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Covid-19: farmacêuticas faturam R$ 1 trilhão em 2021

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Desigualdade global em relação à vacinação coloca as farmacêuticas diante da pressão pela quebra de patentes - Tânia Rêgo/Agência Brasil
A indústria farmacêutica trabalha pelo doente crônico, não pela cura

Vigora um consenso nos porões da indústria farmacêutica: remédio bom não é o que cura, mas o que te obriga a tomá-lo pelo resto da vida. Não fique com raiva. Não é nada pessoal. São apenas negócios.

Em uma entrevista ao jornal espanhol La Vanguardia, o Prêmio Nobel de Medicina, Richard J. Roberts, explicou como funciona o esquema: a indústria farmacêutica trabalha pelo doente crônico, não pela cura. “A pesquisa é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crônica a doença”, explica.

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Cabe lembrar, portando, que a medicalização da vida faz parte dos jogos do biopoder que nos condiciona, do nascimento à morte, às regrinhas do deus-mercado: a vida para o consumo.

Não são poucas as histórias de fórmulas medicamentosas que são escondidas pela indústria, a favor de outras fórmulas, mais eficientes do ponto de vista dos negócios. Abordei o tema em outra coluna, envolvendo a queridinha das vacinas, a Pfizer. Segundo apurou The Washington Post, a Pfizer escondeu informações sobre um remédio que poderia reduzir em 64% o risco de uma pessoa contrair Alzheimer. Como não daria lucro, não foi divulgado.

A cura não é o melhor negócio. A indústria não pensa em você, mas nos acionistas e nos bônus milionários gerados por bons resultados.

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Quebra de patentes

A indústria vai faturar, neste ano, perto de 1 trilhão de reais com a venda de vacinas contra a covid-19. Os negócios estão concentrados em países que podem pagar pelo imunizante. Há muita desigualdade global em relação à vacinação e as farmacêuticas se veem diante da pressão pela quebra de patentes das vacinas.

Mais de 60 países foram à Organização Mundial de Comércio pedir a suspensão temporária de patentes e outras ferramentas médicas contra a covid-19, ao menos até a pandemia estar sob controle. O grupo de países não inclui o Brasil, que adotou uma arcaica posição a favor da manutenção das patentes.

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A União Europeia deve apresentar, neste mês de junho, uma proposta intermediária e que de algum modo facilite a produção dos imunizantes. Alguns especialistas dizem que a quebra de patentes pode não funcionar, devido a problemas de parque tecnológico nos países. As próximas semanas serão decisivas.

A geração de dividendos, obviamente, é fundamental para a manutenção da pesquisa e da indústria. A questão é que estamos lidando com um setor que manipula informações e que se importa mais com o lucro do que com a cura.

A indústria nos quer dóceis e submissos. Bem-vindo(a) ao deserto do real.

 

*Marques Casara é jornalista especializado em investigação de cadeias produtivas. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Leia outras colunas.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo