Militantes e organizações do movimento negro realizaram ato contra o racismo na última quinta-feira (13), na Praça da Piedade, em Salvador. Organizado pela Coalizão Negra por Direitos e entidades parceiras, as ações aconteceram em pelo menos 100 cidades do país, em todas as capitais e no Distrito Federal.
Realizado no dia em que se completam 133 anos da abolição da escravidão no Brasil, a mobilização nacional “13 de maio de lutas” pediu o fim do racismo, do genocídio negro, das chacinas e pela construção de mecanismos de controle social da atividade policial.
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Com o lema “Nem bala, nem fome, nem Covid. O povo negro quer viver!”, a organização do ato também chamou atenção para a chacina de Jacarezinho, ocorrida no Rio de Janeiro, onde 28 pessoas foram mortas durante uma operação policial. Além de reivindicarem justiça para o assassinato dos jovens Bruno e Yan, que após tentativa de furto de carne no supermercado Atakarejo, no bairro de Amaralina, em Salvador, teriam sido entregues a traficantes por funcionários do estabelecimento. Bruno e Yan foram encontrados mortos em outro bairro da capital baiana.
Vilma Reis, da Coalizão Negra Por Direitos, diz que se trata de um ato importante pois há muito tempo os movimentos negros veem o 13 de Maio como um dia nacional de luta contra o racismo:
“Mas hoje, diante da matança de jovens negros, diante da humilhação desse governo genocida em cima de nosso povo, onde tudo o que eles tem para oferecer ao nosso povo é bala, bala na carne. Nós estamos aqui para dizer que a nossa posição é por vacina, a nossa luta é pelo direito de viver e nosso povo não está tendo o direito de viver”.
Para Vilma, não há nada para comemorar no 13 de Maio. “Nós estamos fazendo a campanha ‘Se tem gente com fome, dá de comer’, e a nossa palavra de ordem é “nem bala, nem fome, nem COVID: o povo negro quer viver”. Isso é muito importante porque um país que destrói a vida de 60 a 65 mil jovens negros em média por ano assassinados e 70 a 75 mil desaparecem, isso é muito grave para um país, nenhum país pode conviver com uma matança dessas”, conclui.
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“Hoje, a gente está na praça da Piedade, praça que é símbolo de tanta luta do povo negro, em mais um dia 13 de maio, que para nós sempre carregou um peso de luta, de resistência, de denúncia das artimanhas do racismo sustenta nesse país até hoje”, afirma Elder Reis, diretor de Combate ao Racismo da União Nacional dos Estudantes - UNE.
Para Elder, o momento que o Brasil vive é aprofundado pelas contradições do racismo e marcado pelo extermínio, fome, extrema miséria, na marca da desassistência e falta de vacina para a população.
“Nesse dia a gente vem aqui denunciar essa falsa Abolição, que nunca se completou no Brasil, porque o racismo, desde antes da abolição e mesmo depois, continua sendo um sistema lucrativo. O capitalismo, a elite econômica deste país, lucra com a nossa morte, lucra com o nosso trabalho precarizado, lucra com a nossa fome. É simbólico e revoltante ver que dois homens valem menos do que cinco quilos de carne de charque, de carne seca”, relata Elder.
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Elder diz ainda que a revolta com os acontecimentos racistas se conecta com a luta daqueles que vieram antes e que tombaram lutando e resistindo. “Por isso nós não vamos nos calar, estamos saindo nas ruas nesse momento mesmo em um contexto que a pandemia se aprofunda, em que todo dia é um novo recorde de mortes diárias, mas vamos às ruas porque não queremos morrer nem por fome, nem por coronavírus e muito menos pelo extermínio do Estado, pelo braço armado, pela polícia militar, pela bala que nunca foi perdida, muito pelo contrário sempre teve endereço certo”.
E finaliza: “Das ruas não sairemos, vamos as ruas até a derrubada do governo Bolsonaro. E vamos continuar nas ruas mesmo depois da derrubada do governo Bolsonaro, porque a gente quer um projeto de sociedade onde pessoas negras não valham menos que um quilo de carne, onde pessoas negras não sejam mortas. Queremos um Brasil onde exista dignidade, onde exista Vida, onde exista sonhos e esperança. Onde seja possível alcançar e conquistar tudo aquilo que a gente quiser”.
*com colaboração de Caroline Anice.
Fonte: BdF Bahia
Edição: Elen Carvalho