poderia para prevenir a disseminação do vírus no estado, que teve novo aumento no número de casos e mortos ao longo de maio, bem como para proteger o comércio local. 58 dos 62 municípios do Amazonas enfrentam problemas causados pela maior cheia dos rios da história do estado. Na Assembleia Legislativa, há deputados que pedem abertamente seu impeachment.
Edição: Vinícius Segalla