Milhares de manifestantes ocuparam as ruas das 27 capitais e mais de 100 cidades pelo interior do país, neste sábado(29), para cobrar o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, auxílio emergencial no valor mínimo de R$ 600,00 e maior efetividade no plano de imunização contra a covid-19.
As mobilizações, convocada pelas Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, ficaram marcadas pelo cumprimento de medidas de segurança sanitária para evitar a contaminação do coronavírus. Os manifestantes preservaram o distanciamento físico e usaram máscaras.
Apesar da gravidade da pandemia, os movimentos populares decidiram ocupar as ruas para denunciar a escalada do negacionismo do governo federal e o descaso com a saúde da população. Além disso, os protestos pressionaram os parlamentares pela apreciação urgente dos pedidos de impeachment contra Bolsonaro que estão "encalhados" na Câmara dos Deputados.
Com as ruas tomadas
No Recife (PE), a tropa de choque da Polícia Militar de Pernambuco reprimiu a manifestação com tiros de bala de borracha e spray de pimenta. Ao menos, três pessoas ficaram feridas. Uma delas é a vereadora do Recife, Liana Cirne (PT), que foi atingida à queima-roupa por um jato de spray de pimenta, disparado por um policial de dentro da viatura.
Parlamentares, líderes sindicais e dos movimentos populares repudiaram a agressividade da polícia ao interromper uma manifestação pacífica.
“Os policiais acertaram um homem que estava sozinho e não participava do ato. Como pode? Essa ação revela o despreparo e o autoritarismo da Polícia Militar de Pernambuco”, informou Paulo Rocha, presidente da Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco.
O dirigente estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de Pernambuco, Paulo Mansan, fez críticas ao Governo do Estado de Pernambuco.
"É inadmissível o que o governo [de Pernambuco] fez. Usar da força desproporcional contra um ato pacifico, que estava respeitando todas as normas. Não podemos aceitar ser recebidos dessa forma pela polícia", disse Paulo Mansan, da Coordenação do MST.
Por sua vez, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), se pronunciou por meio das redes sociais informando que irá abrir uma investigação e apurar as responsabilidades pela ação truculenta da polícia. Os responsáveis pela agressão à vereadora do Recife, Liana Cirne, serão afastados. A Polícia Militar não emitiu nota a respeito do caso e se apoiou no posicionamento do Governador do Estado.
Mobilização unificada
A mobilização do #29M contou com a participação de partidos de esquerda, sindicatos, entidades estudantis, quilombolas, indígenas, movimentos de trabalhadores do campo e entidades de torcidas. A avaliação é de que foi a maior mobilização nacional unificada desde 2017, durante os atos contra o ex-presidente Michel Temer.
“Os atos foram exitosos, do ponto de vista da mobilização. É claro que tem muito mais gente em torno da reivindicação da vacina, do auxílio emergencial de R$600,00. Hoje foi apenas uma amostra do que a sociedade vem reivindicando. Foi um esquenta depois de muito tempo longe das ruas, respeitando as medidas sanitárias, um marco do ponto de vista da mobilização no Brasil”, analisou Rud Rafael, da Frente Povo sem Medo e da Coordenação Nacional do MTST.
Em Brasília (DF), mais de 2 mil manifestantes seguiram em passeata pela Esplanada dos Ministérios ainda pela manhã. Em Belo Horizonte (MG), 18 mil pessoas participaram da mobilização. Em São Paulo (SP), o ato se concentrou na Avenida Paulista, no turno da tarde, e reuniu entre 80 e 100 mil pessoas, de acordo com os cálculos feitos pela organização do ato.
No Rio de Janeiro (RJ), o ato se concentrou na Avenida Presidente Vargas e reuniu uma multidão. Houve distribuição de 2 mil máscaras e álcool. Em diversos momentos, as lideranças relembravam a importância do distanciamento social.
“Foi um ato muito importante em defesa da vida de todos e todas brasileiras. Cada um com seu cartaz, feito em casa, protestando por vacina no braço, comida no prato, auxílio emergencial de 600 reais e fora genocida”, explicou Lígia Giovanella, uma das manifestantes cariocas.
No Sul do país, em Porto Alegre (RS), os atos se concentraram na parte da tarde e reuniram mais de 30 mil pessoas na capital gaúcha. Em Curitiba (PR), os manifestantes se concentraram na praça Santos Andrade e seguiram pelas ruas centrais da cidade. Ao todo, mais cinco mil pessoas participaram da mobilização.
No Ceará, houve mobilização em Fortaleza e também no interior, na cidade de Juazeiro do Norte. Na capital, os manifestantes se organizaram no período da tarde, na praça da Gentilândia e seguiram até a praça da Igreja de Nossa Senhora de Fátima. Eles distribuíram kits de prevenção ao coronavírus, com máscaras PFF2 e álcool. Em Juazeiro do Norte, o ato foi pela manhã e foi dispersado poucas horas após o início por uma ação da Guarda Municipal e do Polícia Militar do Ceará.
“Estamos aqui, com todos os cuidados, porque tem gente demais morrendo, gente demais nos hospitais, tem gente demais passando fome por causa desse desgoverno e nós estamos aqui porque é muito importante mostrar nossa indignação”, disse a professora Magali Almeida, de Fortaleza.
Em Porto Velho (RO), uma carreata cortou a cidade entre a Zona Sul e Zona Norte. Já em Belém, no Pará , cerca de 3 mil pessoas ocuparam as ruas da cidade. A concentração foi na praça da República e depois o ato seguiu até o Largo de São Brás.
Edição: Daniel Lamir