Sem rodeios

Governo impõe sigilo sobre cachê pago para amigo de Bolsonaro em campanha da Caixa

Locutor de rodeios, Cuiabano Lima abriu manifestação pró-presidente e é presença constante no Palácio do Planalto

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Jair Bolsonaro e Cuiabano Lima em reunião no Palácio do Planalto, em julho de 2019 - Foto: Reprodução / Facebook

O governo brasileiro decidiu manter sob sigilo o cachê pago a Andraus Araújo de Lima, o Cuiabano Lima, locutor de rodeios e amigo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), contratado para protagonizar a campanha nacional da Caixa Econômica Federal sobre o auxílio emergencial, que está no ar desde o dia 15 de maio deste ano.

O Brasil de Fato havia solicitado à Caixa, via Lei de Acesso à Informação (LAI), o valor pago ao locutor de rodeios pela campanha e foi comunicado pela estatal que “o contrato de direito de uso de imagem prevê o caráter sigiloso do valor do cachê”.

Na resposta, o banco explica que decisão é respaldada “juridicamente em virtude do interesse estratégico relacionado à campanha publicitária realizada.”

Ainda de acordo com a resposta, o valor do cachê deixará de ser sigiloso 90 dias após a contratação de Cuiabano Lima, mas a Caixa não informa a data exata do acordo. O documento é assinado por Rodrigo Ferreira Vicente, Superintende Nacional de Publicidade e Propaganda da estatal.

Cuiabano Lima havia publicado em seu perfil no Instagram, alguns vídeos mostrando os bastidores da gravação da campanha. Porém, após a repercussão, o locutor apagou as imagens.

Apuração do Congresso em Foco mostra que em 2020 Cuiabano Lima recebeu R$ 36 mil para estrelar outra campanha da Caixa, dessa vez sobre a Mega Sena da Virada.


Além de fotos, a campanha da Caixa com Cuiabano também prevê um filme / Foto: Reprodução

Amigo do presidente

Em seu perfil nas redes sociais, Cuiabano ostenta diversas fotos com Jair Bolsonaro, inclusive na posse do presidente, quando foi convidado para a celebração íntima no Palácio do Planalto, ao lado da família do mandatário.

No Instagram, a primeira-dama Michelle Bolsonaro comenta fotos de Valéria Cristina Rodrigues Dacal, companheira do locutor de rodeios.

No dia 02 de junho de 2019, Bolsonaro abriu seu gabinete para receber Lima e posaram para fotos. O encontro rendeu também um vídeo divulgado no canal do Palácio do Planalto no Youtube, onde o locutor chama o mandatário de “homem raro”.

Em 31 de janeiro de 2020, Lima organizou um encontro de cantores sertanejos com Bolsonaro. O intuito da reunião era que os artistas prestassem uma homenagem ao presidente, mas a categoria aproveitou a oportunidade e entregou uma lista de pedidos ao mandatário. Entre os desejos, o fim da meia-entrada em espetáculos.

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“Nós já fizemos isso antes. Quando ele foi diplomado, também fizemos um almoço em que foram também Gian e Giovani, e o Bruno e Marrone”, explicou Lima na época, em entrevista à Folha de S. Paulo.

No dia 15 de maio deste ano, Cuiabano Lima abriu uma manifestação em defesa do governo Bolsonaro. Coube ao locutor anunciar a fala do presidente durante o ato. Em entrevista ao site Congresso em Foco, ele afirmou que não recebeu cachê para participar da manifestação e reforçou os laços com o ex-militar.

“Eu estava lá por livre vontade. Fui pelo agro. Eu sou produtor rural e estava representando a classe do agronegócio. Tenho uma fazenda no Triângulo Mineiro e integro a classe de produtores que está ajudando o Brasil. Ninguém parou”, afirmou Cuiabano Lima, que é proprietário das empresas LCG Empreendimentos Imobiliários Ltda e Dacal & Lima Alimentos Ltda. Na última, tem como sócio Valéria Dacal, sua companheira.

Cuiabano Lima também acumula o cargo de secretário de Turismo de Barretos, no interior de São Paulo. Ele foi empossado no dia 1 de janeiro de 2021, ao lado da atual prefeita, Paula Lemos (DEM), e recebe um salário de R$ 10.185,79.

Outro lado

Procurado pelo Brasil de Fato, Cuiabano Lima não foi encontrado para comentar a campanha. Até o fechamento desta matéria, a Caixa Econômica Federal não havia se manifestado. O Brasil de Fato questionou o banco se não há conflito de interesse na contratação de um amigo de Jair Bolsonaro para a campanha e pediu que a estatal justifique o sigilo imposto ao cachê do locutor.

Edição: Leandro Melito