Pandemia

Recusa de vacina para atingir imunidade de rebanho é tema do Programa Bem Viver

Para médico, intensão era disseminar coronavírus para que população brasileira desenvolvesse imunidade de rebanho

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Bolsonaro desincentivou isolamento social e uso de máscaras - Créditos da foto: Arquivo Hospital das Clínicas
Cientistas alertaram que imunidade de rebanho não existe e tentativa causaria muitas mortes

A intensão de disseminar o novo coronavírus para que a população brasileira desenvolvesse a chamada imunidade de rebanho, possibilidade refutada diversas vezes pela ciência, pode ser a principal justificava para a inação do governo federal na compra de vacinas para a Covid-19, deixando empresas como a Pfizer por meses sem respostas em meio à maior crise sanitária do país. Esta possibilidade foi debatida na edição de hoje (17) do Programa Bem Viver.

Testemunhas ouvidas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 deram elementos para reforçar a percepção que havia uma intenção do governo federal em incentivar a contaminação em massa, justificando que assim a pandemia passaria rapidamente e os efeitos econômicos seriam menores. A esse cenário se somam diversas falas do presidente Jair Bolsonaro contra as políticas de contenção do vírus e campanhas publicitárias produzidas pela secretaria de comunicação contra o isolamento social.

“Parece haver um projeto, uma justificativa para essa inação. A gente ainda não sabe o que exatamente justificou essa postura, mas parece forte a ideia que o governo acreditava na imunidade de rebanho. Todos os cientistas sérios falaram que isso não existe e que se fosse acontecer seria às custas de muito sofrimento e de muitas mortes. É o que vemos: muitas mortes, mas não a imunidade de rebanho”, afirmou o médico da família e comunidade Aristóteles Cardona, em entrevista ao programa.

Pelo argumento imunidade de rebanho, já refutado na comunidade científica, defende-se que com um maior número de pessoas contaminadas o vírus deixaria de circular e de infectar tantos pacientes. No entanto, já é comprovado que o novo coronavírus se modica e que pode acometer a mesma pessoa mais de uma vez.

Na última semana, a CPI da Covid-19 do Senado ouviu o gerente geral do Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, que afirmou ter realizado uma primeira reunião com o governo brasileiro para venda de vacinas ainda em maio de 2020. A partir daí foram apresentadas outras seis propostas ao longo de meses e apenas a última teve resposta. Com essa postura o país deixou de aplicar 4,5 milhões de doses de dezembro de 2020 até o fim do primeiro trimestre deste ano.

Leia mais: O que o representante da Pfizer, Carlos Murillo, trouxe de novo para a CPI da Covid?

Vacinação efetiva

No município de Serrana, no interior de São Paulo, onde toda a população acima de 18 anos foi vacina contra Covid-19 para um estudo do Instituto Butantan sobre a eficácia da Coronavac, os resultados são animadores: comparando os 10 primeiros dias de maio e o mesmo período de março, quando não havia ninguém imunizado, o número de óbitos caiu 85,7%.

A fase de imunização foi concluída em abril e aproximadamente 65% da população foi vacinada. Este índice ainda é abaixo do que especialistas apontam como seguro para controle da pandemia, estimado entre 70% e 80%.

Ainda assim, os números são esperançosos. Em março deste ano 19 pessoas morreram de Covid-19 em Serrana. Em abril, foram seis óbitos. E, agora, nos primeiros 10 dias de maio, uma pessoa morreu por causa da doença, segundo dados da Secretaria de Saúde de Serrana. O Instituto Butantan ainda vai publicar um resultado devidamente embasado, apresentando todas as conclusões.

“Esta é uma importante oportunidade para o Brasil aprender que a vacinação em massa é essencial para o país conter o vírus, reduzir internações e óbitos, retomar a economia e melhorar a imagem do país internacionalmente”, diz Janaina de Moura, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP de Ribeirão Preto. “A vacinação em massa pode fazer o país ter um nome associados ao combate eficaz da pandemia, ajudando na retomada do turismo, no aumento das exportações e na entrada de investimentos.”

Leia mais: CPI reúne elementos que comprovam omissão do governo na compra de vacina contra covid

Homenagem a Ruth Souza

Considerada uma das maiores atrizes do teatro e cinema brasileiro, Ruth de Souza completaria 100 anos na semana passada, em 12 de maio. A primeira dama negra do teatro, como era conhecida, faleceu em 2019, aos 98 anos.

Nascida no Rio de Janeiro, em 1921, Ruth de Souza mostrou interesse pelas artes cênicas desde criança e começou a atuar profissionalmente aos 24 anos. Foi estrela de cinema, protagonista de novelas e diva do teatro. Em 1954, foi nomeada como melhor atriz no festival de Veneza pela sua participação no filme Sinhá Moça.

“Dona Ruth é uma personagem da nossa história muito importante que precisa ser lembrada e mostrada para as novas gerações, principalmente para atores e atrizes negras, pois ela ao lado de Grande Otelo (também ator) abriram as portas dos cinemas, teatros e da televisão para que atores negros pudessem ter seus espaços e não fossem apenas coadjuvantes”, diz o pesquisador Breno Lira Gomes, que foi curador da mostra “Pérola Negra: Ruth de Souza”, exposta pelo Centro Cultural Banco do Brasil em 2016.

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Edição: Sarah Fernandes