A dificuldade de acesso a celular e internet dificultou à população mais pobre realizar o cadastro do auxílio emergencial, de acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O levantamento do Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV, aponta que a exclusão digital atingiu boa parte das classes D e E.
Segundo o estudo, 20% dos entrevistados, que compõem a faixa mais pobre da população, não tinham o celular para pedir o benefício, enquanto outros 22% alegaram falta de acesso à internet. O levantamento usou como base o painel TIC Covid-19 do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).
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“A tecnologia pode estar acessível, mas precisa ser utilizada para se transforme no bem-estar e consiga concretamente representar alguma coisa, como nesse caso, ajudar na obtenção do auxílio. As pessoas ainda têm dificuldade de baixar aplicativos em geral, mas boa parte apontou dificuldade especificamente em baixar o aplicativo da Caixa”, explicou Lauro Gonzales, coordenador do Centro de Estudos da FGV.
Os chamados excluídos digitais, que mais precisam do auxílio emergencial, deixaram de receber parcelas de R$ 600 ou R$ 1200. A falta de acesso a um celular é um motivo que afetou 20% dos usuários das classes D e E na comparação com o total de pessoas que não conseguiram receber o auxílio, que somam 7%.
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Flávia Lefrève, integrante da Coalizão Direitos na Rede, do coletivo Intervozes, aponta que o isolamento social foi determinando para afastar mais as pessoas do acesso à internet. “Muita gente das classes C, D e E usavam bastante a internet dos seus locais de trabalho, das praças públicas e esse acesso ficou restrito durante a pandemia”, afirmou.
Exclusão digital
O Congresso rejeitou, na última terça-feira (1º), o veto do presidente Jair Bolsonaro no projeto de lei 3477/2020, que prevê oferecer internet gratuita para alunos e professores da rede pública. Na votação no Senado, foram 69 votos favoráveis à derrubada do veto. Na Câmara dos Deputados, foram 419 a favor e 14 contra.
A proposta prevê o repasse de R$ 3,5 bilhões do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações aos estados e municípios para levar internet aos professores e estudantes da rede pública. Entretanto, no último mês de março, Bolsonaro vetou, alegando que a proposta não apresentava “a estimativa do respectivo impacto orçamentário e financeiro”.
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O governo federal prevê digitalizar o acesso ao Bolsa Família e, de acordo com Lauro Gonzales, o projeto de Bolsonaro aumentar mais a exclusão digital entre a população pobre. “O uso da tecnologia sobretudo tem nuances e obstáculos importantes, quando a gente considera a realidade da baixa renda. Existe uma discussão, hoje, no governo, de digitalização de programas de transferência de renda inclusive do Bolsa Família. E esses mesmos obstáculos do auxílio emergencial vão se aplicar também à realidade do Bolsa Família, pois estamos falando do mesmo público”, alertou.
Os especialistas defendem que é preciso combater as restrições básicas, que os mais pobres enfrentam, para que eles não sejam ainda mais prejudicados. “É importante que o pessoal dos Ministérios do Planejamento, da Economia e das Comunicações se reúnam e em enfrentem as dificuldades que boa parte brasileiros sofrem. Estamos diante de uma fossa digital enorme que torna ainda mais vulnerável a situação dessas pessoas”, acrescentou Flávia Lefrève.