O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), assumiu o mandato em caráter definitivo no último dia 1º e vem demonstrando que seu estilo de governar é muito parecido com o do ex-governador Wilson Witzel (PSC), que sofreu processo de impeachment e perdeu o cargo por denúncias de desvio na saúde pública.
As denúncias que envolvem Witzel também têm o atual governador como alvo. As delações do ex-secretário de saúde Edmar Santos que embasaram parte do processo de impeachment do ex-governador mencionam Castro. Mas até então havia dúvidas se Castro seria julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), instância para governadores, ou no Tribunal de Justiça do Estado, onde são julgados vice-governadores.
::Após tentar adiar interrogatório, Witzel depõe e chora em defesa contra impeachment::
O ex-secretário de Saúde disse, em delação premiada, que o então vice-governador integrou o esquema criminoso que direcionou recursos da saúde para alguns municípios com o objetivo de obter apoio de alguns deputados para o governo estadual. Castro, em resposta, já acusou Edmar Santos de ser "um réu confesso".
Com Bolsonaro
Em duas situações recentes, deputados estaduais alertaram o governo para a excessiva aproximação de Castro com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O primeiro episódio ocorreu às vésperas da posse no Palácio Guanabara, quando o governador desrespeitou uma decisão da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que vetou a privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae).
A concessão da Cedae à iniciativa privada faz parte do acordo para o Rio de Janeiro adiar o pagamento de dívidas com a União. Mas a Alerj argumenta que o Regime de Recuperação Fiscal (RRF), assinado em 2017, não foi renovado. Logo, a estatal não poderia ser privatizada. Castro, contudo, atendeu à vontade de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, e levou o leilão adiante.
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Jacarezinho
Na semana passada, a guerra do Executivo estadual e federal com os poderes Judiciário e Legislativo ficou novamente patente. As polícias civil e militar protagonizaram uma das operações mais letais na história do Rio de Janeiro. A ação, que ocorreu em desrespeito a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), deixou 28 mortos no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio.
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Segundo o jornalista Luís Nassif, em seu Jornal GGN, as articulações de Castro, no comando da polícia, poderiam mostrar vínculo e aliança com Bolsonaro. Com a queda de Witzel, Castro nomeou o delegado Allan Turnowski para o comando da Polícia Civil e o coronel Rogério Figueredo de Lacerda para a chefia da Polícia Militar. Ambos tem poder absoluto, já que a Secretaria de Segurança Pública foi extinta.
Os dois secretários são citados no depoimento do miliciano Orlando Curicica para o Ministério Público Federal. O criminoso disse que o secretário da PM ganhava um mensalão na época em que comandava o 18º Batalhão em Jacarepaguá, na Zona Oeste, região mais dominada pelas milícias. O chefe da Polícia Civil recebeu propina do bicheiro Rogério Andrade, ainda segundo Orlando Curicica.
Na semana passada, após a perda definitiva do cargo, Witzel disse, em entrevista à revista "Época", que Cláudio Castro se distanciou dele no momento em que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) o afastou da chefia do Executivo estadual. O movimento seguinte de Castro, ainda segundo Witzel, foi se aproximar de Bolsonaro. Castro, agora, tenta firmar uma aliança para tentar se reeleger em 2022.
Novo impeachment
Na segunda-feira (10), o deputado federal David Miranda (Psol) protocolou na Alerj um pedido de abertura de processo de impeachment contra Castro. O parlamentar afirma que o governador cometeu crime de responsabilidade por descumprir decisão do STF e autorizar as operações. Em junho do ano passado, o ministro Edson Fachin proibiu incursões da polícia no Rio durante a pandemia.
Em sinal de apoio a Castro, Bolsonaro elogiou a operação policial no Jacarezinho. O movimento de Castro em direção a Bolsonaro, sobretudo agora que começam a se formar as alianças para as eleições de 2022, é o mesmo realizado por Witzel no passado. Até então um juiz desconhecido que abandonou a carreira para se aventurar na política, Witzel surfou na onda bolsonarista de 2018 e se elegeu governador.
Castro aposta na mesma estratégia e quer deixar para trás seu passado de vice-governador de Wilson Witzel, que hoje se diz traído por Bolsonaro e pelo agora governador do estado.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Eduardo Miranda