Crise interna

Ministra de Relações Exteriores da Colômbia renuncia em meio a polêmicas contra greve

Claudia Blum era chanceler desde 2019, quando ocupou o cargo no lugar de Carlos Holmes Trujillo, vítima da covid-19

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Claudia Blum renunciou ao cargo de ministra de Relações Exteriores depois de receber críticas por sua gestão internacional durante a paralisação nacional na Colômbia - Elcolombiano

O ministério de Relações Exteriores da Colômbia confirmou a renúncia "irrevogável" da ex-ministra Claudia Blum, nesta quinta-feira (13). Blum enviou uma carta ao presidente Iván Duque sem dar detalhes dos motivos do abandono do cargo. A vice-ministra de Assuntos Multilaterais, Adriana Mejía, deverá assumir a pasta de maneira temporária. Claudia Blum é a segunda ministra do gabinete colombiano a renunciar depois do início da paralisação nacional, no dia 28 de abril.

O primeiro foi o ex-ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla. Sua saída do governo se deu depois que fracassou sua tentativa de aprovar uma reforma tributária que aumentaria os impostos sobre serviços públicos. A reforma era uma das medidas criticadas pelo movimento grevista. 

"Expresso minha gratidão pela enorme confiança que me outorgou ao nomear-me para esta pasta tão importante", escreveu Blum. A psicóloga e ex-presidenta do Senado ocupou a função de chanceler desde novembro de 2019, quando substituiu Carlos Holmes Trujillo, vítima da covid-19.

Desde o último domingo (9), meios de comunicação locais comentavam sobre a possível destituição da chanceler pelas críticas à sua gestão advindas da comunidade internacional, durante as duas últimas semanas de greve geral. 

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A situação ficou mais grave quando se tornou público que Blum estava difundindo um vídeo criticando as manifestações. O material audiovisual, intitutlado "o que está acontecendo na Colômbia", está em inglês, claramente direcionado a um público estrangeiro, e acusava o senador colombiano Gustavo Petro e o presidente venezuelano Nicolás Maduro de aliar-se a grupos narcoterroristas para promover os protestos. 

Além disso, a ex-ministra afirmou que as declarações do governo argentino e da Alta Comissionada para os Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet. que criticaram a repressão do Estado colombiano contra a paralisação nacional, seriam uma "ingerência".

O governo colombiano também recebeu um comunicado da Organização das Nações Unidas (ONU) denunciando a brutalidade policial, que foi acompanhado de críticas de vários representantes internacionais até mesmo da Casa Branca - aliada histórica da Colômbia. Blum então convocou uma reunião com as missões diplomáticas presentes em Bogotá para esclarecer os fatos. 

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No encontro, realizado no dia 5 de maio, a ex-chanceler afirmou que os manifestantes eram "vândalos que agrediam os cidadãos e as forças de segurança". No entanto, uma série de vídeos publicados em redes sociais, assim como denúncias de ONGs de direitos humanos e da própria Missão de Paz da ONU na Colômbia, confirmam os excessos cometidos pela polícia contra os manifestantes. 

Duque havia encarregado Blum de viajar à Europa para visitar Espanha, Bélgica, Corte de Haia e reunir-se com representantes da ONU e da União Europeia para dialogar sobre a situação do país. 

Gestão polêmica

Em abril, representantes do partido Verde convocaram Claudia Blum para dar explicações ao Congresso pela nomeação de políticos de maneira irregular para assumir funções diplomáticas. 

"Os embaixadores que nos representam parecem ter uma agenda própria e não a agenda do país", declarou a deputada Katherine Miranda na época. 

Outras polêmicas da sua gestão estariam vinculadas a áudios divulgados, ainda 2019, de conversas com o embaixador estadunidense em Bogotá expressando críticas à gestão anterior de Holmes Trujillo (Exteriores) e Guillermo Botero (Defesa), assim como ao Departamento de Estado dos EUA. 

Mais tarde, com o início da pandemia, em 2020, Blum voltou a ser reprovada pela demora em atender os colombianos que estavam varados em outros países. 

Por fim, Blum apoiou abertamente a reeleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, o que a colocaria em uma posição incômoda em relação à administração Biden. 

Edição: Vinícius Segalla